? Se quisermos ser Mercosul para o mundo precisamos levantar as fronteiras regionais e ser um bloco ? resume o representante do Centro de Armadores Fluviais e Marítimos do Paraguai, Juan Carlos Muñoz Menna.
Sonia Tomassone, da Câmara Paraguaia de Exportadores de Cereais e Oleaginosas (Capeco), acredita que deve existir mais parceria tecnológica.
? No Paraguai só temos a tecnologia RR (Roundup Ready, da Monsanto). Precisamos de variedades adaptadas para o Mercosul, como a Embrapa já faz no Brasil ? disse.
Raul Roccatagliata, da Sociedade Rural Argentina, reclama das constantes intervenções do governo no mercado de grãos do país. Segundo ele, a agricultura é um negócio de médio e longo prazo, onde o produtor precisa ter previsibilidade.
O promotor do evento e diretor do Instituto de Estudos do Comércio e Negociações Internacionais (Icone), André Nassar, reconhece que o Mercosul falha ao não ter uma política comum para o setor, mas afirma que é preciso avançar. Segundo ele, entre as regiões produtoras de grãos, o Mercosul é a de maior potencial, pois tem uma agricultura de baixo carbono, com alto rendimento.
? Precisamos vender esse modelo para o resto do mundo. De uma agricultura competitiva que vende para todos os mercados ? apontou Nassar.
Conforme números computados no projeto “Processos de Abertura e Integração ao Comércio Internacional”, recém-concluído, o Mercosul responde hoje por 11% da produção de grãos do mundo e 24% das exportações. O potencial de crescimento anual é de 3,5% na produção e de 2,8% nas exportações. O estudo, realizado com recursos do Fundo Multilateral de Investimento (Fumin), do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), com foco nos desafios e oportunidades para o agronegócio do Mercosul, destaca que 20% da área que precisa ser expandida para atender a demanda por alimentos até 2020 está no Mercosul.
Esse cenário é positivo para o bloco, mas demandará investimentos. De acordo com Nassar, o Brasil tem potencial para aumentar a área plantada com grãos em 1,2 milhão de hectares por ano, sendo que 80% dessa área será sobre pastagens degradadas.
? Isso exigirá investimento, não só do produtor, mas de capital estrangeiro. Por isso, a nossa preocupação com a ideia de limitar o investimento estrangeiro no país ? disse André Nassar.
Juan Carlos Muñoz Menna, do Paraguai, destacou também a necessidade de investir em logística. No caso da hidrovia Paraná-Paraguai, a capacidade de transporte é limitada. Em 2010, foram movimentadas pela via 17 milhões de toneladas em 1,8 mil barcaças. Em 2011, serão 20 milhões de toneladas em 3 mil barcaças. Segundo ele, trata-se de um volume equivalente a 10% do que é movimentado ao longo do Mississippi, nos Estados Unidos.
? E não adianta aumentar o número de barcaças. Precisamos melhorar as condições de recebimento de mercadorias, da sinalização ao longo da via e do controle do tráfego. Precisamos capacitar recursos humanos. Logística exige atores com capacidade. ? afirmou Menna.
No caso da sanidade animal, os palestrantes veem uma preocupação cada vez maior do bloco em atuar em conjunto. Francisco Turra, presidente da União Brasileira de Avicultura (Ubabef), disse que o Brasil e o Paraguai tomaram decisões rápidas em relação ao foco de febre aftosa registrado no departamento de San Pedro e notificado na semana passada. Segundo ele, ações rápidas evitam maiores prejuízos ao setor de carnes.
? Só em frango, o Mercosul responde por 43% das exportações mundiais ? disse Turra.
Mercosul e União Européia
A organização dos países latino-americanos é importante para firmar alianças internacionais como o acordo de livre comércio que está sendo negociado entre o Mercosul e a União Européia. Segundo Raul Roccatagliata, ainda é necessário que haja uma maior integração e cooperação entre os integrantes do bloco. Somente assim o Mercosul ganharia força para poder impor regras e não apenas acatar as exigências de outros países.
André Nassar disse que o agronegócio do Mercosul é o setor que mais tem a ganhar caso as negociações avancem. Ele lembrou que o mercado europeu é o mais protecionista do mundo e o que impõe mais barreiras comerciais e não comerciais.
Analistas acreditam que os dois blocos possam fechar o acordo em 2012. No entanto, a representante da Associação Paraguaia de Produtores, Sonia Tamassone, não acredita que esta meta seja atingida. Segundo ela, as exigências da União Européia estão longe de serem atendidas.
Um avanço significativo são os setores que já estão se organizando. As entidades que representam o setor avícola, no bloco sul-americano já trabalham de forma conjunta e tem conversado diretamente com a Uniao Européia.