– O impacto da alta do diesel no custo de produção do etanol é muito significativo. Devido ao grau de mecanização hoje na atividade agrícola, o diesel mais caro afeta plantio, colheita, carregamento e transporte. É um dos insumos mais importantes para a produção do biocombustível de cana – explica o diretor Técnico da Unica, Antonio de Padua Rodrigues. Ele lembra também que o aumento no custo do diesel provoca alta nos custos de outros insumos importantes para a produção do etanol.
– Além de tudo isso, a lei determina que a partir de 2014 as usinas terão que adquirir o S10, versão menos poluente do diesel e ainda mais cara. Assim, qualquer ganho de competitividade para o etanol com o aumento no preço da gasolina será praticamente neutralizado pelo aumento que o diesel vai gerar nos custos de produção.
Representantes do setor sucroenergético também alegam que, além de o valor do combustível fóssil continuar defasado ante o exterior, o etanol também foi reajustado nas últimas semanas. O mercado já contava com o reajuste da gasolina e precificou a alta também para o etanol. De acordo com o diretor da Archer Consulting, Arnaldo Luiz Corrêa, o aumento de 4% para a gasolina foi pequeno e “não gera atratividade” para o etanol.
Os reajustes anunciados pela Petrobras também deixaram inalterado um dos maiores obstáculos para a ausência de investimentos na retomada do crescimento do setor sucroenergético brasileiro, que é a falta de previsibilidade na formação do preço da gasolina. A Petrobras informou que o Conselho de Administração da empresa aprovou a implementação de uma política de preços, mas por razões comerciais, os parâmetros da metodologia de precificação serão “estritamente internos à companhia”.
– Continuamos sem um sistema, uma fórmula com parâmetros claros e estáveis, que torne possível entender qual o embasamento para manter ou ajustar o preço da gasolina. Sem essa clareza e apenas com ajustes pontuais de forma aleatória, não é possível planejar um futuro com rentabilidade para o etanol – explica o diretor da Unica.
Segundo o executivo, a introdução de aumentos sem um critério claro e que não sofra alterações leva à falta de previsibilidade, o que mantém um grau elevado de insegurança e afugenta investimentos de longo prazo, principalmente na implantação de novas usinas.
– O setor sucroenergético continua investindo em logística, infraestrutura, ampliação e renovação de canaviais e em novas tecnologias para melhorar a produtividade das usinas existentes. Isso tudo permite pequenos ganhos no volume de etanol produzido, mas não o suficiente para acompanhar a evolução da demanda projetada para os próximos anos.
Para a Unica, a pergunta que fica é a mesma que vem impedindo que o setor sucroenergético possa planejar ações futuras: afinal, quando acontecerá o próximo reajuste da gasolina?
– É uma situação que afeta diretamente a rentabilidade da produção de etanol. Sem rentabilidade, não há como esperar que as empresas façam investimentos em novas unidades. Uma usina leva em média três anos para ficar pronta, e outros dois para operar a toda capacidade. Em cinco anos, a única perspectiva que existe hoje para quem se aventurar a construir uma nova usina é o prejuízo – acrescentou Rodrigues, lembrando que neste momento, não há encomendas para novas usinas no Brasil. Entre 2002 e 2010, mais de 100 novas usinas foram inauguradas no país.
– A Petrobras enfrenta aumentos em seus custos de produção de gasolina da mesma forma que o setor sucroenergético, que paga mais por insumos, equipamentos, salários mais altos, encargos e terras. A diferença é que as perdas da Petrobras são acomodadas pelo governo com dinheiro público, enquanto as perdas do setor sucroenergético resultam em prejuízo para as empresas que produzem etanol, e perdas para toda a sociedade, como o aumento nos custos da saúde pública e a piora na qualidade do ar com o aumento no uso da gasolina e diminuição no uso do etanol, principalmente nas áreas urbanas – concluiu Rodrigues.
Mantega diz que governo cogita voltar a cobrar Cide
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou que cogita retornar com a cobrança da Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (Cide) sobre a importação e a comercialização de etanol, petróleo, gás natural e derivados. Segundo o ministro, o governo deixou de arrecadar R$ 12 bilhões com a isenção da Cide.
A condição para o retorno do tributo está no arrefecimento da inflação.
– A Cide volta quando a inflação estiver contida em um patamar mais confortável – acrescentou Mantega, afirmando que considera confortável um patamar abaixo do atual. Nos últimos 12 meses, até outubro, o Indice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acumula alta de 5,84%.
Veja ainda:
>> VÍDEO: Economista analisa alta dos combustíveis
>> Biocombustíveis enfrentam desafios para expansão