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Quase seis milhões de jovens brasileiros moram no campo

Filhos de agricultores optam por formação para garantir qualidade de vidaQuase seis milhões de jovens brasileiros moram no campo. Mas, afinal, o que eles querem, o que pensam e como vivem?

Na propriedade que Henrique Cenci herdou há dois anos, são 10 mil hectares de soja, milho e feijão. Quando seu pai morreu, ficou a responsabilidade de tocar tudo sozinho. A superação do episódio veio com muito trabalho. Funcionários da fazenda passaram a ser um apoio fundamental.

? A gente é uma família aqui na fazenda. Eles me ajudaram muito, conversaram entre eles para me dar essa força pra gente poder seguir o barco pra frente. Se não fosse eles e a ajuda deles, eu acho que seria meio difícil ? afirma.

O irmão ajuda na contabilidade das quatro fazendas, mas é ele, com apenas 25 anos, que comanda os negócios e 36 funcionários. O gosto pela vida no campo virou profissão. É uma escolha que nem todos compreendem.

? Quando me apresento para o pessoal da área urbana, quando falo que sou agricultor, que sou da roça, já acham que a gente é desinformado, que não tem estudo. Tem aquele, porém que acha que só porque é da roça entende apenas de planta e mais nada. Não é bem assim, não. Hoje tem gente aí que está na agricultura e tem formação, eu mesmo já tenho especialização, tenho mestrado ? conta Cenci.

Já o estudante Rafael Camargo também é filho de agricultor, mas seguiu a medicina.

? Desde novo eu venho acompanhando o trabalho do meu pai, a luta que é ser agricultor no Brasil. Sempre vejo ele preocupado com clima, com preço, então isso sempre te dá alguma preocupação. E isso me fez optar por uma carreira mais estável, que no caso é a medicina ? avalia.

Altamiro Camargo aceitou o argumento do filho e apoiou a escolha de Rafael e de sua irmã, que também escolheu por se afastar agronegócio e ir para a área da saúde.

? Eu não me importei, eu sempre quis que eles se formassem em algum curso, poderia ser agronomia também, mas como eles optaram por medicina eu achei que fosse ser interessante também ? comentou Altamiro.

Com isso, a família ainda não decidiu o futuro da fazenda.

? Eu acho que eles podem, mesmo sendo médicos, lidar com a agricultura porque toda a vida eles se dedicaram muito a fazenda também. Desde pequenos, eles sempre gostaram e não querem que eu venda terra nenhuma ? completa.

O IBGE diz que 650 mil jovens deixam o campo todos os anos. Conter o êxodo exige políticas públicas bem específicas, dizem os especialistas.

O coordenador do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar), Daniel Carrara, afirma que o jovem atua de forma mais direta no campo, com sugestões e novidades, inclusive tecnológicas.

? Ele participa da propriedade com contribuição. Não é com questionamento. Então ele complementa alguma coisa da propriedade que não existia antes. Sistemas de controle, informática, acesso a informação via internet essa nova geração está mais afeita a isso.

Para o sociólogo da Universidade de Brasília (UnB), Antônio Flávio Testa, isto é uma necessidade atual.

? Ele tem que deixar de ser um mero prestador de serviço um complemento como se fosse uma engrenagem de um sistema bastante rudimentar de produção e passar a atuar com a visão de negócio. Essa transição depende de educação e quanto melhor for a sua educação, melhor será a sua renda. Isso é comprovado ? afirma.

Esse é o foco de Henrique, que não parou de estudar desde que concluiu a faculdade de agronomia em 2007.

? A agricultura abrange vários caminhos desde financeiro, a parte comercial, produção. Para mim é uma profissão que tem um amplo mercado. Gosto de estar envolvido com isso. A gente está sempre estudando ? afirma Cenci.

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