Produtor, com certeza você já se perguntou se vale a pena ter um drone em sua lavoura. Será que esses equipamentos são realmente vantajosos em uma cultura que, por natureza, já possui alto nível tecnológico envolvido na produção? Quantos hectares um drone usado para pulverização é capaz de cobrir em um dia, considerando a curta janela de aplicação? Qual o preço dos equipamentos mais básicos, utilizados apenas para inspeção visual, e dos mais complexos e robustos, com sensores multiespectrais que permitem identificar a infestação da planta logo no início?
Conhecidos popularmente como drones, os veículos aéreos não tripulados (VANTs) já fazem parte do cotidiano de diversos setores produtivos. No agronegócio não tem sido diferente, ainda que os dados oficiais não demonstrem isso. Segundo levantamento de agosto de 2021 da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), dos quase 86 mil aparelhos registrados, menos de dois mil estão cadastrados para uso agrícola. Números que, ao que tudo indica, são subnotificados, mas que podem mudar com a criação da Portaria 292 do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), publicada nesta sexta-feira (24) no Diário Oficial e que traz regras para a aplicação de agrotóxicos e afins, adjuvantes, fertilizantes, inoculantes, corretivos e sementes por meio de drones.
Assim, o Projeto Soja Brasil entrevistou especialistas da área para fornecer as respostas às perguntas do primeiro parágrafo. No entanto, antes de mais nada, é importante entender a relevância econômica desses equipamentos. De acordo com o estudo Drone Market Report 2021-2026, o mercado global de VANTs vai saltar de US$ 26,3 bilhões neste ano para US$ 41,3 bilhões em cinco anos, representando uma taxa de crescimento anual de 9,4%.
E o agro tem sido responsável por uma fatia de mercado maior do que a sugerida pelos registros oficiais. Para o pesquisador da Embrapa Instrumentação (São Carlos, SP), Lúcio André de Castro Jorge, a falta de fiscalização leva à disparidade entre o número de equipamentos em uso e os reportados à Anac. “Existem diversos produtores rurais que compram o equipamento, mas não o registram, não o regularizam. Fizemos uma pesquisa pela Embrapa em 2020 em parceria com o Inpe e o Sebrae com mais de mil entrevistados, entre produtores e prestadores de serviço, sobre o uso de tecnologias digitais no campo. Esse levantamento apontou que 59% dos produtores usavam drone”, afirma.
De acordo com ele, os números oficiais da Agência de Aviação também são baixos porque muitos dos compradores são, na realidade, prestadores de serviço. “A compra direta pelo agricultor é realmente menor, restrito aos grandes produtores que têm condições de contar com engenheiros e equipe capacitada para trabalhar com essa tecnologia”, aponta. Assim, presume-se que os equipamentos estejam sendo usados no agronegócio em uma escala bem maior do que a sugerida, visto que um mesmo prestador de serviço pode ter uma carteira considerável de clientes.
Investimento na tecnologia
Mas quanto um produtor precisa desembolsar para adquirir um drone próprio? “Existem diversos modelos de drones que podem ser aplicados ao agro. Temos desde aqueles com uma câmera simples que só tiram foto e acompanham a produção de cima, como se fossem o ‘olho do dono’ e custam de R$ 7 mil a R$ 10 mil e os mais sofisticados, com sensores mais caros que identificam pragas e doenças na lavoura. Esses podem ultrapassar os R$ 50 mil”, conta. “Agora se o uso for para pulverização, que é uma demanda muito grande no Brasil, visto a crescente substituição dos pulverizadores costais, pode custar de R$ 150 mil a R$ 300 mil, dependendo do modelo”, explica.
A diretora do segmento de Agroindústria da TOTVS, Angela Gheller, também diz que o investimento nesse tipo de tecnologia é variável. “O preço depende de alguns fatores, como aquisição do equipamento, se será usado para sensoriamento ou aplicação de insumos, por exemplo, além da certificação para pilotar e o custo da câmera de bordo. São diversos modelos e com objetivos diferentes. O custo do processamento da imagem, que é o serviço para interpretar e gerar os mapas de recomendação, também entram na conta”, detalha.
