O produtor rural Néri José Chiarello não tem problemas para estocar o que produz. Há 13 anos, ele construiu o primeiro armazém e atualmente tem silos em quatro municípios do centro-norte de Mato Grosso. A infraestrutura própria evita prejuízos para ele e também outros agricultores parceiros.
? Hoje seria inviável. Sem armazém para armazenar durante o período mais caro do frete, não tem condições, teríamos que entregar esta produção para as tradings e elas também não têm capacidade de armazenar tudo isso. Seria muito complicado ? afirma o agricultor.
Entretanto, histórias como a de Chiarello são minoria. Segundo os produtores, não falta vontade de ampliar as estruturas existentes nas propriedades. A barreira é a falta de condições financeiras para realizar esses investimentos. O reflexo disso está nos números: o Brasil tem atualmente capacidade para armazenar 125 milhões de toneladas de grãos, o que equivale a 22 milhões de toneladas a menos do que o volume produzido na última safra. Além disso, as projeções indicam que, nos próximos dez anos, a produção agrícola brasileira deve crescer 40%.
? Armazenagem é um novo desafio, porque a produção continua crescendo, em função da produtividade. Temos expectativa de aumento da produção, e você tem que ter uma movimentação desta estrutura de armazenagem para estes centros de produção ? diz o diretor-executivo da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Mato Grosso (Famato), Seneri Paludo.
Em Mato Grosso, existem 1,2 mil armazéns, com capacidade para estocar 27 milhões de toneladas. Na safra passada, foram produzidas 28 milhões de toneladas, o que equilibra os números.
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O problema é que a distribuição destes armazéns nem sempre está de acordo com a verdadeira demanda do local. O caso mais preocupante é o do médio-norte do Estado, onde a capacidade estática instalada suporta quase 9,6 milhões de toneladas de grãos, cerca de dois milhões de toneladas a menos do que o volume produzido na região.
? Nós precisamos de armazéns de uma forma muito séria. Hoje a capacidade de MT teoricamente ser suficiente, há momentos em que as produções se encavalam. Isso passa a ser um problema. Além disso, a maior parte destes armazéns está na região sul enquanto a maior parte da produção está na região norte do Estado. Você tem então uma capacidade baixa de armazenagem. Na região oeste do Estado, também precisamos de uma estrutura maior de armazenagem. É preciso, mas o produtor está com capacidade de novos investimentos porque já tem dívidas prorrogadas. Precisamos encontrar uma fórmula de resolver isso, talvez com investimentos de fundos internacionais, ou mesmo através da troca de produtos. Uma empresa chinesa, por exemplo, daria o dinheiro para nós construirmos e nós pagaríamos com produção. Seria uma fórmula. Nós temos que encontrar soluções destes problemas, não só de MT, mas de todo o país. O Brasil todo tem problemas de logística ? avalia o presidente da Associação dos Produtores de Soja e Milho do Estado (Aprosoja), Glauber Silveira.