A matéria-prima utilizada pela nova indústria para produzir uma embalagem, por exemplo, não é o petróleo. Neste caso, a cana-de-açúcar como fonte renovável escreve novas páginas para o desenvolvimento sustentável. Trata-se de uma tecnologia 100% nacional e que não exige adaptação de máquinas para quem opta pela alternativa.
? Hoje, se ele quiser operar com outro biopolímero, ele tem que praticamente trocar de máquinas ou fazer grande modificações, sendo penalizado na produtividade. O uso do nosso produto vai permitir às atuais empresas que precisam de polietileno continuarem com os mesmos equipamentos ? afirma o engenheiro químico Antônio Morschbacker.
No Pólo Petroquímico de Triunfo, no Rio Grande do Sul, uma planta-piloto produz os primeiros materiais derivados do álcool da cana-de-açúcar. O etanol passa por cilindros e, através de sistemas de pressão e calor, associado a um catalisador, resulta em grãos de polietileno.
O material trabalhado pode depois virar diversos produtos, usados no dia-a-dia. A consciência ecológica faz com que as empresas gastem até 30% a mais do que se optasse pelo derivado do petróleo.
? Indústrias de grande porte querem ter cada vez mais uma linha de produção sustentável para os seus produtos. Isso envolve, principalmente, embalagem. Embalagens de alimentos, cosméticos e envolve alguns setores da inústria automotiva que querem fazer parte dos seus veículos com polímero verde e indústria de brinquedos ? completa Morschbacker.
Por enquanto, a planta-piloto tem capacidade de produção de 12 toneladas de polietileno por ano. Mas, a partir do funcionamento da fábrica em 2010, esse número sobe para 200 mil toneladas. O início das obras está previsto este segundo semestre.
A qualidade e característica do plástico verde são semelhantes ao plástico tradicional e também pode ser reciclado. Entre os benefícios da cana-de-açúcar estão a absorção de gás carbônico pelas plantações e a utilização por completo de toda a cana no processo.
Para a professora universitária e engenheira química Adriene Maria Sampaio Pereira, a pesquisa para alternativas à utilização do petróleo são importantes. Mesmo assim, ela faz uma ressalva.
? Sempre procurar outras coisas faz parte da evolução do homem. [Mas] a gente não pode ficar plantando uma coisa e tirar o lugar de alimentos que seriam produzidos. É como se diz ‘vamos para a luz no fim do túnel’. Talvez não seja o fim do túnel, mas o começo de uma nova era ? afirma.