O descaso governamental com a rodovia Transcerrado, principal rota de escoamento de soja do Piauí, não causa apenas prejuízos financeiros e transtornos aos agricultores da região, compromete também a saúde de quem depende da rota. Além de caminhões quebrados ou atolados e fretes mais caros, acidentes envolvendo feridos são inevitáveis. Um deles deixou um produtor de soja da região praticamente tetraplégico. O Projeto Soja Brasil visitou a região para mostrar as dificuldades de transitar ali.
A rodovia considerada espinha dorsal do estado, possui mais de 330 quilômetros de extensão e liga Bom Jesus a Sebastião Leal, passando por 25 municípios produtores de soja. Para se entender como a coisa está ruim por lá, apenas os 80 km iniciais são asfaltados, o restante é puro risco, com buracos, atoleiros e todo tipo de armadilhas, ainda mais quando chove.
Para quem usa uma caminhonete moderna como a L200 Triton da Mitsubishi, como a da equipe do Projeto Soja Brasil, o trajeto se torna uma verdadeira aventura off-road. Mas com tantos quilômetros pela frente, é impossível não ficar estressado. Afinal a todo o momento o motorista é surpreendido por poças de água enormes, que podem esconder buracos, atoleiros, terrenos arenosos, desníveis entre outros perigos.
Antes de terminar o trajeto a equipe fez uma parada para descansar na fazenda Bortolotto e entender as dificuldades de um produtor de soja, que depende da via para escoar sua produção. O produtor Rubens Feitem arrendou a propriedade há 20 anos e conta que os agricultores da região podem ter vários tipos de prejuízos com a rodovia como está.
- Está achando que essa é a única estrada com problemas? Veja a cratera nesta outra. Tem fotos!
Excesso de chuvas destrói estrada de escoamento de soja no Piauí
“Já perdi produção por não conseguir usar a Transcerrado. Sem falar nas dificuldades para entregar a soja e receber os insumos. O frete é outro problema, pois a tabela encarece até 50% e não tem o que fazer, temos que mandar vir. Não tem evolução essa estrada. Muitos locais ainda não energia elétrica. Então é um desânimo só.
Feitem afirma que já perdeu a conta de quantas vezes tirou dinheiro do próprio bolso para arrumar a estrada.
“Teve um ano que chegamos a perder 20% de nossa produção, porque não tinha estrada. Esse total é muito mais do que temos de margem de lucro. É um dinheiro que não volta mais, vai embora”, afirma ele.
Obviamente quem sofre mais com a situação caótica da rodovia são os caminhoneiros. Quando não ficam presos no congestionamento, ou estão com o caminhão quebrado, ou atolados, esperando os produtores da região trazerem seus tratores para puxar e colocar o veículo de volta à via.
“Sempre quebra né. Quando não atola, quebra. E aí para chegar nas fazendas tem que ser puxado pelos outros”, diz Domingos de Araujo.
Para quem precisa transportar quase duas mil toneladas de soja por ano por essa rodovia, a única opção é tentar denunciar o descaso, garante Feitem.