Os 82,4 % restantes foram destinados a obras emergenciais, que têm efeito momentâneo. Segundo especialistas, inverter essa lógica é a saída para tornar os investimentos mais eficientes.
Coordenadora da Sala de Situação da Estiagem, que reúne órgãos estaduais para promover ações que amenizem a falta de chuva, a secretária adjunta da Casa Civil, Mari Perusso, aprofundou a análise dos gastos feitos a partir de dezembro, já com a seca caracterizada. Observa que investimentos em infraestrutura de abastecimento são mais caros e, muitas vezes, esbarram na falta de orçamento, mas estão nos planos do governo para evitar a necessidade de ações que apenas aliviam temporariamente a falta de água no Estado.
– O nosso objetivo é inverter essa lógica no futuro por meio de obras e programas que garantam o melhor aproveitamento da água – ressalta.
Entre as ações adotadas neste ano com enfoque preventivo, Mari destaca a nomeação de 300 profissionais para a Emater, que garantiu a elaboração de cerca de 30 mil laudos de lavouras atingidas pela seca, além da revitalização de poços, redes e açudes. Para o futuro, o foco é a implantação do Plano Estadual de Irrigação, a retomada de obras em barragens como a de Taquarembó, em Dom Pedrito, e o investimento de R$ 4 milhões em estações climáticas que garantam prognósticos seguros para auxiliar os agricultores nos períodos de plantio.
Em vídeo, veja efeitos da seca no Estado:
– Agricultores e governantes ficam apostando que não vai dar seca, guardam o dinheiro para aplicar no que precisam, e o investimento em irrigação fica em segundo plano. Quando chega a seca, é tarde – avalia Luiz Carlos Busatto, secretário estadual de Obras Públicas.
Desde o início do governo, em 2011, foram aplicados no Estado cerca de R$ 275,5 milhões em obras para reduzir o impacto da seca no abastecimento rural e urbano. Estudo feito pela Agência Nacional de Águas (ANA) indica que o Rio Grande do Sul é o Estado que mais precisa de investimentos em abastecimento urbano na Região Sul. No país, é o oitavo mais carente. O diagnóstico aponta que o abastecimento urbano requer ampliação em 32% dos municípios gaúchos.
Políticas específicas para pequenos municípios
Para garantir a oferta de água até 2025, revela a pesquisa, o Estado precisa investir R$ 785,2 milhões em obras. Deste total, 93% para adequar os sistemas produtores de 167 municípios e o restante para adotar novos mananciais em 10 municípios.
– Investimos pouco e, como não há planejamento, a maioria das ações apaga incêndio, mas não resolve definitivamente o problema – destaca André Luiz Lopes da Silveira, diretor do Instituto de Pesquisas Hidráulicas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
Para o superintendente adjunto de planejamento de recursos hídricos da ANA, Sérgio Ayrimoraes, é imprescindível que a gestão dos recursos hídricos tenha políticas permanentes e não mude a cada governo. Ele observa que as obras preventivas são caras e demoram mais para ficar prontas, mas são garantias para evitar problemas:
– O Estado também precisa de uma política específica para os pequenos municípios, principalmente pela fragilidade técnica e financeira deles na realização de obras – disse.
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