Em entrevista ao Agribusiness Online, Camargo Neto lamentou que mesmo depois da recente liberação do mercado chileno para a carne suína brasileira não tenham sido feitos negócios.
? A carne suína não tem certificado aprovado. Fizeram uma festa 15 dias atrás. Demoraram seis meses para reconhecer (o status sanitário do Brasil). O Chile trata o Brasil de uma maneira desagradável ? protestou.
Ele lembrou, porém, que o Brasil é um grande importador de frutas e de pescados provenientes do Chile. E citou o fato do Paraguai poder exportar carne para o mercado chileno, fato que motiva a aquisição de empresas paraguaias por frigoríficos brasileiros.
? É uma discriminação, uma má vontade que até entendemos de grandes países, mais distantes. Reconhecemos que o Brasil tem pequenos problemas, às vezes uma certa desorganização. Mas do Chile a gente não aceita. É um absurdo.
Por outro lado, o presidente da Abipecs ressaltou que há uma diversificação do mercado exportador para a carne suína brasileira, o que reduz a dependência das compras da Rússia, principal destino do produto nacional.
? Gostaríamos de ter a Rússia como nosso principal cliente, assim como na carne bovina, mas não com o peso que ainda tem para a carne suína. Precisamos diversificar mais.
Camargo Neto citou, entre os destinos da carne suína brasileira, países como Japão, México e Coréia do Sul. Mas reconheceu que o principal obstáculo para ampliar ainda mais a diversificação é vencer barreiras sanitárias.
Outra iniciativa do setor, segundo Pedro de Camargo Neto, é vencer o que chama de “preconceitos” contra a carne suína no mercado interno, principalmente em relação à alimentação.
? Temos uma linha de formadores de opinião, ações em congressos médicos, de cardiologia, de nutrição para mostrar que a carne suína não tem nada de gordurosa, nada de colesterol.
Banco Central
Pedro de Camargo Neto criticou também a atuação do Banco Central. Para o presidente da Abipecs, a instituição considera apenas a situação do mercado financeiro, deixando “de lado” o restante da economia brasileira. Na opinião dele, o Brasil poderia estar com taxas de juros mais baixas e taxa de câmbio mais favorável ao produtor.
? Parece que está olhando a saúde dos bancos, não da economia. É um momento muito difícil, em que o agricultor deve ter cuidado, estar muito preocupado com o seu hedge e suas contas.
Doha
Pedro de Camargo Neto disse que não acredita em solução para o atual impasse entre os países emergentes e desenvolvidos. A situação é difícil, segundo o presidente da Abipecs.
? Tem os Estados Unidos com os subsídios deles, agora com a nova Farm Bill (lei agrícola americana). A Índia sempre foi protecionista e vai continuar sendo.
De qualquer forma, ele considerou positiva a iniciativa do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, de tentar rearticular as conversas sobre a Rodada de Doha. Ressaltou, porém, que o presidente precisa “dar um puxão de orelhas nos seus negociadores”.
? Para ver se eles se decidam mais. Precisamos ganhar mesmo. Não é jogar para a torcida nem pelo empate.