Ferramenta ajuda a identificar previamente a chegada de uma das principais doenças da cultura, a ferrugem asiática. Confira as dicas e como obter a tecnologia!
Daniel Popov, de Mangueirinha (PR)
Há oito anos o Brasil não registrava tantos casos de ferrugem asiática como na temporada atual. Já são 135 ocorrências confirmadas até o momento, segundo o Consórcio Antiferrugem. Especialistas culpam o clima e o plantio antecipado por tamanho avanço. Mas será que dá para prever a doença e antecipar as aplicações de fungicidas? A resposta é sim, com um coletor de esporos. Uma ferramenta tão simples que o próprio agricultor pode fazer.
O equipamento nada mais é que um cano PVC, com cerca de 100 milímetros de diâmetro, cortado na parte traseira formando uma aba, que com o vento, garante que a abertura frontal, que capta os esporos (em uma lâmina), fique voltada para o vento. Na imagem em destaque dá para entender bem.
O produtor rural Laercio Dalla Vecchia, de Mangueirinha (PR), descobriu o equipamento recentemente e hoje não entende como viveu tantos anos sem usá-lo. “O coletor é importante pois mostra quando a doença está chegando e com qual intensidade. Pode ser a diferença entre prevenir e remediar”, afirma.
Ele conheceu a tecnologia depois de prestar serviço para um amigo, no município vizinho de Chupinzinho, e resolveu entrar em contato com a Emater-PR para colocar um em sua propriedade. “Tão logo voltei, já entrei em contato com a Emater, fiz a solicitação para obter o coletor e eles mandaram. Para obter o coletor não tem custo nenhum, o técnico da Emater veio até minha área me ajudar. O único gasto é a análise das lâminas”, conta Dalla Vecchia.
Segundo o extensionista rural e coordenador regional de projetos da Emater-PR de Campo Mourão, Sandro Albrecht, atualmente a entidade não oferece o aparelho, mas indica como o produtor pode construí-lo. “É muito fácil fazer um coletor, se o agricultor tiver interesse, basta entrar em contato conosco que ensinamos. A lâmina que capta os esporos também pode ser obtida em qualquer laboratório de análises e é barata”, afirma.
Albrecht conta que o coletor já é usado há muito tempo no estado. Idealizado pelo engenheiro Agrônomo Dr. Seiji Igarashi, foi adaptado há cinco anos pelo Instituto Emater para o trabalho de extensão rural junto aos agricultores familiares do Paraná. “Somente neste ano a tecnologia realmente deslanchou. Agora está em fase de amadurecimento, com treinamento de mais laboratórios parceiros e técnicos para fazer a análise das lâminas”, conta.
Em novembro, por exemplo, o Instituto Emater e o curso de Agronomia da Faculdade Integrada de Campo Mourão, anunciaram uma parceria para capacitação técnica para o Manejo Integrado de Doenças da Soja (MIP), mais especificamente o uso de coletores de esporos para monitoramento da Ferrugem Asiática da soja.
Influenciador
Dalla Vecchia não é apenas um produtor rural interessado em melhorar suas lavouras, ele também é um influenciador. Ou seja, gosta de adquirir conhecimento, testar e mostrar para outros produtores os resultados obtidos.
Foi assim, inclusive, que ele fez com que esta tecnologia antiga voltasse a ganhar notoriedade entre os agricultores. Em um dos muitos vídeos que grava em sua página no Facebook (Laércio, o agricultor), com dicas para outros produtores, ele mostrou o coletor de esporos e o sucesso foi instantâneo, com milhares de visualizações.
https://www.facebook.com/Laerciodallavecchia/videos/750408848685020/
“Nenhuma safra é igual a outra, no ano passado os produtores atrasaram as primeiras aplicações de fungicidas e tiveram uma produção boa. Mas nesse ano está diferente. Dos cinco anos que o coletor chegou ao estado, esse foi o primeiro que registrou a doença mais cedo. Em novembro encontrei 10 esporos, que é a mesma quantidade de anos anteriores em meados de 15 de janeiro”, explica o agricultor.
Ele conta que assim que o alerta da chegada antecipada dos esporos foi dado na região, muitos produtores saíram aplicando fungicidas. “Com isso, em dezembro, o número de esporos encontrados caiu para 2 apenas. Quando achei os 10 esporos sai aplicando fungicida e mesmo encontrando esporos depois, nenhum caso da doença apareceu nas minhas áreas. Apesar de no município ter aparecido um caso”, diz Dalla Vecchia.
Paraná avançado
Ao todo, o estado já tem mais de 208 coletores instalados, em 15 municípios do estado e o número segue aumentando. Albrecht explica que existe um processo para identificar onde os esporos aparecem, com um site de dispersão bem atualizado.
“Este ano, o protocolo da pesquisa definiu que cada um dos coletores seria analisado semanalmente nas primeiras fases da planta, até que os esporos fossem encontrados. Se nada aparecesse, quando as linhas fechassem, duas análises seriam realizadas por semana. A ideia era localizar e alertar os produtores o quanto antes”, afirma o expansionista.
Outros estados
Por enquanto a tecnologia é usada com mais precisão no Paraná, ou pelo menos é o único estado que possui um mapa indicando a localização dos esporos. Entretanto, o coordenador da Emater diz que outros estados já pensam em reproduzir. “Qualquer produtor pode construir seu coletor, basta apenas encontrar um fitopatologista ou laboratório de confiança para analisar as lâminas. O Rio Grande do Sul já pensa em adotar o coletor e ele ajudaria bastante no combate a ferrugem”, diz Albrecht.
Por fim, o produtor de Mangueirinha voltou a comentar sobre a importância de adotar medidas de proteção das lavouras e tentar evitar problemas maiores.