Após as atualizações da Conab e do USDA sobre a safra brasileira de soja, a hEDGEpoint Global Markets também revisou suas estimativas, mostrando o que está por trás do novo número.
O levantamento de janeiro da consultoria aponta a temporada 2023/24 em 153,4 milhões de toneladas, contra 160,1 milhões no início de dezembro.
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“Por trás desse declínio está um dezembro quente e seco, como já é de conhecimento do mercado. Ainda assim, há nuances que precisam ser discutidas”, aponta o analista de Grãos e Óleos Vegetais da companhia, Pedro Schicchi.
Segundo ele, a maior parte das áreas de soja está passando pelos estágios reprodutivos, que são os mais críticos e que designam a produtividade do grão.
“A soja pode ser bastante resistente a condições climáticas ruins no início do ciclo, mas é nessas etapas de desenvolvimento que ela se torna mais vulnerável. Como se sabe, a disponibilidade hídrica suficiente é especialmente crucial nesse estágio, mas as temperaturas mais baixas também ajudam”.
Condições climáticas
Schicchi lembra que, de modo geral, as condições climáticas em dezembro não foram as melhores, visto que as temperaturas foram bastante altas durante o mês e a precipitação, em média, ficou abaixo do necessário.
“Mais calor significa mais evaporação, o que acentua a questão da falta de água, que certamente afetou as safras este ano. Ainda assim, na segunda metade do mês houve melhora, uma tendência que parece continuar em janeiro. A temperatura nessas duas primeiras semanas tem sido muito mais amena e, portanto, benéfica para as culturas. Além das temperaturas mais baixas, a precipitação também melhorou”, explica o analista.
Para muitas áreas, essa melhora pode não trazer maiores produtividades, pois os danos sofridos já eram irreversíveis quando o clima começou a melhorar, lembra ele.
“Entretanto, para muitas outras áreas, ainda há tempo, e as melhores condições podem impedir que a produção nacional continue em queda”.
Saúde das plantas de soja
A hEDGEpoint considerou em sua revisão de safra o Índice de Vegetação por Diferença Normalizada (NDVI).
“O NDVI é usado para quantificar o ‘quão verde’ está a vegetação e é útil para entender a densidade da vegetação e avaliar as mudanças na saúde das plantas (USGS). Embora não seja perfeita, a medida tem uma boa correlação com a produtividade”.
Assim, o analista da empresa afirma que levando esse dado em consideração, há dois fatores a serem observados.
“O primeiro é que regiões importantes, como Mato Grosso, Goiás, Minas Gerais e o Matopiba, por exemplo, estão todas abaixo dos níveis do ano passado. Portanto, muito provavelmente terão resultados piores, o que justifica a tendência recente dos números de safra”, aponta Schicchi.
No entanto, para a consultoria, o segundo fator e que pode suavizar o tom de quebra de safra é que o NDVI está, em sua maior parte, em torno da média de 20 anos na maioria dos estados do Brasil.
“Para fins de comparação, podemos ver quão abaixo da média estavam as safras do Rio Grande do Sul em 21/22 e 22/23, ambas com grandes quebras de safra de soja para o estado”, diz.
Assim, para a hEDGEpoint, embora certamente haja motivos para os cortes de safra vistos por entidades públicas e privadas, “é melhor ter cuidado com números ‘muito baixos'”.