A Polícia Civil de Mato Grosso prendeu, nesta quinta-feira (28), 13 pessoas na Operação Grãos de Areia.
Elas são acusadas de atuar em crimes de furto e fraude na entrega de cargas no sul do estado e de misturar areia a cargas milionárias de soja exportadas para a China.
Além das prisões, a polícia apreendeu armas de fogo, munições, computadores, cabeças de gado, jóias, dinheiro e 18 veículos.
Ao todo foram cumpridas 88 ordens judiciais, entre mandados de prisão, busca e apreensão e sequestro de bens.
Durante as buscas domiciliares foram apreendidos dois tratores, dois semirreboques, duas pás-carregadeiras, cinco camionetes (duas S-10 e quatro Hilux), dois veículos de luxo (uma Ranger Rover e um Chevrolet Camaro), além de um Toyota Corolla, um Fiat Palio, um barco e uma motocicleta 1.000 cilindradas.
Também, duas armas de fogo (uma pistola 9 mm e um revólver calibre 32), mais de 100 munições (84 calibre 9 mm e 21 calibre 32), computadores, notebooks, bloqueadores de sinal, chaves de veículos, joias e mais de R$ 22,6 mil em dinheiro, além de 99 cabeças de gado que estão entre os bens sequestrados.
Dois alvos dos mandados de prisão ainda foram autuados em flagrante pelo crime de posse ilegal de arma de fogo.
As diligências começaram de manhã. Os mandados foram expedidos pela Sétima Vara Criminal de Cuiabá como resultado da terceira fase de investigação iniciada pela Delegacia Especializada de Roubos e Furtos (Derf) Rondonópolis no mês de março de 2021, quando 10 pessoas foram presas pelos crimes de receptação, roubo e adulteração de cargas de soja em grão e em farelo, além de milho.
Cargas adulteradas
Na ocasião, o grupo criminoso foi surpreendido na posse de carga de farelo de soja avaliada em mais de R$ 130 mil, sendo constatado que o grupo pretendia transformar a carga roubada em diversas outras cargas adulteradas que seriam entregues no terminal de cargas ferroviário de Rondonópolis.
Na ação foram mobilizados mais de 112 policiais das Delegacias de Rondonópolis, Itiquira, Guiratinga, Alto Araguaia, Jaciara, Diamantino, GCCO, contando com apoio das equipes de unidades da Diretoria de Atividades Especiais (Defaz, Deccor, GOE, DRE, Dema e Polinter), Diretoria Metropolitana (Derf Cuiabá, Derf Várzea Grande, DERRFVA, Diretoria de Inteligência, Delegacia de Estelionato), Centro Integrado de Operações Aéreas (Ciopaer), além do Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco) de Rondonópolis.
Investigações
A investigação conduzida pela Derf Rondonópolis com apoio da GCCO apurou a atuação do grupo envolvido no furto e na adulteração das cargas, tendo como vítima um terminal ferroviário de cargas, principal polo de infraestrutura logística do estado de Mato Grosso, responsável pelo escoamento de boa parte da safra do estado.
Com o prosseguimento das investigações apurou-se a existência de uma organização criminosa atuante na cidade de Rondonópolis, composta por empresários do ramo de transporte e comércio de grãos, agenciadores, motoristas de caminhão e funcionários da empresa vítima, num total de 30 pessoas identificadas envolvidas com a prática dos crimes furto qualificado, estelionato e associação criminosa.
As investigações apontaram que o grupo criminoso vem atuando em Rondonópolis desde o ano de 2020, tendo desviado aproximadamente 9 mil toneladas de soja e farelo entre os meses de janeiro a março de 2021 (correspondente ao período investigado), com valor estimado de R$ 22,5 milhões em produto subtraído em apenas três meses.
Para prática dos crimes foram constituídas empresas do ramo de transporte e comércio de grãos a fim de que pudessem realizar o transporte, adulteração das cargas e posterior comércio da mercadoria desviada com aparência de licitude, sendo identificadas oito pessoas jurídicas envolvidas no esquema.
Modo de ação
No primeiro tipo de crime, o farelo de soja era carregado por integrantes do grupo criminoso em uma empresa em Primavera do Leste com destino ao terminal de cargas em Rondonópolis. Então era realizada a clonagem de outro caminhão com mercadoria adulterada nas empresas da organização criminosa.
O caminhão clonado adentrava no pátio da empresa com a conivência de funcionários envolvidos no esquema e descarregava a mercadoria adulterada. O caminhão com a carga sem adulteração retornava para a empresa do investigado, onde era descarregada e posteriormente comercializada por valores abaixo do preço de mercado, gerando um lucro aproximado de R$ 100 mil por carga desviada.
Aliciamento de motoristas
Em outra frente criminosa, com foco nos produtos soja a granel e farelo de soja, era realizado o aliciamento dos motoristas de caminhão. As cargas sem adulteração provenientes de todo o estado Mato Grosso eram levadas até a empresas dos investigados, onde eram adulteradas com areia para serem entregues no terminal ferroviário.
Foram identificados pela polícia oito empresários, nove motoristas, seis funcionários da empresa vítima, além de sete outras pessoas responsáveis pelo agenciamento, contabilidade e comércio das cargas desviadas.
A organização criminosa oferecia grande quantidade de dinheiro para que funcionários da empresa vítima fossem coniventes com as fraudes e, quando não conseguiam cooptar os funcionários, proferiam ameaças de morte como forma de intimidação.
Difícil identificação de material adulterado
Segundo o delegado da Derf Rondonópolis, Santiago Rozendo Sanches, o grupo criminoso aproveitava da grande quantidade de grãos transportados pelo terminal de cargas (média de mil caminhões dia) para a consumação dos crimes. “Após a descarga dos vagões de trem e mistura do produto é de difícil constatação que se trata de material adulterado”, explicou o delegado.
O delegado titular da GCCO, Vitor Hugo Bruzulato Teixeira, destacou objetivo da operação é a desestabilização da organização criminosa e cessação dos crimes praticados pelo grupo, “As investigações seguem em andamento para apuração da responsabilidade dos receptadores (pessoas que adquiriram grãos do grupo investigados), além de possíveis crimes de lavagem de dinheiro e possíveis crimes tributários praticados pelos investigados”, disse.
Nome da operação
A operação foi batizada pela polícia de grãos de areia em razão do principal insumo utilizado para adulteração de cargas. Um dos investigados e líder do grupo criminoso adquiriu em três meses areia suficiente para construir um prédio de 30 andares, mesmo não atuando no ramo da construção civil, restando apurado que se tratava da matéria prima utilizada nos crimes.