Falta de conhecimento com relação às áreas de refúgio faz muitos agricultores cultivarem a tecnologia com resistência às lagartas de maneira errada
João Henrique Bosco | Missal (PR)
A adoção de refúgio para o cultivo da soja RR2, também conhecida como soja Bt, ainda desperta dúvida nos agricultores. A tecnologia foi lançada comercialmente na safra 2013/2014. Depois de duas safras, falta consenso e sobram dúvidas.
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Basta percorrer as lavouras e conservar com os produtores rurais da região de Medianeira, no oeste do Paraná, onde o plantio da soja convencional foi praticamente abolido. Todos sabem que precisam reservar um espaço para a área de refúgio para a tecnologia RR2, mas os próprios agricultores admitem que não é uma prática comum.
– Na nossa microrregião, as propriedades são todas pequenas e a RR2 é uma soja de tecnologia mais avançada, que necessita de uma área de refúgio. No meu caso, eu estou plantando a RR2, os meus vizinhos estão plantando a RR1, então não há necessidade de eu plantar refúgio nesta área – argumenta o produtor rural Jair Berta.
Confiar na lavoura do vizinho é um erro, que segundo o agrônomo da Monsanto, empresa detentora da tecnologia, pode ser um equívoco fatal.
– O refúgio deve ser feito dentro da área do produtor. Se pensar que está feito na área do vizinho, ele também pode estar cultivando o Bt, pensando que o vizinho está plantando convencional. No fim, o cenário fica de 100% soja Bt nas duas fazendas – alerta o agrônomo Lucas Marcolin.
• Entenda o papel do refúgio na preservação da tecnologia Bt
Jari Berta plantou 20 hectares com uma cultivar de ciclo longo da tecnologia RR2. E em um intervalo de 10 a 12 dias vai plantar 60 hectares de ciclo médio com a RR1, confiando que a soja transgênica de primeira geração sirva como área de refúgio.
– A RR1 faz o papel de refúgio para esta cultura – justifica Berta.
Refúgio correto
A RR1 pode até ser utilizada como área de refúgio, desde que seja plantada no mesmo ciclo que a soja Bt. Separar as duas tecnologias em ciclos diferentes de nada adianta. Este é um erro muito comum praticado pelos produtores.
– Isto faz com que você não combata a praga 100%. Se você combater 100%, quais vão fica? Somente as resistentes e, com o passar dos anos, você só terá as pragas resistentes ou plantas daninhas resistentes – explica o pesquisador da Embrapa Luiz Miranda.
O assunto é tão relevante que na safra passada foi criado um Grupo de Trabalho com o objetivo de regulamentar a adoção de refúgio para as tecnologias Bt, que têm resistência a insetos. Mas, passado um ano, o projeto não saiu do papel. O que continua valendo são as recomendações das empresas detentoras da tecnologia.
– Se a gente vacilar, vamos acabar perdendo a tecnologia no controle de lagartas. Então temos que fazer tudo certinho para conservar esta tecnologia por mais tempo – afirma o produtor Remi Conti.
No caso das lavouras de soja, o refúgio deve ter, no mínimo, 20% da área plantada. Deve estar, no máximo, a 800 metros da lavoura com a soja RR2. A Embrapa Soja não considera estes números definitivos, mas acredita que estão muito próximos do bom senso.
A gente vem caminhando no aprendizado, vem angariando mais resultados de pesquisa, maior embasamento técnico, até para conversar com o produtor e mostrar que fazer a área de refúgio não é nenhum bicho de sete cabeças. Ele pode plantar a RR1 tão produtiva como a RR2, mas o importante é que sincronizem o processo produtivo e o de colheita – reforça Luiz Miranda.
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