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Reaproveitamento de resíduos agropecuários é oportunidade de negócios

Empresários, produtores rurais e profissionais liberais apostam em mercado da sustentabilidade, ainda não consolidado no paísO colossal volume de 1,7 bilhão de toneladas foi o total de dejetos produzidos pela bovinocultura, suinocultura e avicultura em 2009, segundo cálculos do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA). Além do impacto ambiental, o descarte inadequado dos resíduos significa desperdício de matéria-prima.

De acordo com o consultor Ocimar Villela, a falta de conhecimento técnico limita o produtor rural, que evita se arriscar em métodos que fogem à sua linha de atuação. Villela é representante do Instituto para o Agronegócio Sustentável (Ares), uma organização não governamental que desenvolve pesquisas de fomento à produção rural em equilíbrio com o ambiente. Para Ocimar Villela, a burocracia nos programas de crédito oferecidos pelo governo federal para sistemas sustentáveis também frustra o desenvolvimento. Amaury Cezar Macedo, engenheiro agrônomo que presta consultoria em sustentabilidade, acrescenta que o homem do campo ainda é resistente aos métodos sustentáveis.

– A primeira coisa que o agricultor ou pecuarista pergunta é “quanto é que eu vou ter de gastar?”, quando, na verdade, deveria questionar “qual será meu ganho econômico e ambiental?” – afirma.

Com a aprovação do Plano Nacional de Resíduos Sólidos, em 2011, um marco regulatório foi criado para o reaproveitamento. Municípios devem, obrigatoriamente, apresentar programas para a coleta seletiva e o tratamento dos dejetos orgânicos. No que tange à agropecuária, a principal orientação é utilizar os resíduos para a produção de energia.

O desafio da cana-de-açúcar

Responsável por um PIB de US$ 48 bilhões, de acordo com dados da União da Indústria da Cana-de-Açúcar (Unica), o setor sucroenergético, por meio da cultura da cana, é o que mais produz resíduos.

No processamento da planta, é gerada a vinhaça, cem vezes mais poluente do que o esgoto doméstico. Atualmente, a solução para a destinação do subproduto tem sido os biofertilizantes. Por ser rica em nutrientes minerais como potássio, cálcio e enxofre, a vinhaça utilizada como adubo. Mesmo assim, o aproveitamento é limitado, pois, em excesso, o material pode contaminar o solo.

Dentro dos engenhos, outro desafio se impõe: o setor comprometeu-se em eliminar a técnica da queima da palha da cana, que antecede a colheita manual. Produtores têm até 2017 para por fim à prática.

O IBGE, no entanto, sinaliza uma possível saída para o equilíbrio ecológico. De acordo com o Instituto, se todos os resíduos secos da produção da agroindústria da cana no Brasil fossem utilizados para a geração de energia, a potência instalada seria de 16.464 MW por ano, superior ao da usina de Itaipu, que é de 14.000 MW.

O exemplo do arroz

Na contramão da cana, a cultura do arroz pode se orgulhar de ter consolidado um mercado do reaproveitamento de resíduos. Com produção de 2,5 milhões de toneladas de casca por ano, a orizicultura é referência na transformação da matéria-prima.

A descoberta de particularidades da casca, como alto poder calorífico, regularidade térmica e presença de sílica, permitiu sua aplicação em diferentes segmentos. Hoje, o material é usado como biomassa, reforço em resinas termoplásticas (usadas nas chamadas madeiras plásticas) e na fabricação de tijolos.

Novos negócios

Atentos às tendências sustentáveis e, sobretudo, à carência técnica do meio rural, empresários percebem a oportunidade de ampliar sua atuação por meio do desenvolvimento de equipamentos que facilitam a lida ecologicamente correta no campo.

O gerente de negócios da fabricante de máquinas Lippel, Michel Rodrigo Santos, conta que a empresa, criada em 1975, em Santa Catarina, decidiu apostar na sustentabilidade há 20 anos, quando passou a atuar exclusivamente na área. Hoje a organização movimenta, por ano, R$ 40 milhões com maquinário para transformação de biomassa em energia renovável.

– Investimento em energia renovável é retorno certo para qualquer tipo de investidor em curto prazo. Combustível é subsistência – avalia Santos ao projetar as oportunidades para o empresariado brasileiro.

Para Fabiano Martimiano, engenheiro agrônomo da Avesuy, empresa que cria projetos para o tratamento de efluentes da pecuária, não há limites para a expansão dos negócios.

–  Cremos que há muito para crescer ainda, o mercado apenas está começando. Com o tempo, todos os setores terão de se adequar ambientalmente, caso contrário, não irão sobreviver no mercado – afirma.

A resistência dos biodigestores

Uma das tecnologias mais populares para reduzir custos e diminuir os impactos da produção no meio ambiente, o biodigestor encontra terreno cativo na suinocultura.  Espécie de câmara fechada, o biodigestor estimula a decomposição de dejetos da criação animal em condições anaeróbicas (sem a presença de oxigênio). Durante o processo, é liberado o biogás. Os efluentes líquidos resultantes do procedimento, chamados de digestato, também podem ser utilizados como fertilizantes.

De acordo com o pesquisador da Embrapa Suínos e Aves, Airton Kunz, os aparelhos utilizados hoje, no Brasil, são herança da onda da biodigestão da década de 1990. Para o especialista, na época, acreditou-se que a tecnologia viabilizaria o avanço ambiental do país, a partir da redução da emissão de carbono – o que não ocorreu.

– Por limitação do processo, os biodigestores não corresponderam às expectativas de volume de redução do impacto ambiental. A instabilidade do mercado de carbono também contribuiu – explica.

Granjas de médio e grande porte que apostaram no sistema, mesmo depois de passada a onda da década de 1990, aprovam os resultados e perpetuam a prática. Empresa de Videira (SC), a Master Agropecuária gerencia 11 unidades de produção de suínos, com total de 35,2 mil matrizes e 230 parceiros integrados. Em 2004, com apoio da multinacional Bunge, investiu R$ 3,5 milhões na construção de biodigestores para todas as plantas. A sociedade terminou, mas a Master decidiu investir no projeto.

Em 2011, o grupo catarinense adquiriu a granja São Roque, também em Videira, e fechou parceria com as Centrais Elétricas de Santa Catarina (Celesc) para comercialização de energia elétrica produzida pelo sistema de biodigestão da unidade. O excedente energético da granja é inserido diretamente na rede.

– Sustentabilidade é pré-requisito. Estou há 20 anos no mercado e já vi muitas flutuações. Tem de se estar preparado. O ganho contribui para a permanência da atividade – afirma.

>>> Confira infográfico especial com o total de resíduos gerados pela agricultura e pela pecuária

 

>>> Acesse o estudo completo do IPEA

 

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