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Resíduos Agropecuários: produtores rurais ainda não identificam oportunidade de negócios no reaproveitamento orgânico

Para especialistas, falta de conhecimento técnico limita desenvolvimento da sustentabilidade no campoImagine 1,7 bilhão de toneladas de dejetos. O astronômico volume escatológico foi calculado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) com base apenas na produção de bovinos, suínos e aves de 2009 no Brasil. Mais de 70% desse montante é jogado diretamente no ambiente, o que provoca duas consequências: impacto ambiental e desperdício de matéria-prima.

O reaproveitamento de resíduos sólidos não é novidade. Desde a década de 1970, quando os primeiros biodigestores (aparelhos utilizados para a geração de energia) foram implantados no Brasil, variantes de produção sustentável espalharam-se pelo país e pelas mais diferentes atividades agropecuárias. Na cultura do arroz, por exemplo, quase 100% da casca do grão é aproveitada em novos produtos, que vão de cosméticos a polímeros plásticos.

De acordo com o consultor do Instituto para o Agronegócio Sustentável, Ocimar Villela, a falta de conhecimento técnico limita o produtor rural, que evita se arriscar em métodos que fogem à sua linha de atuação. A burocracia nos programas de crédito oferecidos pelo governo federal para sistemas sustentáveis também frustra o desenvolvimento.

– O produtor está aberto a mudanças, mas falta capital. O resultado não acontece, principalmente, para o pequeno e médio produtor – sustenta.

Amaury Cezar Macedo, engenheiro agrônomo que presta consultoria em sustentabilidade no campo, concorda com Villela. Para ele, a produção sustentável emperra nas pequenas e médias propriedades, por conta da falta de capital. No entanto, para ele, na hora de considerar a utilização de um método sustentável, o homem do campo ainda se atém aos custos.

– A primeira coisa que o agricultor ou pecuarista pergunta é “quanto é que eu vou ter de gastar?”, quando, na verdade, deveria questionar “qual será meu ganho econômico e ambiental?” – afirma.

Contudo, um importante passo na gestão pública do país deve auxiliar a transformar esse cenário. A aprovação do Plano Nacional de Resíduos Sólidos, em 2011, criou um marco regulatório para o reaproveitamento. De acordo com o plano, municípios devem, obrigatoriamente, apresentar planos para a coleta seletiva e o tratamento dos dejetos orgânicos. No que tange à agropecuária, a principal orientação é utilizar os resíduos para a produção de energia.

De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE), os resíduos secos da agroindústria da cana-de-açúcar no país têm capacidade para gerar 16.464 MW por ano. Ou seja, potencial energético superior ao da Usina de Itaipu.

> Confira os números de resíduos sólidos gerados por diferentes segmentos da agropecuária:

Agricultura

– Soja: 41,9 milhões de toneladas por ano
Milho: 29,4 milhões de toneladas por ano
Laranja: 8,8 milhões de toneladas por ano
– Trigo: 3 milhões de toneladas por ano
– Arroz: 2 milhões de toneladas por ano

Pecuária

– Gado bovino: 1,6 bilhão de toneladas por ano
– Aves: 28 milhões de toneladas por ano
– Suínos: 20 milhões de toneladas por ano

> Acesse o estudo completo do IPEA

>>> Esta é a primeira matéria da série especial Resíduos Agropecuários: Sustentabilidade e Renda, que passará a ser publicada todos os sábados no RuralBR até meados de junho. As reportagens mostrarão como o reaproveitamento movimenta a economia brasileira e que iniciativas estão sendo realizadas por agricultores e pecuaristas do país.

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