As irregularidades das chuvas seguem trazendo dor de cabeça aos produtores de vários estados do país. Em Mato Grosso, por exemplo, sojicultores de Primavera do Leste, que já estavam preocupados com a falta de umidade para concluir a semeadura da soja, estão vendo as lavouras instaladas sofrerem por falta de umidade.
Na propriedade do Arnaldo Luiz Brunetta, em Primavera do Leste, 80% da área estimada para plantio foi de fato semeada. O trabalho de campo precisou ser interrompido por falta de umidade no solo. Nos últimos 20 dias, o acúmulo de chuvas registrados não passou de 70 milímetros.
“Os atrasos foram significativos nas chuvas e trouxeram atraso no plantio. Só para se ter uma ideia, o ano passado nós tínhamos concluído o plantio no dia 24 de outubro. Este ano, começamos a plantar dia 24 de outubro. Então está super atrasado o plantio. Agora estamos rezando para que venha chuva para dar sequência no plantio e também para não comprometer as lavouras”, diz.
Segundo o produtor, as áreas germinadas já correm risco de sobrevivência, principalmente devido às altas temperaturas durante do dia. A falta de umidade no solo também favorece outro problema por lá: o ataque de insetos como o torrãozinho, considerado uma praga secundária muito agressiva para as plantas.
“Como temos recebido poucas chuvas, a pouca umidade favorece para o surgimento dos insetos, que acabam se sobressaindo nas lavouras. Agora, estamos tendo uma grande batalha para controlar eles. Nessa fase, o dano deles é muito grande, cada bichinho desse elimina uma planta, então vem danificar bastante o estande da lavoura”, destaca Brunetta.
Já o produtor Ary José Ferrari conseguiu correr e aproveitar uma chuva de 180 mm para concluir o plantio da soja. Com atraso de 20 dias em relação ao ano passado, é verdade. Mas o retorno do tempo seco preocupa da mesma maneira, pois as plantas precisam de umidade para se desenvolverem bem.
“Agora preciso da regularização das chuvas, pois é o momento que a planta mais precisa de umidade para se desenvolver”, diz ele.
Segundo o Sindicato Rural de Primavera do Leste, a região deve plantar um total em torno de 600 mil hectares com soja nesta temporada 2020/2021. dos 600 mil hectares Dos quais apenas 70% foi semeado. No ano passado o plantio já estava encerrado.
“Por enquanto, tem se mostrado um ano muito difícil. Não tem umidade no solo e muitos não estão conseguindo plantar. As áreas já plantadas estão sob risco devido a escassez de chuva e o sol muito forte. Só quando vir uma chuva geral para saber quantos hectares serão replantados. A expectativa do município era colher entre 55 a 60 sacas de soja. Agora está entre 48 e 50 sacas”, diz o presidente do sindicato rural Marcos Bravin.
Mais riscos
Se está ruim para a primeira safra, imagine para a segunda. Normalmente ocupada pelo milho na região. Segundo o consultor de sementes Luiz Bonardi, o atraso pode gerar uma forte redução na área do cereal.
“Considerando a grande Primavera do Leste, acredito em uma redução de área em torno de 25% no milho safrinha. Sem falar na provável redução de produtividade, em função da data que vai ser plantada esse milho, porque vai sair da janela ideal. Este ano, teremos algo em torno de 20% do milho sendo plantado em fevereiro e muitas áreas sendo plantadas em março’, diz Bonardi.
Além do plantio atrasado da soja, das lavouras em risco por falta de chuvas, tempo quente e ataque de pragas, e a redução da área e produtividade da segunda safra, a entrega de contratos já firmados completa a lista de preocupações nesta safra.
“Aqui algo em torno de 655 a 70% da soja já foi comercializada antecipadamente. Vamos conversar com as empresas para tenham a sensibilidade de entender e escutar o produtor. Pois a soja plantada a partir do dia 20 de outubro, mesmo que seja de 110 dias de ciclo, só vai chegar ao mercado no dia 10 de fevereiro. Se for uma de 100 dias, chegará os primeiros dias de fevereiro. Devido o cenário da época, o produtor foi se precavendo, travando o custo e acabou vendendo essa soja tudo abaixo do que tem no mercado hoje. Não tem nem como comprar porque nem vai ter essa soja no mercado”, ressalta Bravin.