Boa parte dos nutrientes usados pelos produtores brasileiros para corrigir a falta de fertilidade de seus solos são importados e cotados em dólar, o que pode encarecer muito os custos da safra. Segundo estimativa do geólogo e pesquisador da Embrapa, Éder Martins, apresentada durante sua palestra no 2º Fórum Soja Brasil – Safra 2016/2017, que aconteceu ontem (1) em Esteio (RS), esse volume supera a casa dos 70%. Uma alternativa para diminuir esta dependência e ampliar a durabilidade da fertilidade na terra é uma técnica conhecida como rochagem.
O Brasil possui solos muito pobres de nutrientes, por serem bastante explorados pela agricultura e também porque, em geral, são muito lixiviados. Para compensar este gargalo os produtores gastam bastante dinheiro anualmente com fertilizantes e isso impacta diretamente na margem de lucro do produtor. É ai que entram os remineralizadores, ou como são popularmente conhecidos, o pó de rocha, que se trata de uma rocha moída e peneirada que tem a função de melhorar a qualidade física e química do solo. “A rochagem não vem para substituir os fertilizantes, mas para complementar, reduzindo os custos”, garante Martins.
O pesquisador explica que os remineralizadores não podem ser substitutos dos fertilizantes químicos, o conhecido NPK (Nitrogênio, Fósforo, Potássio) por não possuírem todos estes nutrientes em sua composição. “As rochas têm um teor de nutrientes baixo, um exemplo é o potássio que na média possui apenas 10% de óxido de potássio, ou seja, precisamos de mais pó para compensar isso”, frisa ele. “A vantagem é que esse pó fica na terra e não é levado junto com a água de chuva, como os fertilizantes químicos.”
O principal benefício desta matéria-prima seria a sua abundância em território nacional, já que rochas com propriedades para fertilizar existem em praticamente todas as regiões, com indústrias suficientes para fazer esta transformação.
O próprio Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) reconheceu os benefícios desta técnica e normatizou em março deste ano a produção, o registro e comércio dos remineralizadores. “Para poder comercializar o pó de rocha, as empresas precisam se adequar as exigências técnicas do Mapa, com testes que garantem a eficiência agronômica do produto”, conta Martins.
Martins explica que a própria Embrapa já possui um estudo a respeito há pelo menos 16 anos, com testes de recomendação de uso desse insumo, e algumas empresas parceiras deste estudo já devem lançar seus produtos no mercado brasileiro até o final deste ano. “Toda a vez que a Embrapa se envolve em uma pesquisa como essa, precisamos chegar ao final com o resultado e uma recomendação de uso”, conta o pesquisador. “ Temos que dizer qual a dosagem do produto, a forma de aplicação com auxilio de outras fontes de nutrientes, qual o manejo do insumo para determinada cultura e como o produto responde.”
No levantamento da instituição, a comercialização do pó de rocha compensa desde que a fonte dos recursos não esteja há mais de 300 quilômetros de distancia da propriedade rural. “A quantidade de pó de rocha usada nas lavouras é bem maior que a quantidade de fertilizantes químicos, então para compensar financeiramente avaliamos a distancia do polo de distribuição até a fazenda, levando em consideração o calculo do frete e o custo da mina”, afirma Martins.
Ele destaca ainda que reconstruir o solo é algo novo no Brasil, já que o pó de rocha fica na terra e se transforma no solo no futuro. “O potencial é grande, mas ainda estamos no começo da pesquisa para a compreensão do que acontecerá no longo prazo”, conta ele. “Com a rochagem o produtor vai economizar cada vez mais com o uso excessivo de fertilizantes químicos e o solo ficará ainda mais eficiente.”
O próprio Mapa ressaltou que uma das maiores vantagens do pó de rocha é a disponibilidade em abundância e o baixo custo. Uma tonelada de fertilizante mineral tem custo médio de R$ 1,5 mil, enquanto a mesma quantidade de remineralizador custa R$ 200 a 300, levando-se em conta despesas com taxa de aplicação e frete. “É claro que se usa bem mais pós de rocha do que os tradicionais, mas a vantagem é que não é preciso aplicar o pó de rocha todo o ano”, garante o pesquisador da Embrapa.