Agonia dos rios no RS deve durar até a segunda quinzena de junho
A situação no Taquari se agravou no último mês, quando a baixa na barragem de Bom Retiro do Sul impediu que mesmo embarcações pequenas aportassem em Estrela. Em seu nível normal, o rio daria condições ao Porto de Estrela movimentar 90 mil toneladas de soja, farelo de soja, fertilizantes e areia por mês. Na barragem, a baixa chega a 1,3 metro do nível normal.
Sem água, a carga é transportada pelas rodovias. A soja que sai do vale do Taquari aumenta em 1,3 mil a quantidade de caminhões nas estradas até Rio Grande, por mês.
Na avaliação do o vice-presidente de Logística do Sindicato das Empresas de Transporte de Cargas e Logística no Estado do Rio Grande do Sul (Setcergs), Frank Woodhead, o aumento médio de 65 caminhões por dia nas estradas não causa tantos transtornos. No porto de Rio Grande chegam cerca de 1,2 mil caminhões ao dia nos períodos de safra.
Apesar de não aumentar consideravelmente o fluxo nas rodovias, a substituição das vias fluviais pelas estradas encarece em quase 50% o transporte das cargas.
– Além do custo a mais com frete, há transtornos de logística dentro da empresa – explica o gerente de produção da Camera Agroalimentos, Valdetar Biberg do Nascimento, que embarca em 100 caminhões a carga suportada por uma única embarcação.
O prejuízo está sendo arcado pelas distribuidoras de soja, e afeta os negócios de navegação. A Aliança, principal operadora do porto, está deixando de faturar mais de R$ 1 milhão por mês no transporte de cargas pelo rio Taquari.
Baixa causa problemas à extração de areia no Rio Jacuí
Um dos principais canais navegáveis do Estado, de onde a areia é extraída, também está secando. Levantamento da Superintendência de Portos e Hidrovias (SPH) feito no rio, na última semana, apontou que é crítica a situação em 21 quilômetros entre Triunfo e Rio Pardo, onde não há como navegar embarcações com cargas.
Há pontos onde é possível fazer a travessia a pé. A hidrovia, que tem calado oficial de 2,50 metros chega a ter partes com 1,44 metro de profundidade. Sem ter como passar da barragem de General Câmara, a extração de areia caiu pela metade no trecho.
– Estamos deixando de minerar de 50 a 60 mil toneladas por mês, uma queda de 30 a 40% no nosso faturamento – revela o diretor-presidente da Sociedade dos Mineradores de Areia do Rio Jacuí (Smarja), Sandro Alex de Almeida.
Conforme o engenheiro responsável pela Divisão de Estudos e Projetos da SPH, Álvaro Francisco Mello, a seca revelou que a mineração da areia também está provocando a baixa do nível da água.
– Há uma sequência de crateras espalhadas em vários pontos do rio em função da extração excessiva de areia, o que provocou uma mudança no regime hidrográfico. O rio precisou preencher estes buracos, causando uma redução significativa de nível nos canais de navegação – explica o técnico.
No Vale do Taquari, onde a areia chega com maior dificuldade, o preço teve aumento mínimo de 25% repassado aos compradores.
Logística mais cara e demorada
– Para carregar 3 mil toneladas de farelo de soja é necessária uma barcaça com 90 metros de comprimento. A mesma quantidade é transportada por 100 caminhões
– O preço de transporte do farelo de soja subiu de R$ 30 por tonelada via fluvial para R$ 44,50 via terrestre
– Para carregar uma barcaça de 3 mil toneladas de farelo de soja são gastas 15 horas. A mesa quantidade precisa de 30 horas para ser carregada em caminhões
– A soja e o farelo de soja enviados de Estrela representam 10% do total de soja e farelo recebido em Rio Grande
– O Porto de Estrela e mais um terminal privado no rio Taquari estão deixando de movimentar 90 mil toneladas ao mês, o que representa 15% da movimentação do porto de Rio Grande
– Se estivesse operando normalmente, a expectativa do porto era de transportar 20 mil toneladas/mês de soja a Rio Grande, recebendo 10 mil toneladas de fertilizantes e de 30 a 40 mil toneladas/mês de areia. Além disso, tem um terminal privado que enviaria 20 mil toneladas/mês de farelo de soja a Rio Grande