Com o início do plantio de soja no Brasil, a hEDGEpoint Global Markets realizou análise do cenário para o esmagamento no país no próximo ano.
A expectativa por recorde na produção, inicialmente estimada em 162 milhões de toneladas pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) não é, necessariamente, a garantia de ano positivo à indústria. Isso porque a consultoria lembra que ampla oferta é apenas uma parte do quadro. A outra é a demanda por farelo e óleo.
Segundo a empresa, desde que o impacto da Peste Suína Africana (PSA) no mercado global de carne passou, a demanda por farelo tem crescido a taxas menores no Brasil. Enquanto isso, os mandatos de biodiesel voltaram a crescer, o que significa um aumento no consumo de óleo de soja.
Aumento da mistura de biodiesel
A indústria pede o “retorno” para o B15 para março do próximo ano, a partir do atual B12. A regulamentação de 15% de biodiesel, apesar de nunca ter sido alcançada, deveria estar em vigor no início de 2023 de acordo com um plano de progressão estabelecido em 2018.
“O problema é que não se pode ter óleo de soja sem também obter farelo. No entanto, se o consumo deste último está lento, o que fazer com o excesso de farelo produzido?”, indaga o analista de Inteligência de Mercado de Grãos e Oleaginosas da hEDGEpoint, Pedro Schicchi.
Segundo ele, em 2023, o Brasil conseguiu exportar seu excedente devido à escassez de farelo argentino. “No entanto, com um El Niño ativo, esperamos que o país se recupere. Como tal, o mercado pode não estar tão necessitado do farelo brasileiro em 2024”, complementa.
O que é possível esperar para o próximo ano?
A primeira coisa a observar é como os mandatos vão progredir. Como mencionado, a indústria está pedindo o B15. Embora os representantes do governo tenham reforçado o compromisso de aumentar o consumo de biodiesel, eles têm evitado fornecer datas e números precisos até agora, pondera o analista.
“Acredita-se que um aumento deva ocorrer, mas talvez não tão alto quanto o segmento está solicitando”, considera Schicchi.
Com 56 milhões de toneladas de soja esmagadas no ano (em comparação com 53,5 milhões estimados em 2023), seriam geradas 11,2 mi de ton de óleo e 43 mi de ton de farelo.
“Se for assumido B14 ao longo do ano, haveria um balanço relativamente apertado de óleo de soja, o que deveria levar a menores exportações”, afirma o analista.
Segundo ele, levando em consideração os dados do USDA, o excedente exportável de óleo de soja da Argentina deve crescer em cerca de um milhão de toneladas de 2023 para 2024. Se houver um aumento para B14 no Brasil, as exportações devem diminuir na mesma quantidade. “Em outras palavras, apesar de uma safra melhor na Argentina, os dois países podem ter aproximadamente a mesma quantidade de óleo para exportar no total”, diz.
Para Schicchi, as exportações de farelo brasileiro também prosperaram com duas safras ruins consecutivas na Argentina. No entanto, é difícil esperar o mesmo em 2024 com uma produção de soja muito melhor no país.
A diferença com o óleo de soja é que o consumo doméstico não está crescendo muito. “Portanto, mesmo projetando algum crescimento, haverá muito mais excedente exportável no Brasil, somando-se à maior disponibilidade na Argentina e exercendo pressão descendente no mercado. Acredita-se que seja o óleo que deva fazer grande parte do trabalho para manter as margens de esmagamento atrativas no Brasil em 2024. Caso contrário o cenário de farelo manterá o apetite dos esmagadores sob controle”, diz.