Retrospectiva 2011: confira os principais acontecimentos da política nacional

Primeiro ano de Dilma Rousseff no comando da Presidência da República foi de crise nos ministériosO ano de 2011 entra para a história como o primeiro em que o Brasil teve uma mulher assumindo o comando da presidência da República. Porém, no aspecto político, o que chamou mesmo a atenção foi a queda de ministros, já que sete deixaram o governo de Dilma Rousseff. Destes, seis sofreram suspeitas de corrupção. Até mesmo o Ministério da Agricultura foi atingido.

>> Reportagem faz parte da série Agronegócio 2011/2012 do Canal Rural

A posse de Dilma, no dia 1º de janeiro, foi acompanhada por uma multidão nas ruas. Três anos antes, escândalos derrubaram dois fortes ministros do PT e o então presidente, Luiz Inácio Lula da Silva, escolhe a chefe da Casa Civil à época para sucedê-lo. Depois de oito anos no Palácio do Planalto e com 87% de aprovação, Lula consegue dar continuidade ao governo. 
 
– Eu estou muito emocionada pelo encerramento do mandato do maior líder popular que este país já teve – disse a presidente eleita.
 
Apoiada por mais de 15 partidos, Dilma iniciou contando com ampla maioria na Câmara dos Deputados e no Senado. Porém, com tantos aliados para acomodar e herdando a maioria dos ministros de Lula, o céu de brigadeiro se transformou em tempestade. Logo vieram as denúncias e as quedas de ministros. Sem explicar como multiplicou o patrimônio em 20 vezes, no período de quatro anos, Antônio Palocci, foi o primeiro a sair. Homem forte do governo, deixou a Casa Civil em junho. 
 
O segundo a tombar, após suspeitas de superfaturamento e pagamento de propina, foi Alfredo Nascimento, dos Transportes. Em seguida, Nelson Jobim, da Defesa, deixou o governo por criticar outros ministros. Foi o único que não teve problemas com suspeitas de irregularidades.

Na sequêcia, Wagner Rossi caiu sob a acusação de uso político dos estoques da Conab e de fraudes nas licitações do Ministério da Agricultura. O substituto é amigo pessoal de Dilma, o deputado federal Mendes Ribeiro Filho. O analista político Creomar Lima diz que, mais importante do que avaliar as ações realizadas neste primeiro ano de governo na agricultura, é planejar o futuro a curto, médio e longo prazo.
 
– Muito mais do que peceber, já nesse momento, se houve uma melhoria ou não, o mais importante são os desafios que vão se colocar para a pasta no próximo ano. Nós temos, basicamente, o grande desafio que será a manutenção de mercados para os produtos agrícolas no Exterior, porque a crise econômica tende a se prolongar. Isso vai fazer com que países europeus, os Estados Unidos e os principais compradores de produtos brasileiros optem por políticas protecionistas – afirma.
 
As denúncias envolvendo o ministério do Turismo e o uso de funcionários públicos para fins particulares derrubaram Pedro Novais. Às vésperas da Copa e das Olimpíadas no Brasil, suspeitas de desvio de dinheiro do Programa Segundo Tempo tiram Orlando Silva da pasta do Esporte. Por fim, sob a acusação de comandar um esquema de cobrança de propina, Carlos Lupi deixa o Ministério do Trabalho. O cientista político André César explica a forma como Dilma comandou a situação.

– No caso da presidente Dilma, ela dá um prazo. Ela espera a questão avançar na imprensa, a evolução das denúncias, dos fatos. Aí, ela espera a defesa do ministro, como ele responderia àquelas denúncias. Caso não fosse suficiente essa resposta, ela demitia – aponta.
 
A imagem de gerente durona só amenizou em novembro, quando a presidente anunciou uma lei para portadores de necessidades especiais. César comenta o fato de Dilma ter chorado durante a comunicação.
 
– Isso é importante e ela não conseguiu segurar. Não foi algo forçado. Pelo contrário. Foi algo natural dela e isso é importante até para mostrar, reforçar um pouco da comunicação com a população – opina.
 
Antes de o ano terminar, novas denúncias. Desta vez, o Ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel, amigo de Dilma desde o tempo da ditadura, está sob suspeita de tráfico de influência quando deixou a prefeitura de Belo Horizonte e abriu uma empresa de consultoria.
 
Para evitar que o governo continue a reboque dessa onda de denuncismo e queda de ministros, a presidente Dilma Rousseff não vê a hora de o ano acabar. Já no início de 2012,  sob a alegação de que alguns ministros terão que sair para disputar as eleições municipais, ela pretende fazer uma reforma ministerial e finalmente tocar a chamada agenda propositiva. Dez, dos 38 ministros, devem ser substituídos. E alguns ministérios podem ser incorporados a outras pastas. É o caso do Desenvolvimento Agrário e da Igual Racial.
 
– Eu não usaria a palavra descarte. Primeiro, porque ela daria muitos problemas à presidente. Eu usaria o termo reacomodação. E isso acontece em democracias em momento de reforma ministerial. Você nunca pode descartar um aliado e, de certa maneira, acredito que tenha sido a lição que a presidente aprendeu de maneira mais efetiva nesse primeiro ano – analisa Lima.
 
– Os grandes temas, que a sociedade como um todo esperava, as reformas política, judiciária, administrativa, previdenciária, tributária ficaram em segundo plano. E mesmo assuntos mais importantes acabaram também ficando a reboque, como royalties do pré-sal, a questão do Código Florestal e outras de grande impacto na vida do sociedade – conclui César.