Em Campo Verde, sudeste de Mato Grosso, as plantadeiras estão rodando dia e noite para semear a soja o mais rápido possível, garantindo assim que tudo fique dentro da janela prevista e não prejudique a segunda safra. Mas a maior preocupação é o reflexo desta concentração de cultivo no período de colheita.
Ritmo intenso, em expediente dobrado, este é o cenário do plantio da soja na propriedade do Jorge Piccinin. O volume de chuvas abaixo do esperado atrasou a semeadura em 30 dias e provocou uma corrida contra o tempo. A preocupação é porque a área vai ser ocupada pelo milho em janeiro.
“As chuvas começaram a partir do dia 15 de outubro, mas foram muito irregulares. O plantio foi devagar, conforme ia chovendo. A gente acabou fazendo uma grande força tarefa, plantando 24 horas por dia, aproveitando ao máximo a pouca umidade para tentar encaixar a janela da soja e não perder o milho”, diz.
O esforço deu resultado e o agricultor conseguiu acelerar o plantio. Agora faltam apenas 700 hectares dos 4,2 mil previstos para esta safra. Grande parte da área está geminada, com um bom desempenho. Mas a instabilidade climática ainda preocupa, principalmente por causa da concentração do plantio que pode trazer consequências na colheita.
“A gente buscou materiais de 95 a 110 dias que foram os mais plantados nesse momento, escalonando dentro de cada ciclo de cada material. Assim conseguimos fazer o escalonamento e evitar uma colheita não tão concentrada. Mas preocupa muito por ser um ano já concretizado com La Niña”, diz o técnico agropecuário Davis Carlos MUssi.
No município de Campo Verde a estimativa do Sindicato Rural é que já foram semeados 80% da área de 280 mil hectares com soja até aqui. Ritmo mais lento se comparado ao ano passado, quando neste mesmo período, o plantio já estava praticamente encerrado.
“Depois do dia 15 de setembro é liberado o plantio e todos querem aproveitar para plantar logo, garantindo assim a janela para o algodão. Esse ano atrasou um mês bem certinho, 15 de outubro começou o plantio por aqui, a chuva agora deu uma firmada”, afirma o integrante do Sindicato Rural de Campo Verde, Rodrigo Mores.
Mas a região ainda segue em estado de alerta à espera da manutenção das chuvas, para ajudar no bom desempenho das lavouras que ainda sentem a deficiência hídrica.
“Alguns estandes não estão ficando como a gente planejou, pois falta um pouco de umidade na hora de germinar. Depois germina e pega sol quente, bastante escaldadura, então perde uma ou outra planta também. Então a implantação da lavoura não está 100%, está um pouco prejudicada com certeza. Teve algumas áreas que alguns produtores arriscaram um pouco mais e vai ter comprometimento de produtividade sim”, diz o produtor Fernando Ferri.
Após um ritmo mais lento nas primeiras semanas, os trabalhos a campo em Mato Grosso começaram a ganhar força com um avanço semanal de 29 pontos percentuais, mesmo assim, a semeadura ainda segue atrasada. O estado está com o plantio realizado em 53,9% da área prevista, bem menos que os 81% que estavam plantados no fim de outubro do ano passado, segundo dados do Imea.