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Notícias - Soja Brasil

Tocantins permite plantio de soja no vazio sanitário e áreas estão infestadas de ferrugem

Áreas localizadas em Lagoa da Confusão têm autorização excepcional para produção de sementes e algumas serão colhidas quando o plantio comercial começar

No Tocantins, o plantio de soja com autorização excepcional para acontecer durante o vazio sanitário está trazendo preocupação para os produtores de soja locais e de três estados vizinhos. A permissão especial é baseada em um relatório técnico que garante que a ferrugem asiática não se propaga pela região. Entretanto, uma visita da reportagem constatou que praticamente todas as plantações locais apresentam esporos e sinais da doença.

O caso está acontecendo em um município com nome bastante sugestivo, Lagoa da Confusão, onde se concentra a maior área de varjões do estado (com 66 mil hectares), considerada excepcional para produção de sementes, mas isso justamente durante o vazio sanitário do estado, que vai de 1º de julho a 30 de setembro. Vale ressaltar que a medida fitossanitária contra a doença foi instaurada no estado há 14 anos e, desde então, já existe a menção dentro da portaria 219 (de 2006) prevendo a possibilidade de autorizar cultivos de sementes de soja durante o vazio sanitário.

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Foto: Pedro Silvestre

Segundo o secretário de Agricultura do estado, Tiago Pereira Dourado, a região tem uma condição singular que favorece essa exceção, chamada percolação. Ela consiste na submersão das lavouras através de canais represados ao lado delas. Isso não só garante água para as plantas durante o período seco, como também criaria uma condição para o combate da ferrugem asiática.

“Essas são as maiores regiões de várzeas contínuas do planeta e reúnem uma condição de irrigação por submersão única para a produção de semente dentro do vazio sanitário naquela região. E é isso que temos defendido. O Ministério da Agricultura fez auditorias junto com a Agência de Defesa Agropecuária do estado, um trabalho denso para conquistar isso. E só depois desse trabalho o ministério emitiu um parecer favorável para que isso pudesse ocorrer. Então houve esse trabalho de fiscalização e isso continua”, diz Dourado.

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Em resumo, o secretário atesta que a inundação das áreas é capaz de evitar a propagação da ferrugem asiática e não criar a chamada ponte verde para as áreas de soja comerciais, que serão cultivadas após 30 de setembro.

“A discussão é sobre a propagação. Mas não há tempo hábil para a propagação, diz o relatório apresentado pela a Agência de Defesa, justamente por causa dessa inundação. Então há um controle com relação a esse processo para que não haja nenhuma possibilidade de transmissão da ferrugem”, afirma Dourado.

À dir. o secretário de Agricultura do estado, Tiago Pereira Dourado, cumprimenta o pesquisador Laércio Zambolim Foto: Pedro Silvestre

O relatório da Defesa Sanitária citado por Dourado teria sido desenvolvido pela Comissão de Sementes e Mudas do Tocantins, com aval de importantes órgãos do setor.

“Ano passado (2019) foi elaborado um relatório feito pela Comissão de Sementes e Mudas do estado, onde várias entidades estão envolvidas, Ministério da Agricultura, Embrapa, Agência de Defesa do Estado (Adapec). No estudo, pegou-se as cinco safras anteriores e foram ver a correlação com a ferrugem nessas áreas de várzeas, com dados da Adapec. A análise feita por esses pesquisadores teve a correlação negativa em relação à vizinhança, ou circunvizinhas às várzeas. Com esse resultado mostrado no relatório, não tem problema nenhum, não teve aumento nenhum de caso de ferrugem durante a safra nessas regiões circunvizinhas as várzeas”, diz Rodrigo Guerra, superintendente do Ministério da Agricultura no Tocantins e representante da Comissão de Sementes e Mudas.

Nuvem de esporos

A convite da Aprosoja Mato Grosso, a equipe do Canal Rural percorreu várias áreas dentro da Lagoa da Confusão, junto com um pesquisador da Universidade Federal de Viçosa e constatou que a técnica de submersão não está funcionando no combate à ferrugem. A doença estava presente em todas as plantações visitadas, principalmente nas cultivares de ciclos médios e tardios, que podem ser colhidas depois que o período do vazio sanitário acabar, ou seja, quando o plantio da soja comercial da próxima safra começar, ameaçando a segurança fitossanitária das lavouras de soja no estado.

Foto: Pedro Silvestre

“Dá para ver aqui folhas com ataque da doença mais amenos e mais severos. A quantidade de esporos está criando até uma nuvem, formada por milhares e milhares de esporos. Elas podem subir com o ar a mais de seis mil metros e depois desce. Inclusive, há ferrugem na parte superior das plantas, o que é muito mais incomum, já que o normal é que apareçam no terço baixeiro e médio. Esse inóculo será carregado pelo vento para as outras regiões, que já estarão semeando a soja. Nessas altitudes que os esporos podem chegar, a temperatura é mais baixa e os preserva , aí o vento leva esse inóculo para as regiões novas que estão sendo plantadas e a ferrugem começa cedo na soja”, diz o pesquisador da Universidade Federal de Viçosa Laércio Zambolim.

