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Soja Brasil

Tendência para o preço da soja é altista com demanda superando oferta

Foi consenso entre especialistas ouvidos no evento realizado em Luís Eduardo Magalhães, na Bahia, que o cenário mundial deve favorecer o Brasil

Abertura Nacional da Colheita da Soja
Foto: Odair Delanhese/Foto Sul Fotografias

O produtor de soja brasileiro já vendeu aproximadamente 50% da safra 2020/2021. Com metade da produção a negociar, agricultores querem saber se este é o momento ideal para negociar e aproveitar os preços atuais. Para entender as perspectivas, o Canal Rural reuniu um time de especialistas em mercado, durante a Abertura Nacional da Colheita da Soja, nesta quinta-feira, 4.

O diretor da Sim Consult, Liones Severo, afirma que o cenário se mantém altista para os preços da soja. Segundo ele, há um descompasso entre oferta e demanda. “O mundo não produz a soja que consome. A oferta está muito aquém do consumo, principalmente da Ásia e da China, especificamente”, afirma.

Severo recomenda ao produtor rural brasileiro esperar um pouco mais para vender, pois a oferta dos Estados Unidos, que já negociaram mais de 95% da safra, deve acabar em um mês. “De abril até agosto, o Brasil vai ficar sozinho na oferta de soja para o mundo, que está descoberto. Vamos ter este vácuo de oferta que será muito bom para o produtor brasileiro neste período”, afirma.

O sócio-diretor da Pátria Agronegócios, Matheus Pereira, corrobora com a análise de Liones Severos. Para ele, os estoques mundiais devem continuar limitados nos próximos anos. “Desde que tenhamos esse desequilíbrio, teremos estoques baixos e preços tendendo a novas altas. Mesmo se tivermos uma safra mundial de 360 milhões de toneladas, teremos um déficit de 10 milhões a 15 milhões de toneladas, consumindo os estoques mundiais. A gente não verá a reversão desse quadro enquanto isso durar”, diz.

Pereira acredita que, mesmo que os EUA aumentem sua produção em 20 milhões de toneladas na próxima temporada, a demanda mundial está agressiva o suficiente para absorver.

Consultor da StoneX, Étore Baroni diz que considerando esse cenário, nem mesmo a entrada da colheita no Brasil deve ser suficiente para provocar grandes quedas no preço da soja. Ele recomenda ao produtor parcimônia nas negociações antecipadas. “É um bom instrumento, desde que o produtor faça a relação de troca. O custo também vai subir e o produtor tem que acompanhar isso, fazendo média de níveis de preço para garantir boa rentabilidade”, diz.

Liones Severo é mais taxativo em sua análise: para ele, não é momento de vender. Se esperar, o produtor poderá ter os preços que quiser. “Se quiserem US$ 16 por bushel na Bolsa de Chicago, terão. Defendo que preço futuro nunca é legítimo, não existe demanda e escassez atemporal. Você não vai no mercado e compra o que vai consumir daqui dois meses. O mercado se constrói no momento. Temos que ficar atentos, porque o Brasil tem perdido muita receita nesta modalidade”, afirma.

Segundo Baroni, a safra começou com preços perto de R$ 80 por saca e chegou a R$ 170 por saca. Porém, muitos produtores acabaram vendendo a soja a preços menores.

O presidente da Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja-MT), Fernando Cadore, afirma que muitos produtores foram obrigados a negociar para financiar a compra de insumos para a safra. “Outra parte da produção foi vendida por causa do nosso déficit de armazenamento”, diz.

Demanda da China

Também participou da Abertura Nacional da Colheita da Soja o adido agrícola do Brasil na China, Jean Manfredini. Ele reforça que o país asiático se mantém firme na compra da oleaginosa, em consonância com a recuperação do rebanho suíno e da economia chinesa, que começou a dar sinais de melhora a partir do segundo trimestre de 2020.

Manfredini afirma que a China está comprando soja para produzir farelo de soja para os animais e óleo para a população, enquanto a produção interna, que é 100% livre de transgênicos, é destinada ao consumo humano.

Questionado sobre as cobranças por sustentabilidade na produção agrícola, o adido agrícola afirma que a discussão ainda é muito embrionária na China, quando comparada a outros países. “O que temos feito é trabalhar para que fique muito claro para os atores chineses envolvidos na cadeia da soja o quanto é sustentável a produção do Brasil”, adianta.

Alta da soja traz notícia boa para o milho

Os preços da soja mais altos devem fomentar o aumento de área nos Estados Unidos. Porém, para isso, os americanos vão precisar reduzir as áreas plantadas com milho. Segundo Matheus Pereira, a próxima safra americana pode ser 3,5% menor. “Isso será um novo pilar para os preços dos cereais, especialmente de milho. Teria um reflexo positivo para os preços do milho a nível mundial”.

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