Retrospectiva 2011: Crise na Europa surpreende o mundo em 2011

Agronegócio não foi impactado, preços dos principais produtos agrícolas atingiram os maiores patamares da históriaA economia foi o foco das atenções em 2011. As dificuldades dos países ricos surpreenderam o mundo. O risco de um calote mexeu com os mercados. No agronegócio a situação foi bem diferente. Os preços dos principais produtos agrícolas atingiram os maiores patamares da história e garantiram boa rentabilidade aos agricultores.

>> Reportagem faz parte da série Agronegócio 2011/2012 do Canal Rural

Nos últimos dozes meses o Brasil teve que conviver com diversos cenários econômicos. Dólar desvalorizado e dólar valorizado, taxa básica de juros subindo e depois caindo, perspectivas positivas e negativas da economia mundial.

Desde o início do ano a Europa vinha sinalizando que não estava bem economicamente. A crise começou a se agravar no final do primeiro semestre, quando a União Européia aprovou a segunda parte do pacote de ajuda a Grécia. Por vários anos o país gastou mais do que arrecadou e por isso acumulou uma dívida superior a soma de todas as riquezas produzidas.

O mesmo problema afeta países como Portugal, Espanha e Itália. Os bancos da região também correm risco por serem credores destas dívidas. Os líderes da União Européia ainda não conseguiram achar uma solução eficaz para a crise.

Assim o ano se encerra com promessas e incertezas. Mesmo com este cenário internacional, no Brasil diversos setores da economia comemoram o ano de 2011. No agronegócio a crise passou longe. As commodities agrícolas atingiram os maiores preços da história e garantiram boa rentabilidade aos produtores.

A companhia Valtra, uma das principais do setor de tratores, colheitadeiras e implementos agrícolas, trabalhou com um mercado aquecido.

– 2011 está se encerrando como um ano muito bom para o setor de máquinas agrícolas. Estamos terminando o ano com uma excelente indústria, algo em torno de 52 mil tratores vendidos – conta o gerente de vendas Alexandre Vinicius de Assis.

Apesar do bom momento para o agronegócio, as indústrias e os produtores rurais tiveram que trabalhar durante todo o ano com grandes variações na cotação do dólar. A moeda começou o ano em torno de R$ 1,67 em janeiro, caindo gradualmente até atingir R$ 1,55 em julho, e voltou a subir até chegar a R$ 1,90 em setembro. Agora em dezembro gira em torno de R$ 1,80.

– O começo do ano para o exportador foi horrível. Até meados de julho, agosto só vislumbrávamos uma taxa caindo, prejudicando bastante o exportador e beneficiando o produto importado. A partir do final de agosto o Banco Central baixou a taxa de juros em 0,5%, de 12,5% para 12%. Isso inibiu um pouco o especulador estrangeiro e ao mesmo tempo começou a se agravar a crise na Europa – relata o economista da Fair Corretora, Mario Battistel.

Analistas tem opiniões divergentes em relação ao comportamento da moeda norte-americana nos próximos meses.

– Eu entendo que o Banco Central não vai deixar a taxa de câmbio ir muito além de R$ 1,90, R$ 1,92, R$ 1,93, porque isso significaria contratar inflação mais adiante – aposta o analista da RC Consultores, Fábio Silveira.

– Eu não acredito que ele vá tabelar em R$ 1,90. Eu acho que se o mercado continuar se valorizando do jeito que está, principalmente por causa de crise lá fora, de certa forma é uma maneira que o governo tem de impedir que as importações entrem, via preço mais caro, e acaba beneficiando a indústria nacional, que é o que ele quer em uma crise dessa – diz Battistel.

Diante da piora da economia internacional o Banco Central começou a reduzir a taxa básica de juros, a Selic. A queda gradual ajuda a manter a economia aquecida. Deixa o dinheiro mais barato para financiamentos e empréstimos e afugenta a entrada de capital estrangeiro especulativo, que vem atrás dos ganhos proporcionados pelos juros altos. A taxa selic iniciou o ano em 11,25%, foi sendo reajustada até chegar a 12,5% em julho. Em agosto, o Banco Central surpreendeu o mercado e iniciou uma série de cortes de meio ponto percentual, chegando a 11% ao ano.

Analistas concordam com a política monetária do Banco Central de redução da taxa de juros. Eles afirmam que este movimento deve continuar em 2012 e ajudar a economia e empresas a enfrentarem a crise.

– O Banco Central está bastante correto nessa política de redução de juros. Ele peitou o mercado na hora que tinha que peitar, maneja uma política monetária de uma maneira a deixar a inflação em um bom patamar e tenta reativar a economia no segundo semestre de 2012. Nós acreditamos que os juros Selic no final de 2012 esteja no patamar de 9%, que é uma taxa bem abaixo do que se imaginava tempos atrás – aposta Fábio Silveira.

A situação econômica mundial deve continuar complicada ao longo de 2012. Analistas afirmam que os problemas econômicos da Europa estão longe de serem resolvidos.

– Acredito que o mercado externo vá continuar ainda, porque o buraco é muito grande e não tem dinheiro para cobrir tudo isso – diz Battistel.

Já para o agronegócio brasileiro o horizonte não é tão sombrio. A demanda pelos produtos agrícolas deve continuar sustentando os preços e garantindo rentabilidade aos produtores, pois mesmo durante uma crise econômica, a alimentação é o último item a ser cortado pela população.

– A questão da crise européia não teve impacto ainda e esperamos que não tenha. Até porque nós produzimos e vendemos nossos produtos para produtores agrícolas. Acreditamos que no mundo existe cada vez mais uma necessidade de aumentar a produção de alimentos e torcemos que a crise não impacte nosso setor – conclui o gerente de vendas da Valtra.