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Quilombo da Família Silva luta pela titulação total do território no RS

Comunidade se localiza em uma das áreas mais nobres de Porto Alegre e teme a especulação imobiliáriaHá mais de 60 anos, Naura Borges da Silva e Alípio Marques dos Santos saíram dos municípios gaúchos São Francisco de Paula e Cachoeira do Sul e se instalaram em Porto Alegre, na antiga Colônia Africana, onde atualmente se localiza o bairro Três Figueiras. Em seguida, Anna Maria da Silva e Euclides José da Silva, também decidiram viver no território e mantiveram a tradição dos modos de vida e organização social da comunidade.

Um dos moradores mais antigos e presidente da Associação do Quilombo da Família Silva, Lorivaldino da Silva, mais conhecido como Lorico, conta que muita coisa mudou no entorno do local, um Shopping foi construído, ruas ampliadas e o comércio local evoluiu.

A comunidade também manteve por muitos anos a tradição de plantio. Ele conta o que se plantava e relata até uma história curiosa contada pelos mais velhos.

? Meu avô plantava aipim, amendoim, melancia, tinha um parreiral de uva, tanto que temos um poço de oito metros, todo calçado. E meu avô plantava melancia e botava lá dentro, num balde, e quando ficava gelada ele puxava e a gente comia. Ele também não deixava a gente arrancar uma uva verde do pé. Ele plantava o amendoim, e tinha um vizinho nosso aqui atrás, o Irineu, que tinha uma pele que nem jacaré, que era uma doença, uma alergia que ele tinha. Meu avô dizia para não comermos o amendoim verde do pé porque a gente ficaria que nem o Irineu ? recorda.

Atualmente o quilombo mantém alguns cultivos, como a plantação de ervas medicinais, mantendo a tradição dos antepassados. Mas a crescente urbanização trouxe a preocupação pela manutenção do território.

A comunidade já sofreu diversas tentativas de despejo. Mas desde 24 de setembro de 2009, o quilombo, com 6,5 mil metros quadrados e 12 famílias, conforme dados do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), teve parte de sua área titulada. Mesmo com o reconhecimento, Lorico afirma que a pressão e o preconceito continuam.

? Uma vez entrou uma máquina da prefeitura abrindo caminho e derrubando o mato para construir nossos banheiros, e o pessoal de um condomínio começou a gritar, dizendo que iriam “tirar a negrada”. Quando eles viram que começou a chegar material de construção, eles pararam de aplaudir. Viram que a gente não ia sair mais daqui. Outra coisa: eles gritavam aonde era o quilombo e a gente dizia que era aqui e mais um pedaço ali dentro. Um dia o vizinho me chamou para perguntar se a gente aceitava uma cesta básica por aquele pedaço de terreno. Aqui a gente sofre de tudo ? salienta.

Entre as prioridades da luta da resistência da Família Silva está a melhoria na habitação. Pedem também o cercamento da área para evitar a entrada de estranhos, principalmente com o trafico de drogas. Além disso, a saúde também está na pauta de luta do quilombo. Lorico acredita que é importante a união das comunidades quilombolas do Estado para que os territórios se fortaleçam cada vez mais.

? A gente está buscando educação, melhoria das casas. Eu estou com o projeto na mão da melhoria das casas, também um salão para fazermos nossas festas. A saúde também estamos buscando. A gente está, em todas as reuniões, chamando todos os quilombos, porque queremos que todos os quilombos consigam o título que a gente conseguiu ? afirma.

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