O preço da saca de soja nos portos passou e permanece acima dos R$ 100 por saca. Na última quarta-feira bateu os R$ 109 em Paranaguá, com entrega para maio. A principal razão foi a alta do dólar, que compensou até as fortes quedas da cotação na Bolsa de Chicago. Com isso, o Brasil vai quebrando vários recordes nas exportações do complexo soja. E, tudo indica que até junho, as vendas ao exterior ainda podem quebrar muitas marcas históricas.
Março de 2020 fechou com um recorde histórico nas exportações de soja para o mês. Ao todo foram embarcados mais de 11,6 milhões de toneladas de soja em grão, quase 38% a mais que em 2019, e 30% a mais que o recorde de 2017 (8,9 milhões de toneladas). Se somar todo o complexo (farelo, grão e óleo) o total passa dos 13,3 milhões de toneladas, 29,9% a mais que março de 2019.
Mas, por que março foi tão bem?
Antes de entrar nos méritos da questão, vale ressaltar que normalmente março é o mês onde os embarques de soja sempre dão um salto para acima dos 8 milhões de toneladas. Isso já acontece desde 2016. Dali pra frente as exportações aumentam bastante, chegando ao pico em maio, mês onde está o recorde de exportações de soja em grão em um único mês, 12,3 milhões de toneladas em 2018. Confira o gráfico abaixo com as evoluções nos últimos anos.
Cientes disso, vamos as explicações de o porquê março de 2020 foi tão superior aos anos anteriores. Segundo o analista da Safras & Mercado, Luiz Fernando Gutierrez, não foi apenas um fator que elevou as exportações brasileiras, mas uma série deles.
“Tudo ajudou nesse momento. A melhora no esmagamento de soja na China, a retomada de plantéis de suínos, a soja brasileira mais barata, problemas com as retenciones na Argentina, medo quanto a segurança alimentar nesse momento de pandemia e antecipação de embarques para evitar problemas logísticos”, afirma.
Para o diretor da ARC Mercosul, Matheus Pereira, o dólar tem se tornando um fator de barganha para os exportadores brasileiros, que conseguem oferecer a tonelada de soja a preços mais competitivos e, de quebra, remuneram melhor os produtores rurais brasileiros. Até por isso o pais está conseguindo não só recordes mensais, mas também em negociações nos portos.
“O complexo soja fechou o mês de março com o maior volume já embarcado para o mês na história. Na última sexta-feira o país exportou de uma só vez 3,6 milhões de toneladas de soja, outro recorde. Além disso, outra marca histórica, é que o Brasil já negociou 32 milhões de toneladas para serem embarcadas ao exterior nos próximos meses”, afirma Pereira.
Mais recordes até junho?
Os dois analistas concordam também que o segundo trimestre deste ano (abril, maio e junho) promete mais recordes ao Brasil.
“A tendência é que os próximos meses sigam sendo de muitos negócios. Acredito que tanto abril, quanto em maio e até junho, o Brasil deverá exportar mais soja do que a média, mais do que o normal”, afirma Gutierrez.
Segundo ele o Brasil seguirá sendo o principal alvo dos chineses, não só pela grande safra e oferta que possui, mas também por deficiência econômica de seus vizinhos.
“O resultado de março reforça o sentimento que a China segue com o apetite de comprar a maior quantidade de soja que puder no primeiro semestre. A maioria do Brasil, já que as retenciones argentinas atrapalham um pouco os negócios dos nossos vizinhos”, diz.
Já Pereira comenta que o país já tem previsto o embarque de pelo menos 12 milhões de toneladas de soja para abril.
“Isso seria um novo recorde para este mês. Ou seja, o cenário continua muito positivo para o Brasil, apesar dos recuos seguidos em Chicago, puxados pelas baixas do petróleo. O país segue blindado com as altas do dólar”, afirma.
O diretor da ARC acredita ainda que o Brasil irá fechar o primeiro semestre com um recorde nas exportações de soja. “Isso com toda a certeza, pois o país já começou acelerado e deve seguir este ritmo até junho, pelo menos”, diz.
Segundo semestre
Outra opinião convergente entre os dois especialistas é que o Brasil deverá exportar menos soja no segundo semestre.
“No segundo semestre a tendência deve mudar e a China deve voltar suas atenções para os Estados Unidos para honrar o acordo comercial que fez com o presidente Donald Trump. Isso não será ruim para o Brasil, pois já negociamos boa parte da safra antecipadamente”, diz Gutierrez.
Pereira completa que essa é a tendência normal, as vendas tendem mesmo a diminuir bastante, já que a demanda se concentra nos Estados Unidos, que passam a colher a soja, enquanto o Brasil segue na entressafra.
“O segundo semestre é normal ter uma queda. Mas, na minha opinião, seguindo este fluxo atual, o Brasil irá fechar o ano com um volume nas exportações de soja em torno de 80 milhões de toneladas, com chance de ser até mais”, finaliza Pereira.