Considerada a mais pujante fronteira agrícola do Cerrado brasileiro, Tocantins tem sofrido com o descaso logístico das rodovias estaduais e municipais, fundamentais para escoar a safra de soja. Em algumas regiões, além dos transtornos e aumento do valor do frete, os agricultores têm que financiar a manutenção das estradas para conseguir transportar os grãos.
Com enorme potencial econômico e milhares de hectares de pastagens degradadas, o Tocantins apresenta uma área considerável para expansão da agricultura. A meta do setor produtivo é ampliar a produção de soja e levar o estado ao topo do ranking dos maiores produtores do grão na região do Matopiba.
“Temos mais de 8 milhões de hectares de pastos e, acreditamos que o estado possa chegar a 3,3 milhões de hectares em seis anos. Ainda tem áreas baratas e a maior parte das nossas regiões conseguem fazer safra e safrinha. Então o pessoal acaba vindo e investindo no Tocantins por causa disso, também”, afirma o presidente da Aprosoja Tocantins, Dari Fronza.
Outra vantagem para quem pensa em investir no estado é a proximidade com a ferrovia norte-sul, que colocou o preço da soja tocantinense em pé de igualdade com a produzida em localidades privilegiadas. Mas então o que limita a expansão ainda mais rápida da região?
A resposta pode ser vista durante as colheitas da soja: superar a falta de manutenção das estradas que ligam os campos aos locais de entrega do grão.
“Infelizmente, pelo grande fluxo de caminhões que existe nas rodovias, a maioria está em péssimas condições. Tem situações em que o asfalto acabou, literalmente. Com as chuvas acima da média dos últimos dias, acaba destruindo ainda mais as estradas e colocando em risco o escoamento da nossa safra. Não temos como deixar na fazenda, pois faltam armazéns na região. Então tem que carregar para uma trading, cooperativa e empresas”, diz Fronza.
Algumas rodovias estaduais importantes estão em situação bastante complicadas e o descaso logístico é aparente: como a TO-080 entre os municípios de Paraíso e Caseara ou a TO-374, principal elo entre os municípios de Lagoa da Confusão e Marianópolis e a TO-483 entre Figueirópolis e Peixe.
“A situação se repete todo ano, com os atoleiros no início da colheita. O frete aqui é balizado todo ano conforme o estado e a manutenção das rodovias”, diz o produtor Rafael Augusto Damiani.
Segundo o caminhoneiro Pedro Roberto Prediger, tem estrada com mais de dez anos em condições precárias.
“Estamos passando por isso, buraco em cima de buraco. A população e os fazendeiros, da região à beira do Araguaia, sofrem muito. Felizmente Deus há de interceder uma hora para que os governantes olhem para essa região tão rica”, diz ele.
Do próprio bolso
Nas rodovias municipais o cenário não é diferente. Em alguns trechos, são os próprios agricultores os responsáveis por financiar a manutenção da via para poder garantir o escoamento da safra.
“Estraga os caminhões, atola, já teve vez de tombar nosso caminhão aqui. Tem que dar manutenção direto na estrada. Estamos dando manutenção particular mesmo. Tem uns trinta produtores aqui que ajudam nisso. Às vezes é um, às vezes é outro, é uma peleja constante. Isso seria papel do serviço público, arrumar essas estradas, mas eles não fazem e aí cai nas costas do agricultor. A gente fica frustrado pois pagamos tantos impostos já e ainda tem que fazer rateio entre os produtores para conseguir arrumar”, conta Cristiano Zanetti Caruccio.
Por sua vez, o governador do estado, Mauro Carlesse, afirmou que o governo está atento aos problemas.
“É uma preocupação muito grande em relação às rodovias e também as vicinais. Nós estamos aí fazendo parceria com os municípios para poder ajudar, principalmente nas áreas onde tem o produtor que precisa escoar a sua produção. Estamos atentos a isso e vamos estar juntos e colaborando. A meta é essa de não deixar nenhum produtor sem tirar sua safra de uma forma adequada”, diz o governador.