Pesquisador da Universidade Federal de Viçosa, Laércio Zambolim. Foto: Pedro Silvestre

Essa disseminação dos esporos da ferrugem asiática, causada por essa exceção ao vazio na região, também preocupa outros estados.

“Aqui no Tocantins, no dia 1º de outubro está liberado o plantio da soja. No Pará, que é aqui do lado, a partir do dia 16 de setembro. Em Mato Grosso, que é aqui próximo também, a partir do dia 16 de setembro e até Goiás, a partir do dia 25 de setembro, tem plantio. E vocês vejam que uma lavoura dessas vai ser colhida em outubro, com certeza tomada por ferrugem, como foi constatado nas outras lavouras que nós olhamos”, diz o presidente da Aprosoja-MT, Antônio Galvan.

Segundo o pesquisador da Universidade de Viçosa, está havendo uma discrepância entre aquilo que foi preconizado pelos governos e empresas de pesquisa, daquilo que ocorre no campo.

Pesquisador da Universidade Federal de Viçosa, Laércio Zambolim. Foto: Pedro Silvestre

“Não poderíamos ter essa soja aqui no campo agora. Estamos a favor da ciência e em favor do produtor, mas queremos jogo limpo, queremos discutir a realidade e buscar a verdade. As regiões novas, que estão sendo plantadas agora, trarão problema de ferrugem muito cedo para as áreas comerciais subsequentes”, afirma Zambolim.

Segundo informação obtida pela Aprosoja-TO, em uma reunião com os fiscais do órgão de Defesa Agropecuária do estado, o monitoramento das lavouras comerciais subsequentes nas áreas das várzeas não está acontecendo, aumentando ainda mais a desconfiança do setor quanto à segurança fitossanitária do relatório.

Reunião da Aprosoja com os fiscais do órgão de Defesa Agropecuária do estado. Foto: Pedro Silvestre

“Acho que isso é uma demanda que precisamos conversar, englobar todo mundo nessa pesquisa e dentro desse negócio para termos segurança na produção. A ferrugem asiática é uma doença que preocupa todo produtor de soja, tem que ter muito cuidado, ela se dissemina com certeza. Precisa ter um acompanhamento disso, uma pesquisa mais firme lá. Sempre tentando abrir uma janela entre esse plantio de sementes e o comercial, um período mínimo que seja de vazio sanitário, para não poder atrapalhar as lavouras subsequentes”, afirma o presidente da Aprosoja-TO, Maurício Buffon.

Embrapa

A Aprosoja Brasil afirmou à reportagem que questionou a Embrapa Sede e a Embrapa Soja sobre o documento que teria dado o amparo técnico para abrir essa exceção ao cultivo de sementes de soja durante o vazio sanitário no Tocantins. A entidade informou ainda que enviou um ofício ao Ministério da Agricultura cobrando um posicionamento sobre a liberação do plantio fora de época, autorizada pela Agência de Defesa Agropecuária do estado.

O Canal Rural entrou em contato com a Comissão de Sementes e Mudas do estado para ter acesso ao relatório que valida o plantio da soja fora de época. Entretanto, nenhuma resposta foi dada até o momento da publicação desta reportagem.

Também foram procuradas a Embrapa Soja e a Embrapa Sede, para entender o impasse na região. As duas unidades responderam com a seguinte nota:

“Desde a safra 2003/2004 orientamos sobre a necessidade e importância de adoção do vazio sanitário em todo o Brasil. Alguns estados levaram de 5 a 10 anos para adotá-lo e outros ainda não o adotam. A Embrapa não tem atribuição ou competência para legislar, proibir ou autorizar qualquer prática agrícola. A permissão para o cultivo ou semeadura da soja em qualquer época ou local do Brasil é de responsabilidade das autoridades competentes, do Ministério da Agricultura e/ou secretarias estaduais de Agricultura.”

Foto: Pedro Silvestre

Soluções

Enquanto as respostas oficiais pedidas pela Aprosoja não chegam, uma solução apontada para tentar diminuir os impactos gerados pela ponte verde para a ferrugem asiática, que o atual modelo permite, é estabelecer ajustes no calendário de vazio sanitário das áreas consideradas excepcionais.

“Não vemos a necessidade de paralisar isso, mas fazer uma adequação que tenha aí no mínimo 40% ou 50% desse vazio sanitário respeitado. Pois isso aqui é uma questão econômica, se fosse fitossanitário isso aqui não existiria, seria respeitado o vazio sanitário de 90 dias, como é na grande maioria dos outros estados”, diz Galvan.

O próprio secretário da Agricultura do Tocantins confirma que produtores da região já procuraram o órgão para apontar problemas com a exceção.

“Os produtores têm apresentado vários motivos, vários problemas e estamos discutindo isso para que possamos encontrar uma solução em comum. Aquela região é validada e reconhecida junto ao Ministério da Agricultura para que possa produzir semente. Sendo um grande diferencial do estado, que acredita e fortalece todos os produtores que ali produz sementes. Então a gente vem instrumentalizar o que for necessário, tanto cientificamente do ponto de vista de investimento do estado, para que possamos ser o referencial na produção de sementes”, finaliza Dourado.

* O repórter viajou a convite da Aprosoja-MT

Foto: Pedro Silvestre

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