A colheita da soja está em pleno andamento no país, em ritmo mais acelerado do que a média dos últimos cinco anos.
Apesar da quebra em algumas regiões por conta do clima, principalmente em Mato Grosso e no Paraná, ainda se espera que o Brasil registre a segunda maior safra da história, atrás apenas das 154,6 milhões de toneladas colhidas no ciclo 2022/23.
Por conta da provável redução de oferta brasileira do grão, o produtor esperava que os preços futuros fossem subir, mas não é o que está acontecendo.
Fator Argentina
De acordo com o analista Carlos Cogo, da Cogo Assessoria em Agronegócio, parte importante do que explica esse cenário é a produção argentina, que pode chegar a 53 milhões de toneladas, ou seja, 32 milhões de toneladas acima do registrado na temporada passada.
“O Brasil não está perdendo 32 milhões de toneladas. Ainda que a safra brasileira seja de 140 milhões de toneladas, o efeito disso no mercado, nessa conjuntura, seria extremamente limitado. É aquela ideia de olhar para o umbigo e achar que só tem soja brasileira”.
Cogo enfatiza que o Brasil é realmente o player mais importante do mundo, com 38% da produção global de soja.
“No entanto, a Argentina responde por 13% da produção e isso pode causar um rebalanceamento na oferta. Os estoques de passagens globais são os maiores da história, a relação entre estoque e consumo, que é uma variável que os traders usam muito para medir tamanho de preço futuro, se ele está ajustado, é super confortável. Tem soja estocada no mundo para quatro meses de consumo, ou seja, é um estoque muito confortável em termos de grãos”.
Estratégias equivocadas
O analista lembra, ainda, que os prêmios dos portos brasileiros estão em baixissímos níveis em função da oferta de safra antecipada. “Como o produtor não tem armazém, está deslocando tudo para o porto, é uma tempestade perfeita, infelizmente”.
Segundo Cogo, o produtor se ressente neste momento porque traçou estratégias equivocadas, já que não vendeu a soja antecipadamente quando os valores externos estavam em patamares elevados, de 13 a 14 dólares por bushel.
“Os produtores apostaram em uma alta da soja quando não havia evidências para isso porque sabia-se que a média [de produção] do Sul teria uma grande chance de ser recorde, mesmo com as quebras existentes hoje no Brasil”.
Piora nos preços da soja
O caminho do preço futuro da soja é em direção aos 11 dólares por bushel, na opinião de Cogo.
“O Sul do Brasil está colhendo uma safra recorde e, mais adiante, todos os indicativos apontam para os Estados Unidos plantando mais soja esse ano, com crescimento de 4% a 5% na área. Assim, virá uma safra norte-americana recorde. Desta forma, o estoque é reforçado e a soja vem para a linha média dos últimos dez anos, de 11 dólares e 26 cents por bushel”, conta.
A notícia boa, conforme o analista, é que a procura global por soja não deve diminuir. “Fala-se muito que a China estaria entrando em um processo de retração, com um ritmo menor, que a economia estaria em situação mais delicada. No entanto, se olharmos os volumes que eles vêm importando, isso [redução nas compras] não está acontecendo. Não está havendo um enfraquecimento de demanda. Inclusive a projeção de demanda para 2024 é maior do que do ano passado. Em nível global a demanda de soja deve crescer esse ano 5,4%, sendo que cresceu 0% no ano passado”.
Rentabilidade da safra
Já em relação à rentabilidade da safra 2023/24, que está sendo colhida, Cogo traz um cenário de margens apertadas ou já negativas.
“O break even, ou seja, aquele ponto onde a receita da soja equipara com o custo está muito alto, está na casa das 56 sacas, por exemplo, no Cerrado para pagar o custo operacional, tudo aquilo que é desembolsado pelo produtor para pagar fertilizantes, sementes, insumos, mão de obra, despesas da lavoura. Se alguém, por acaso, tiver colhendo 53, 54 sacas por hectare já não consegue nem pagar a conta da despesa da safra”.
Melhora das cotações da soja
Segundo o analista, a chegada do La Niña pode melhorar as cotações da soja em Chicago. “Estamos com 60%, 65% de chances de um La Niña começando entre junho e setembro [deste ano]. O fenômeno atingiria o meio da safra norte-americana e começaria já a fazer uma precificação de risco para a próxima safra sul-americana”.
Cogo lembra que o mercado futuro não precifica a quebra de safra, mas sim o risco de quebra. “Se essa quebra começar a ser prenunciada de alguma forma, ora colocando em risco as lavouras dos Estados Unidos com períodos de seca e depois complicando o Sul do Brasil novamente, vai ser precificado e pode tirar a soja desse viés de 11 dólares e por bushel e retomar os 12 dólar, ou talvez até mais”.
Custos para a próxima safra
O custo de produção não deve subir na próxima temporada, conforme o analista da Cogo Assessoria em Agronegócio.
“O custo pode ficar até 1% a 2 % abaixo do que foi em 23/24, mas o break even desse negócio de soja para 24/25 para as regiões Sul e Sudeste está tranquilo. É um break even de 51 sacas, sendo que se consegue colher uma média de 60 a 65 sacas nessas regiões. Contudo, para o Cerrado, se mantém o break even em Mato Grosso de 56 sacas. Então, é preciso se produzir muito bem, mas se tiver um arrendamento na equação, a conta já não fecha”.