A consultoria Safras & Mercado fala sobre os principais desafios da oleaginosa neste ano e ressalta que o saldo final é positivo
Agência Safras
Apesar das turbulências, a soja brasileira fecha 2018 com saldo positivo, afirma a consultoria Safras & Mercado. Sem dúvida, o principal destaque este ano foi a guerra comercial entre Estados Unidos e China, algo inesperado e que alterou significativamente o fluxo do comércio internacional da oleaginosa.
No lado produtivo, o Brasil colheu a maior safra da história do país, superando a casa de 120 milhões de toneladas pela primeira vez. O clima foi praticamente perfeito ao longo de todo o desenvolvimento da safra, desde o último trimestre de 2017 até o primeiro trimestre de 2018. “Apenas a metade sul do Rio Grande do Sul sofreu com problemas climáticos derivados do La Niña, que atingiu em cheio o cinturão produtor da Argentina. Os demais estados brasileiros conseguiram produtividades excelentes, em sua maioria, garantindo uma nova supersafra”, avalia o analista Luiz Fernando Roque.
Com uma produção cheia no Brasil e problemas produtivos na Argentina, a Bolsa de Chicago chegou a trabalhar acima da linha de US$ 10 por bushel nos primeiros meses de 2018. Tal fato, aliado a um dólar firme, impediu um recuo nos preços na entrada da safra brasileira, mantendo as cotações firmes.
O ritmo de exportação ajudava a escoar a grande produção nacional. Naturalmente, estimava-se que o mercado externo iria demandar mais de 70 milhões de toneladas de soja brasileira em 2018, mas o que se viu foi algo ainda maior. Com o crescimento das tensões comerciais entre EUA e China a partir dos meses de abril, maio e junho, as exportações começaram a se aquecer ainda mais.
“E a partir da imposição da tarifa chinesa de 25% sobre as importações de soja dos EUA, o mercado interno chegou ao seu ápice. Toda a demanda do país asiático deslocou-se para os portos brasileiros, impulsionando os prêmios de exportação para níveis jamais vistos. Os prêmios pagos no mercado interno tiveram que acompanhar a paridade de exportação a fim de garantir o abastecimento das indústrias”, explica o analista.
Paralelamente a isso, o dólar começou sua escalada — já esperada — típica de um ano eleitoral. O câmbio também atingiu um patamar recorde: R$ 4,20.
Mesmo com a queda registrada em Chicago após a imposição da tarifa chinesa, a soma de um câmbio em níveis recordes e prêmios em níveis recordes trouxe preços recordes para a saca brasileira. As regiões portuárias chegaram a negociar soja a R$ 100 por saca, enquanto as praças do interior do país operavam entre R$ 70 e R$ 95, dependendo da distância para o porto.
Por outro lado, os custos dos insumos para a indústria também subiram. A questão envolvendo o tabelamento dos fretes completou o quadro inflacionário nos custos, tanto para os produtores quanto para as empresas, o que impediu movimentações ainda maiores no mercado interno. “A comercialização de volumes da safra nova praticamente parou, diminuindo o ritmo do travamento dos custos das lavouras que seriam semeadas logo em seguida. A entrega de insumos para o plantio também atrasou, atrapalhando toda a cadeia. De qualquer maneira, ao final de tudo isso, para o produtor, o saldo foi positivo”, completa Roque.
Os trabalhos de semeadura começaram dentro da janela normal, com boa umidade nos solos dos principais estados produtores. O clima permitiu um bom avanço dos trabalhos em praticamente todo o período de plantio, o que garantiu a semeadura mais rápida em anos em boa parte dos estados.
Em função disso, os preços começaram a recuar. A queda da taxa cambial pós-eleição aliada a uma diminuição das tensões comerciais entre EUA e China que derrubaram os prêmios de exportação do país puxaram os preços internos para baixo.
“Mesmo assim, estamos fechando o ano com preços superiores ao fechamento de 2017, o que demonstra que os produtores tiveram um ano melhor que o anterior, para quem soube aproveitar as oportunidades. As atenções agora recaem sobre o desenvolvimento final da safra brasileira (que registra problemas com a seca) e a questão comercial entre EUA e China. A próxima temporada promete ser novamente de desafios”, conclui o analista de Safras.