O bate papo dos pecuaristas e produtores revela um sentimento coletivo: o agronegócio foi pouco lembrado durante a campanha eleitoral.
? A gente teve discussão quanto a índices de produtividade, com relação a áreas de preservação, as APPs de reserva legal. Foi uma discussão que ficou super acalorada um ano e meio atrás e, nas vésperas da eleição ou na época da campanha, esses assuntos foram absolutamente esquecidos e guardados numa gaveta. E são assuntos bastante controversos e difíceis de a gente ter uma opinião de consenso até mesmo entre os produtores ? avalia Elizabeth.
? São temas que são importantíssimos para o nosso negócio e aparentemente não foram debatidos suficientemente, talvez porque grande parte da população hoje está ligada aos centros urbanos ? diz o produtor rural Luís Bezerra.
O foco acabou indo parar em assuntos de interesse geral e com pouca profundidade. Os produtores criticam ainda a lentidão do Congresso para analisar os projetos que parece ainda maior em ano de eleição.
? Algumas mudanças propostas podem atingir diretamente a produção do país. Então, isso nós esperávamos que já tivesse sido votado, debatido e concluído. Quando os temas se arrastam, gera intranquilidade no setor, sem dúvida alguma ? afirma o produtor rural Cláudio Ribeiro.
Cientistas políticos e especialistas em agronegócio concordam com os produtores. Para eles, a eleição de 2010 ficou marcada por discussões antigas, projetos urbanos e pela falta de definição para alguns dos assuntos mais importantes do campo.
? Se discutiu muito pouco de conteúdo dos projetos propriamente. Essa eleição ficou muito mais na coisa espetaculosa, da grande manchete. Foi uma discussão um pouco moralista, religiosa de vez em quando, mas de pouca substância dos projetos que cada candidato portava. O candidato José Serra dizia que terminaria com o MDA e juntaria num único Ministério, o que teria consequências bastante importantes pro desenvolvimento da agricultura na sequência. Houve um debate mais no nível das assessorias técnicas ou do pessoal que é propriamente do meio, mas que pouco chegou até o público através da grande imprensa ? analisa o especialista em desenvolvimento rural Carlos Mielitz.
? Realmente, embora os debates presidenciais não tenham incorporado o tema agrícola, no programa de governo da presidente eleita, as nossas propostas foram consideradas. É preciso definir rapidamente assim que o governo comece, uma estratégia completa que incorpore todos os órgãos de governo, que traga pra esta discussão o parlamento brasileiro e o poder judiciário, na medida de se constituir um cenário nacional realmente apoiador do agronegócio ? defende o coordenador do centro de agronegócios da FGV, Roberto Rodrigues.
? Um dos líderes da bancada ruralista no Congresso Nacional, o deputado Luis Carlos Heinze (PP-RS) reconhece que existe uma lista de problemas a serem resolvidos e que os políticos deram pouca atenção. Entre os mais graves, está o endividamento agrícola.
? O Brasil inteiro hoje clama por uma solução para este problema das dívidas. Nós temos que acertar a questão dos custos. É imperioso esta situação. A carga tributária continua muito alta, o câmbio está matando, principalmente o setor que concorre. E vem fácil arroz, vem fácil trigo, hoje. Favorece quem importa, prejudica quem produz no mercado nacional. Esta questão do câmbio nós temos que acertar. Os juros matam. É extremamente importante nós acertamos esta questão dos juros ? lembra Heinze.
O clima de fim de ano enche todos de expectativas para o agronegócio em 2011.
? Esperamos agora que, como não foi discutido na campanha, que a senhora presidente aí dê uma atenção especial e que aproveite este potencial que o Brasil tem e que o mundo reconhece hoje o nosso potencial ? diz o produtor rural João Carlos Machado.