O agronegócio deve continuar contribuindo para o crescimento da economia brasileira e para o recuo da inflação no decorrer do ano, a exemplo do que ocorreu no primeiro trimestre, disse o ex-ministro da Agricultura Roberto Rodrigues, coordenador do Centro de Estudo de Agronegócios da Fundação Getulio Vargas (GVAgro). “No primeiro trimestre, mais de 30% do PIB brasileiro se deveu ao agronegócio. É possível que essa proporção se mantenha até o fim do ano”, disse Rodrigues, antes de participar do Ciclo de Palestras da Câmara de Comércio Árabe Brasileira. “De novo, o agro ajudará o país a manter a sua condição. E a perspectiva de inflação mais baixa também é por causa do setor, com a oferta de alimentos abundante.”
Rodrigues chamou a atenção para a expectativa de que a safra de grãos supere em 50 milhões de toneladas o volume colhido no ano anterior e que outras culturas também deverão ter um desempenho positivo ao longo do ano. “O resultado desse primeiro trimestre é consequência, como todos sabemos, de uma safra extraordinária, que o Brasil está colhendo neste ano de grãos, mas a safra também será grande de cana-de-açúcar, de laranja.
Mesmo no setor de carnes teremos uma produção exuberante em 2017″, assinalou. “Embora haja um impacto muito grande nos dois primeiros trimestres por causa da colheita da safra de verão, acredito que teremos um segundo semestre igualmente relevante para o agro.”
O coordenador da GVAgro reafirmou as críticas do setor produtivo a dois pontos do Plano Safra que será anunciado na quarta-feira, dia 7: o volume de recursos para o seguro rural e o corte menor do que o esperado nas taxas de juros. “Os recursos anunciados, ou pelo menos vazados até agora, para o seguro estão muito abaixo da expectativa. Por causa disso, as entidades de classe já estão fazendo uma pressão maior sobre o governo, no sentido de que esse anúncio não tenha a pequenez até agora informada”, disse Rodrigues.
Do lado dos juros, o problema, na avaliação do ex-ministro, é que produtores, por causa da queda dos preços das commodities, trabalham em um cenário de margens mais apertadas. “Havia uma expectativa de um juro real de 3% a 3,5%, com uma inflação de 4% ao longo da safra, e, para isso, o juro nominal não poderia passar de 7% ou 7,5% no máximo. Mas deve ficar em torno de 8,5%, de acordo com o que tem sido anunciado, e esse patamar é um pouco alto”, ponderou Rodrigues. Ele lembra que como a safra foi muito grande no país, e também na Argentina e no Hemisfério Norte, os preços despencaram, “de modo que a renda rural não corresponde ao volume de safra”. “O Plano de Safra com taxas de juros mais adequadas à realidade era uma expectativa muito importante para manter a renda e a atividade sustentada.”
Ele ressaltou que, mesmo com a alta do dólar, produtos nos quais o mercado interno tem forte influência na formação de preços vêm registrando recuos expressivos, como é o caso do milho, que está abaixo do preço mínimo em pontos de Mato Grosso.
Segundo Rodrigues, apesar das boas perspectivas para o agronegócio, o setor não deve escapar ileso à crise política. “Afetará o agronegócio diretamente por duas razões: a primeira é a própria emergência do Plano de Safra sob um contexto negativo de expectativas, então até imagino que a falta de recursos para o seguro e a taxa de juros estejam inseridas nesse momento complexo”, afirmou. “Mas pior do que isso é o atraso das reformas. Porque nós temos mantido a nossa competitividade não obstante os problemas de custo Brasil, mas as reformas trabalhista, previdenciária e tributária são essenciais para manter a competitividade e até melhorá-la, então vamos perder um tempo a mais nesse processo.”
Ainda assim, ele acredita que a alta produtividade atingida nesta safra deve oferecer suporte à economia brasileira. “Apesar dos problemas que o setor sofrerá por causa da crise política e da queda dos preços agrícolas, graças a uma safra portentosa em todos os níveis no Brasil o setor vai segurar a economia brasileira de novo.”