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Responsabilidade ambiental, produção de alimentos e geração de renda permeiam universo da fumicultura no Sul do país

Para presidente da Afubra, diversificação das lavouras e práticas sustentáveis são requisitos para desenvolvimento da atividadeContar a história da cadeia produtiva do tabaco no Brasil é falar sobre o desenvolvimento de grande parte da região Sul do país, na opinião do presidente da Associação dos Fumicultores do Brasil (Afubra), Benício Werner. Pudera, já que, conforme dados levantados pela entidade, mais de 95% da produção nacional de fumo é desenvolvida em 704 dos 1188 municípios do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná. A atividade tem sua rotina atrelada a ações de preservação do meio ambiente, orientadas por

A cultura, que na safra 2010/2011 gerou receita de R$ 9,3 bilhões em impostos arrecadados, no entanto, enfrenta obstáculos em função do clima. A estiagem que atingiu os Estados do Sul no final do ano passado provocou prejuízos devastadores na agricultura. Na produção de fumo, somente no Rio Grande do Sul, a quebra na safra atual chega a 22%, aponta levantamento da Federação da Agricultura do Estado (Farsul). Werner, que teve ensinamentos sobre o cultivo transmitidos pela família, no pequeno município de Vale do Sol (RS), onde foi criado, vê na diversificação das lavouras uma solução para que a atividade se mantenha viva e rentável. Isso porque, segundo ele, somente com o suporte de mais de uma fonte de renda o produtor garantirá segurança suficiente para seguir com a lida no campo.

– A diversificação é uma bandeira que a Afubra sempre levantou. Antigamente, a concepção era de que se deveria produzir outras culturas somente para consumo próprio. O que excedia era comercializado. Vendiam sobras que iam parar nos armazéns. Hoje, o fumicultor produz alimentos de qualidade para consumir e também para vender. E o objetivo é justamente esse: ter mais uma atividade economicamente viável, que sirva como alternativa, caso haja perdas de produção do tabaco ou qualquer outro problema – explica.

Ocupar parte da propriedade com outras cultivares também permite a redução da área plantada com fumo. De acordo com o dirigente, a medida é sinônimo de lucratividade, já que, com um volume menor do produto no mercado, é possível negociá-lo por preços mais favoráveis ao produtor. A expectativa da associação para 2012 é de que a extensão das lavouras cultivadas com tabaco, de 373 mil hectares no ano passado, registre queda de, pelo menos, 10%.

– O clima afeta a produtividade e as chuvas não foram regulares nesta safra. Então, além da queda na qualidade, por causa da seca, com tanto fumo disponível, tem menos dinheiro. Temos que trabalhar para não ter uma oferta maior do que a demanda – ressalta.

Restrições à indústria

Uma das preocupações do segmento nos últimos meses diz respeito às últimas medidas restritivas impostas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Em especial, sobre a norma que limita o uso de alcatrão, nicotina e monóxido de carbono nos cigarros comercializados no Brasil, de fabricação nacional ou importados. O texto também restringe o uso de aditivos em todos os produtos manufaturados derivados do tabaco. Produtores e indústria apontam que pode haver um crescimento descontrolado do comércio ilegal.

– A dimensão disso é uma grande incógnita. Não se sabe como o consumidor vai reagir, porque mexe com o sabor do produto. Então, há um risco enorme de que ele passe a buscá-lo no mercado irregular. Todo mundo vai perder – diz o presidente da Afubra.

A determinação da Anvisa, comemorada por órgãos oficiais e Organizações Não-Governamentais (ONGs) antitabagistas, é, no entanto, apenas uma das diversas decisões nesta mesma direção, orientadas pelas diretrizes da Convenção-Quadro para o Controle do Tabaco da Organização Mundial da Saúde (CQCT-OMS) no Brasil. Trata-se do primeiro tratado internacional de saúde pública do mundo, que conta com a subscrição de 174 países membros da OMS. A convenção, ratificada pelo país em 2005, orienta a implantação de políticas públicas que apoiem o combate ao tabagismo, considerado pela OMS uma epidemia não transmissível e mundial.

Alguns números do setor

Na safra 2010/2011, a produção de fumo no país envolveu 742 mil pessoas no meio rural, com 833 mil toneladas produzidas. A receita gerada aos agricultores chegou a R$ 4,1 bilhões. Na indústria do tabaco, o número de empregos diretos atingiu a marca de 30 mil. Segundo maior produtor da folha no mundo, atrás apenas da China, o Brasil exporta 85% do volume processado anualmente. Conforme dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Índia e Estados Unidos aparecem logo depois no ranking mundial.

A qualidade do produto destinado ao mercado externo, conforme explica Werner, é rigorosamente controlada por meio da rastreabilidade. A tecnologia permite ao comprador acessar dados do histórico da planta.

– Em uma safra normal, o Brasil tem qualidade superior à maioria dos países. Fica atrás apenas de Estados Unidos e Zimbabwe. Não é um fumo que serve só para enchimento. Ele tem sabor – pontua o dirigente.

Sustentabilidade

Consciência ambiental é um dos pontos-chave do segmento, segundo o relato de Werner. Com programas de conscientização, reuniões periódicas e visitas realizados pela Afubra, Sindicato Interestadual da Indústria do Tabaco (SindiTabaco) e empresas associadas, os produtores recebem orientações sobre práticas sustentáveis. Ele acrescenta que há ainda monitoramento via satélite, que garante a proteção à mata nativa nas propriedades. Além disso, as empresas beneficiadoras da folha são responsáveis por projetos sociais e ambientais, conduzidos individualmente ou em parceria com o governo, entidades nacionais e internacionais.

– Essa orientação transmitida pelas indústrias é obrigatória, seguindo as regras do sistema integrado de produção. Os produtores só podem utilizar, por exemplo, lenha energética nas estufas. Plantam árvores específicas para isso e até os fornecedores levam aos fumicultores somente a madeira permitida para uso. Há sensibilidade ambiental inclusive nas crianças. A Afubra, por sua vez, também realiza diversos projetos voltados para todas as idades. Desde ações que estimulam a preservação da mata até o reaproveitamento de óleo de cozinha e o recolhimento correto de embalagens de agrotóxicos – explica.

Levantamento de 2011 da associação indica que o índice de cobertura florestal das propriedades de tabaco no país é de 29% – número comemorado pela entidade e também pelo SindiTabaco. Pelo menos 40% dos produtores utilizam práticas conservacionistas do solo, como o plantio direto ou cultivo mínimo, ainda segundo o estudo. Nos últimos cinco anos, foram fornecidas 140 milhões de mudas para reflorestamento e 7,9 milhões de embalagens de agrotóxicos foram recolhidas gratuitamente em 2,6 mil localidades rurais.

>>> Leia mais notícias sobre a fumicultura no site Agrotabaco

>>> Esta é a primeira matéria da série Tradição e renda: a produção de tabaco no Sul do Brasil. As reportagens serão publicadas no RuralBR até esta sexta, dia 13, e apresentam as peculiaridades da cadeia produtiva do tabaco no Sul do Brasil. São histórias que mostram a realidade da cultura que move a economia de uma região, desenvolvida principalmente por agricultores familiares.

* A jornalista viajou ao Vale do Rio Pardo a convite do Sindicato Interestadual da Indústria do Tabaco (SindiTabaco).

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