O analista da consultoria Safras & Mercado Paulo Molinari sugere que as instituições brasileiras coordenem um trabalho de direcionamento de plantio, com orientações, inclusive, de redução de área para evitar safras de soja gordas e rendas magras.
De acordo com ele, após três anos atípicos, o preço do grão está voltando ao patamar normal e o produtor precisa se adaptar a essa nova realidade.
“A média normal do preço da soja é entre US$ 10 e US$ 9 por bushel na Bolsa de Chicago, mas, às vezes, aqui no Brasil, nós esquecemos, ou não queremos lembrar, dessa realidade. Se temos US$ 12 , US$ 11,50, devemos considerar que estamos acima da média”.
Altas dos custos
Molinari lembra que nos últimos anos foram registradas algumas anomalias de alta de custos no Brasil.
“Pagou-se um arrendamento acima de 20 sacas de soja por hectare, os preços das máquinas quase dobraram, alguns químicos e fertilizantes não voltaram aos preços pré-pandemia e, na onda da alta, o produtor comprou terra, máquina, se endividou mais no longo prazo e as curvas de preços se ajustaram. A situação do produtor realmente não é fácil. Em regiões onde as perdas foram maiores, ver a sua safra quebrando e o preço caindo, causa pânico, infelizmente”.
Segurar ou vender a soja?
Para Molinari, segurar a produção neste momento é como um jogo de pôquer, ou seja, é uma aposta. “Tem produtor, por exemplo, pegando EGF no banco pagando 1,5% ao mês para poder segurar a soja. Se dá um problema na safra norte-americana, se está salvo, do contrário, se aumenta a dívida um pouco mais”
Segundo o analista, a solução a longo prazo é o Brasil encontrar mecanismos de controle de sua oferta, visto que bater recordes anuais de produção só é válido quando o agricultor consegue rentabilidade.
“Se o Brasil soubesse controlar a sua oferta seria bem mais fácil de resolver, mas, infelizmente, só queremos aumentar área [plantada] e isso não ajuda no preço. As instituições no Brasil precisam coordenar um trabalho de direcionamento de plantio, de direcionamento de safra porque, senão, nós ficamos assim sempre perdidos. As instituições seriam muito mais úteis para o setor se indicassem para o produtor, por exemplo, que no ano que vem eles precisam reduzir 20% a área plantada. Isso causaria muito mais impacto do que mandar o produtor segurar soja neste momento e se endividar para poder segurá-la”, considera Molinari.
Desafios da próxima safra
A curto prazo, pensando na safra 2024/25, o analista prevê muitas dificuldades para o produtor e desafios ainda maiores para fechar as contas. Para ele, investir em outra cultura também é arriscado, visto que nesta safra já houve aumento de gergelin, sendo que não há garantia de venda.
“Quais as alternativas para a próxima safra? Não existem. Podem pensar no algodão, mas não é todo mundo que planta. Pode acabar estragando também o mercado de algodão [o aumento na produção]”.
Segundo ele, o ano será bastante difícil, com a rentabilidade do produtor comprometida. “A primeira coisa para tentarmos corrigir em 2025 é acertar no custo de produção. Não dá para pagar 20 sacas de soja por hectare de arrendamento. A segunda coisa são os fertilizantes; alguns, como o KCL e a ureia, já voltaram a preços pré-pandemia. Então, talvez, agora seja um bom momento de vender a sua soja. O preço não é aquele que você deseja, mas, fazendo uma boa compra de insumos, vai conseguir se preparar em 2025 para não entrar o ano no vermelho, com um preço [de soja] que ainda não tem sinalização de alta”, finaliza o analista.