Segundo ela, o principal benefício do uso de drones no campo é a possibilidade de gerar imagens aéreas de qualidade e amplitude em qualquer território de plantio e, a partir dos registros, analisar tanto o atual estado do cultivo quanto as possíveis melhorias. “Com isso, uma série de atividades do cotidiano podem ser não apenas automatizadas, como também aprimoradas. Um exemplo é o controle de pragas. O escaneamento aéreo traz informações instantâneas sobre infestações e saúde das plantações, incluindo até o nível de nutrição. As fotos e vídeos feitos com os drones trazem precisão sobre o estado de toda a colheita, 100% digital e em tempo real”, aponta.
O pesquisador da Embrapa detalha que os VANTs monitoram a alteração química da planta. “Então, quando a planta é contaminada, seja através de ácaro, fungo ou bactéria, dependendo da doença, no momento em que ela começa a reagir quimicamente é possível identificar a contaminação precocemente”.
Eficiência dos drones na pulverização
Antes da Portaria 298 do Mapa, os veículos aéreos não tripulados autorizados para a pulverização das lavouras eram apenas os de Classe 3, com peso máximo de decolagem de até 25 kg e que carregam cerca de 15 litros de defensivos agrícolas e afins. Neste cenário, o pesquisador da Embrapa detalha que esses equipamentos são capazes de cobrir até dois hectares em cerca de cinco minutos. “Considerando o trabalho de ir, jogar o fertilizante, voltar, carregar com mais produto e recarregar a bateria, esse drone tem rendimento médio de 35 a 40 hectares por dia. Esse número não é maior, obviamente, porque a pulverização precisa obedecer certos horários do dia e condições climáticas para acontecer”, contextualiza.
No entanto, começam a ser aceitos para a atividade os drones de Classe 1 (peso máximo de decolagem maior que 150 Kg) e 2 (peso máximo de decolagem maior que 25 Kg e até 150 Kg). “Até antes dessa nova portaria, quando a legislação não permitia o uso de VANTs maiores, havia uma tendência forte de se usar enxames de drones para pulverizar grandes áreas. Ou seja, até cinco dessas unidades voavam operadas por um único piloto. A maior fabricante do mundo na área, a DJI, fornece aparelhos para serem usados dessa forma e a Anac já ajustou sua legislação para permitir equipamentos operando nessa modalidade de trabalho. Então, a tendência era aumentar o número dos drones pulverizadores ao invés de investir em equipamentos maiores”, afirma.
Portanto, cinco drones Classe 3 juntos conseguem, ao menos em teoria, cobrir até 200 hectares em um único dia. De acordo com Angela, da TOTVS, alguns estudos sobre o uso de drones preveem que um equipamento (não especificado modelo/tipo) consegue abranger até 13 hectares em uma hora, enquanto um pulverizador costal faz 0,1 hectare no mesmo intervalo de tempo. “Isso comprova que o ganho de produtividade que um drone traz para a produção agrícola é imenso”, afirma.
Produtividade na lavoura
Para a diretora da TOTVS, é inegável que tecnologia aumenta a produtividade geral do trabalho no campo, seja pela automatização de todos os processos da lavoura, pela aplicação de IoT nas máquinas agrícolas ou pelo cruzamento de dados para a tomada de decisões. “Chegou a hora de incluir os drones e todas as suas vantagens nesse pacote. É mais um caminho sem volta, onde todos saem ganhando”, considera.
Empregar um único VANT para atividades diversas, como aplicação de insumos, análise de densidade de solo, identificação de pragas ou ervas daninhas e medição da produtividade da lavoura já é possível, de acordo com o pesquisador da Embrapa. “Já existem drones em que é possível identificar problemas na lavoura através de sensores e já liberar os produtos que vão combatê-lo. Existem sistemas baseados em inteligência artificial embarcados no aparelho que permitem processar em tempo real as imagens e fazer a tomada de decisão. Um exemplo é a liberação de insetos controle ou mesmo a pulverização localizada de químicos controlando pragas e doenças”, explica.
Castro Jorge também lembra que no mesmo computador a bordo pode ser feita a contagem de plantas ou mesmo toda identificação de anomalias da lavoura em um único voo. “Lógico que essa tecnologia ainda não está disponível para o pequeno e o médio produtor, mas temos esperança de que esse tipo de sistema barateie no futuro”.
Então, amigo produtor, mesmo que o drone não consiga substituir totalmente as atividades em uma lavoura, como a inspeção humana detalhada que se atenta ao galho, à raiz, à folha da planta, tudo indica que o seu uso estará cada vez mais presente nas plantações, sendo um importante ingrediente na segurança e eficiência no campo.