No Brasil, existe um descompasso entre a produção nacional de trigo e o tipo consumido pela indústria, 60% dos mais de 10 milhões de toneladas de trigo que devem ser consumidas até o fim do ano pelos moinhos são do tipo panificação, de melhor qualidade. No entanto, a produção nacional é focada em um tipo de produto de menor qualidade, que é matéria prima para a produção de bolachas, ração animal e farinha de uso doméstico.
Este cenário faz com que a lavoura de trigo perca espaço para a de milho, onde a demanda pelo grão está aquecida e os preços no Brasil e no mercado internacional estão altos. Apesar disso, muitos produtores continuam cultivando o trigo, incentivados principalmente pela política de preços mínimos do governo federal. Segundo Pih, não cabe à indústria absorver toda a oferta.
? A indústria não está disposta a nada a não ser qualidade e preço. Esta é a responsabilidade do segmento, de comprar o trigo mais barato e de melhor qualidade onde tiver. O governo deve direcionar, estimular e desestimular as coisas, não cabe ao setor privado qualquer ação social de suportar o custo de produção nacional ? aponta Pih.
Por outro lado, o presidente da Associação Brasileira da Indústria do Trigo (Abitrigo), Sérgio Amaral, afirma que os moinhos podem financiar o ajuste da produção nacional.
? Se nós conseguirmos ajustar melhor aquilo que é produzido com aquilo que é demandado vamos ter um mais rápido e mais natural escoamento de safra. O governo não vai ter que comprar e intervir. Em certas regiões são os próprios moinhos que tem o entendimento direto com os produtores para que eles produzam o tipo de trigo que o mercado demanda. Os moinhos, por vezes, financiam, e mais do que isso, assumem o compromisso de compra ? explica Amaral.
Como solução para deixar o trigo nacional mais competitivo e facilitar a comercialização, Sérgio Amaral aponta o desenvolvimento de outras variedades de sementes.
? Existem os produtores de sementes privados, que estão inteiramente alinhados com este processo, eu tive reunião com alguns deles e eles estão oferecendo equipamentos e métodos de identificação da qualidade do trigo para facilitar essa melhora das sementes. A Embrapa está fazendo um trabalho importante nessa seleção ? disse o presidente da Abitrigo.
Lawrence Pih afirma que o governo deve ser o principal agente para estabilizar o mercado.
? Deveria baixar o preço mínimo ao preço internacional de trigo de acordo com o nosso câmbio e estimular o trigo de qualidade com preço diferenciado do trigo que não tem demanda no mercado interno ? apontou.