Segundo o estudo, porém, o avanço depende de políticas públicas que ofereçam suporte para o desenvolvimento das fontes de energia limpa.
? Com o suporte de políticas na área climática e energética, as fontes renováveis podem contribuir significativamente para o bem-estar do homem e estabilização do clima ? defendeu o professor cooresponsável pelo trabalho de 120 pesquisadores, Ottmar Edenhofer. O grupo reuniu os pesquisadores na compilação do relatório de 900 páginas publicado nesta segunda.
O analista do Instituto de Estudos do comércio e Negociações Internacionais (Ícone), Rodrigo Lima, considera o documento positivo para o Brasil.? O relatório é importante para mostrar aos países que limpar a matriz energética é uma das grandes saídas para reduzir emissões e acabar com a dependência de energia suja. O Brasil tem um diferencial muito grande em relação a outros países, por conta do tamanho e da disponibilidade de terra. Precisamos usar isso ao nosso favor ? informa.
Segundo o especialista, o documento reconhece a eficiência do etanol de cana-de-açúcar. Destaca também a importância da energia de biomassa, como a do bagaço da cana.
? Nenhum país do mundo tem isso. O Brasil tem e vai conseguir explorar isso usando sustentavelmente a sua terra, sem desmatamentos, sem gerar emissões indiretas. O ponto é conseguir expandir isso, para que o país tenha mais de 50% da matriz limpa. Essa é uma energia adormecida. Pois há questões regulatórias relacionadas a leilões de energia, para fomentar as linhas de transmissão e a venda dessa energia gerada nas usinas atualmente, para uma matriz que abasteça o Brasil. Principalmente nos períodos de seca, ou seja, a bioeletricidade é totalmente complementar às usinas ? afirma.
O estudo afirma que uma participação maior das fontes de energia renováveis pode reduzir de 220 a 560 gigatoneladas a emissão de gases causadores de efeito estufa entre 2010 e 2050. O volume representa redução de 33% nas projeções baseadas nos modelos atuais de emissão de poluentes.
Essa diminuição permitiria manter a concentração de gases em 450 partes por milhão (ppm) na atmosfera – nível que os cientistas consideram necessário para evitar o avanço da temperatura global em 2ºC até o final do século, conforme o objetivo da Convenção do Clima da ONU.
Para corresponsável pelos grupos de trabalho, Ramon Pichs, os países em desenvolvimento têm papel central na adoção dessas práticas. Segundo ele, nesses países há uma população de 1,4 bilhão de pessoas sem acesso a energia elétrica atualmente, mas que será consumidora no futuro.
? Por isso, países em desenvolvimento têm as melhores condições para o avanço das fontes de energia renováveis ? afirmou.
Critérios
O estudo fez uma avaliação de quatro possíveis cenários para as próximas quatro décadas, levando em conta o crescimento da população, o consumo de energia per capita e a eficiência da produção e consumo de energia, além de outras variáveis, como o custo-benefício das fontes renováveis. No cenário considerado mais otimista pelo IPCC, 77% de energia seriam provenientes de fontes renováveis, enquanto no pior cenário esse índice ficaria em 15%.
O estudo lembra que, em alguns casos, a geração de energia limpa ainda não é viável economicamente. No entanto, se forem contabilizados os custos monetários dos impactos ambientais, como a emissão de poluentes, cada vez mais tecnologias limpas passarão a ser atrativas também sob o ponto de vista econômico.