Renovação acima da expectativa dos canaviais e falta de investimento em usinas marcam ano do setor sucroenergético

Produtores e usinas enfrentam desde 2008 uma das piores crises da históriaO ano de 2012 chega ao fim com um aumento acima da expectativa na renovação dos canaviais, superior a 20%. Mesmo assim, a notícia não é suficiente para animar o setor sucroenergético, que sofre com a falta de investimento em novas usinas e com a diminuição da mistura do etanol na gasolina. A expectativa para 2013 é de que o governo volte atrás e restabeleça o índice antigo da mistura, que era de 25%.

Produtores e usinas enfrentam desde 2008 uma das piores crises da história. Muitas usinas foram fechadas, muitas entraram em recuperação judicial e as que estão em atividade trabalham abaixo da capacidade. Para os produtores, os preços estão baixos e a taxa de renovação dos canaviais estão aquém do necessário.

Logo no começo de 2012 o governo federal anunciou uma linha de crédito de R$ 4 bilhões  para a renovação dos canaviais e ampliação da área plantada, mas produtores e indústrias tiveram muita dificuldade para conseguir acessar os recursos.

— Foi uma linha bem desenvolvida, com carência de até cinco anos para pagar, mas por ser o primeiro ano que o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) opera uma linha de plantio, muitos problemas foram encontrados. No primeiro momento as empresas com capital estrangeiro não podiam tomar dinheiro do BNDES, problema resolvido só em novembro. Tivemos ainda ajustes de questionamentos ambientais. Tudo isto foi resolvido e ainda 50% do recurso foi contratado por empresas do setor — comenta o diretor da União da Indústria de Cana-de-açúcar (Unica), Antônio de Pádua.

Outra importante medida anunciada pelo governo foi o programa de  apoio ao setor sucroalcooleiro, que permitiu a construção de tanques adicionais para estocagem de etanol nas usinas. A Unica estimava no começo da safra uma moagem de cerca de 500 milhões de toneladas e de uma produtividade baixa, por causa do clima e da falta de renovação dos canaviais.

— Nós iniciamos a safra com uma perspectiva muito ruim. Havia cenários de uma redução muito forte na oferta de cana. A Unica fez a primeira estimativa em 508 milhões de toneladas, mas aconteceu uma mudança muito forte de clima. Em janeiro, fevereiro e março faltou água. As empresas postergaram entre 15 e 20 dias o início da moagem — afirma Pádua.

Depois de um início de safra ruim, o clima ajudou e as perspectivas melhoraram.

— E quando chega a maio, junho, uma condição climática muito boa, volta a crescer e não parou mais. De junho a agosto a cana voltou a vegetar e o pessimismo foi alterado — completa o diretor da Unica.

— Foi, de novo, um ano atípico pelas condições de mercado, pelas condições de clima. No entanto, um ano de recuperação de produção. A produtividade agrícola deve crescer mais de 8% na região Centro Sul. Nós devemos encerrar a moagem na região com cerca de 530 milhões de toneladas de cana processadas contra 493 milhões de toneladas do ano passado — diz o presidente da consultoria Datagro, Plínio Nastari.

Mesmo com os canaviais apresentando uma melhora na produtividade, os agricultores não ficaram satisfeitos. Eles reclamaram dos baixos preços da matéria prima. E durante todo o ano o que marcou o setor sucroenergético foram as criticas a política energética brasileira.

— Não justifica o preço da gasolina estar subsidiado ao consumidor e este tipo de política desestimula investimentos. Quem é que vai investir em ampliação da capacidade de moagem para fabricar mais etanol nesta circunstância e isto está causando desestímulo e quando ocorrer o estímulo, leva-se de dois a três anos para que você tome a decisão de fazer o investimento e que ele esteja disponível, é o tempo que leva pra você construir mais capacidade — afirma Nastari.

Para 2013, a expectativa é que as coisas comecem a mudar e o setor restabeleça uma ordem natural de retomada de crescimento.

Clique aqui para ver o vídeo