? Não me vejo fazendo outra coisa, sou muito feliz aqui ? diz ela.
? Quando eu ia pensar que você pega um monte de jornal, agrega valor a ele e vende de novo?
Ângela tem o perfil de um novo tipo de trabalhador que está surgindo da luta contra o aquecimento global. O “Emprego Verde” é o nome que foi cunhado pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) para definir as atividades relacionadas à tecnologia ambiental e geralmente está relacionado à indústria, construção civil, fontes de energia renováveis, serviços, turismo e agricultura.
Segundo o relatório “Empregos Verdes: Trabalho Decente em um Mundo Sustentável e com Baixas Emissões de Carbono”, divulgado nesta quarta, dia 24, pela OIT, em parceria com o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), a reciclagem é o “emprego verde” que abriga a maior parte dos postos de trabalho no Brasil. São 500 mil pessoas vivendo do lixo produzido nas grandes cidades. Quase nada comparado à China, quem tem 10 milhões de trabalhadores na “gestão de dejetos”.
Junto com Ângela, na Cortrap, 150 famílias se sustentam a partir do reaproveitamento do lixo. E o objetivo é atingir a marca de 250 famílias.
? A gente precisa atingir essa marca para cumprir o projeto que temos com o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social). Eles já nos deram uma empilhadeira e dois caminhões. Agora, para ganhar uma máquina de triturar pet precisamos aumentar o número de cooperados e vamos conseguir ? explica Ângela.
Mas, segundo o relatório, nem todos os empregos com reciclagem podem ser considerados “verdes”, porque alguns causam muita poluição. As indústrias de papel, celulose, cimento, ferro, aço e alumínio são as maiores vilãs ambientais, segundo o relatório, porque consomem muita matéria-prima e energia. O processo de reaproveitamento do ferro gasta entre 40% e 75% menos energia que a primeira produção. Já para reciclagem, esses estão entre os materiais mais rentáveis. Papel branco e garrafas pet são os que têm preço mais alto na hora da venda para as indústrias de reciclagem, cerca de R$ 0,12 e R$ 0,28 respectivamente. Já o ferro, tem preço baixo, mas pelo peso acaba valendo a pena, segundo Ângela.