As discussões, fechadas à imprensa, são preparatórias para a cúpula que será realizada em junho, em Paris. A abertura do encontro, único momento que os jornalistas puderam acompanhar, contou com a presença do ministro de Economia da Argentina, Amado Boudou, que voltou a responsabilizar os fundos de investimentos pela alta das commodities agrícolas.
? A volatilidade dos preços dos alimentos está relacionada à especulação financeira dos fundos dos investimentos ? disse Boudou.
O ministro de Agricultura argentino também acusou o mercado financeiro e rejeitou qualquer regulação dos preços dos alimentos, como propõe o governo francês.
? Não vamos permitir que a volatilidade dos preços sacrifique o esforço dos produtores argentinos ? afirmou Domínguez, defendendo o aumento da produção agrícola.
? Se queremos evitar os sobressaltos temos que conseguir mais produção, mais tecnologia com um processo genuíno de crescimento e desenvolvimento. Há milhões de habitantes que nos reivindicam um diálogo responsável em torno da produção de alimentos e é nosso dever satisfazer a demanda de alimentos, segundo o pedido no último encontro da FAO ? disse Domínguez.
Ele destacou que o paradigma de intercâmbio mundial mudou.
? Hoje, os países com maiores perspectivas de futuro são os que produzem alimentos (…). Junto com Brasil, Paraguai e Uruguai, produzimos 300 milhões de toneladas de oleaginosas, e estamos em condições de garantir a alimentação de 1,2 bilhão de habitantes no mundo ? destacou.
Domínguez afirmou que o objetivo dos países do Mercosul “é o conhecimento e a transferência tecnológica a serviço do desenvolvimento agroalimentar com valor agregado na origem, para oferecer alimentos ao mundo”.
O ministro francês, por sua vez, recordou que o presidente Nicolas Sarkozy decidiu colocar a problemática dos preços dos alimentos na agenda da reunião de cúpula do G-20, no próximo mês. Le Maire afirmou, em duas oportunidades, durante discurso de abertura, que “é contra as políticas protecionistas”.
As declarações surpreenderam participantes, já que a União Europeia, especialmente a França e a Alemanha, sustentam elevados subsídios agrícolas aos seus produtores e dificultam a entrada dos produtos competitivos do Mercosul em seu mercado.
Le Maire deixou claro que a França defende que as commodities agrícolas e matérias-primas devem ser reguladas e controladas como ocorre com os mercados financeiros. Segundo ele, só assim será possível dar transparência à comercialização desses produtos.
? Essa questão é tão importante quanto a energética ? disse ele.
Le Maire também defendeu o incentivo ao aumento da produção agrícola, mas observou que é preciso desenvolver políticas de defesa do meio ambiente e de uso racional dos agroquímicos.
No primeiro dia do encontro não houve participação de representantes brasileiros, segundo a programação. O Ministério de Agricultura disse que a ausência brasileira deve-se ao fato de que o Mercosul está representado pelo ministro Julián Domínguez. Participam dos debates, que prosseguem nesta sexta, dia 20, representantes da FAO, BIRD, BID e FMI.