A situação da escassez de milho se agrava no Brasil. A seca atingiu fortemente a produção e as estimativas apontam que a safra vai ser pelo menos 3% menor. Em Mato Grosso, os produtores temem não cumprir os contratos fechados antecipadamente. Ao todo, mais de 60 % do grão já foi comercializado e o estado estima quebra de 1 milhão de toneladas.
Para o produtor rural José Cazeta, a falta de chuva complicou a situação da colheita e o retorno do plantio pode ficar comprometido. “Possivelmente o resultado da chuva aqui não paga o preço do adubo, ela veio, mas não nessa região. Ela choveu em algumas regiões e não choveu em outras e eu fui um dos sorteados, eu acredito que perco 25% da minha produção”, disse.
Além da quebra na produtividade, outra preocupação que não sai da cabeça do produtor é se ele vai conseguir honrar os contratos de 80 % da produção, que já está vendida. “Ninguém planta milho e nem faz negócios hoje (…). Quando a gente fez o mercado futuro a expectativa era uma, mas no resultado final, logicamente, foi outra. Então, particularmente, eu tenho prejuízos que não tem jeito de ser coberto por ninguém, porque eu não tenho garantia de nada”, completou.
A venda antecipada da produção do milho safrinha preocupa o presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Mato Grosso (Famato), Rui Prado. “É uma situação grave, na qual a gente tem que ter muito cuidado para que haja um bom entendimento entre comprador e vendedor”, disse.
Produção de carne
A possível quebra de safra também gera preocupação nos produtores de carne, já que o setor teme que possa faltar matéria prima para abastecer o mercado interno. O diretor executivo da Associação dos Criadores de Mato Grosso (Acrimat), Custódio Rodrigues, alerta que o estoque oferecido pelo Governo Federal, que poderia ser uma alternativa neste momento, já está vazio.
“Os custos subiram na suinocultura, nós tivemos em Brasília com o próprio secretário de política agrícola e ele foi muito enfático em dizer que nós não temos um estoque regulador”, disse Rodrigues.
Os produtores de aves também estão preocupados, já que a produção do estado triplicou na última década. O abate chega a um milhão de frangos por dia e o consumo do setor é de 30% por cento do milho produzido em Mato Grosso.
“O que vamos ter que fazer, infelizmente, vai ter que ser repassado para os nossos produtos. Então, você vai comprar ovos de R$ 0,50 a unidade – que chega a R$ 6 a dúzia, e vai comprar frango de R$ 8 ou R$ 9 o quilo. Infelizmente, a gente não pode arcar com esses custos, nenhuma empresa que visa remunerar o seu investidor pode arcar com um custo desse e tem que repassar para o consumidor”, avaliou Tarcísio Shoreter, presidente da Associação de Avicultores de Mato Grosso (Amav).