Retrospectiva 2011: fenômenos climáticos provocam tragédias

Ano teve excesso de chuvas, estiagem, tempestades de granizo e transtornos provocados por cinzas de vulcãoA atuação do La Niña em períodos extremos de 2011 não chegou a provocar os devastadores efeitos previstos para a safra de verão, mas o ano foi marcado por tragédias, devido ao excesso de chuvas. No Paraná, no início do ano, fatores como a temperatura do Oceano Atlântico atenuaram conseqüências do fenômeno, como estiagem. O fato é comemorado pelo produtor rural Antonio Perucci.

– A gente teve uma boa surpresa. O La Niña não se manifestou com a intensidade com que estava sendo previsto. Com isso, tivemos uma boa quantidade de água disponível para o desenvolvimento da planta, das culturas de verão – diz.
 
O grande volume de chuva em janeiro beneficiou culturas como a soja, que estava no período de desenvolvimento dos grãos, conforme o chefe de pesquisa da Embrapa Soja, José Renato Farias.

– Não houve problema em relação à lavoura. Ficou bem suprida de água – afirma.

A situação foi diferente na região serrana do Rio de Janeiro, onde temporais provocaram deslizamentos, enxurradas e enchentes. Nas áreas de risco, cerca de mil mortes. Na zona rural, os desabrigados tiveram que abandonar as terras e foram alojados em ginásios de esportes. A lama desceu encostas de morros e arrastou tudo o que havia pela frente, segundo conta o produtor rural Edmar da Rosa.

– Nasci de novo. Minha filha de 20 anos nasceu, a minha garotinha de quatro anos nasceu – lembra.

As lavouras que ficam abaixo das encostas desapareceram no meio do barro. No interior de São Paulo, lavouras inteiras também ficaram debaixo d’água. Houve prejuízos na produção de hortaliças, frutas e flores. Na Capital, a Ceagesp, principal central de abastecimento do Estado, também foi atingida. Em Minas Gerais, temporais acompanhados de ventos fortes e granizo assustaram os moradores. No mesmo período, o Rio Grande do Sul enfrentou uma forte seca.

Na região próxima à fronteira com o Uruguai, foram dois meses sem chuva. Faltou água até mesmo para o consumo diário dos habitantes. A estiagem refletiu nas pastagens e os produtores rurais precisaram optar sobre a melhor forma de usar o que sobrou nos reservatórios.

De acordo com meteorologistas, o inverno de 2011 foi caracterizado pela neutralidade climática. Ondas de frio avançaram com frequência pelo Sul até o Centro do país, provocando geadas nas regiões produtoras. Café, milho, trigo e cana-de-açúcar foram as culturas mais prejudicadas. Entretanto, para a fruticultura, uma garantia de produtos de melhor qualidade. Foi o inverno mais rigoroso desde o início dos anos 1990, com temperaturas que chegaram a 10 graus negativos na Serra de Santa Catarina. E também o mais chuvoso dos últimos 40 anos no Sul. A primavera foi marcada pela irregularidade de chuvas. Em muitas regiões, o replantio foi a saída para a falta de umidade no solo.

Cinzas do vulcão e estiagem

A erupção de um vulcão chileno também provocou transtornos no Brasil este ano. Voos foram cancelados por causa das cinzas que, em algumas cidades, como Porto Alegre, prejudicaram a visibilidade. No fim do ano, o Rio Grande do Sul voltou a sofrer com o mesmo problema do verão passado. O sol forte queimou a pastagem. O gado perde peso e os produtores rurais passaram a depender de caminhões pipa para o abastecimento de água. O meteorologista Cléo Kuhn afirma que a situação deve melhorar.

– A chuva não para como um todo. Só fica um pouco menor. O problema todo é quando a chuva simplesmente para e isso não vai acontecer. Teremos um pouco, que vai ajudando a remediar a situação, principalmente para o pessoal do interior que trabalha com plantação. Para o nível dos rios é uma situação ruim, porque é preciso juntar chuva e talvez não aconteça. Porém, para o pessoal da agricultura, um pouco de chuva sempre ajuda no final do mês – aponta.

A última surpresa do ano foi a tempestade de granizo que arrasou plantações em municípios do Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Em pleno dezembro, os campos ficaram cobertos por pedras de gelo. Houve quebra na produção de pêssego, mais de 500 lavouras de fumo atingidas, perda total nos canteiros de hortaliças. O granizo acabou com as expectativas de bons negócios para milhares de produtores rurais, mas não choveu. Diferente de Minas Gerais, que registra o dezembro mais chuvoso dos últimos 100 anos.