Origem da planta, chegada ao Brasil, usos diferentes e disputa mundial estão entre os temas curiosos da oleaginosa
Fonte: CIB
Quem vê uma semente de soja, de meio centímetro de diâmetro, não imagina o tanto de história que ela carrega nem o tamanho de seu potencial produtivo e econômico. Descoberta há cerca de 5 mil anos, essa oleaginosa saiu do Oriente para a Europa e só chegou ao Brasil no fim do século XIX. Hoje, é a planta mais cultivada no País, com quase 114 milhões de toneladas em uma área de 33,8 milhões de hectares, segundo dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) sobre a safra 2016/2017.
Este levantamento foi realizado pelo Programa Boas Práticas Agronômicas, ligado ao Conselho de Informações sobre Biotecnologia (CIB). O objetivo do projeto é dialogar com produtores que utilizam a tecnologia Bt e estabelecer-se como fonte de informações técnicas sobre a melhor forma de utilizar a biotecnologia agrícola e preservar sua eficácia.
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Agora confira abaixo as 10 curiosidades que o CIB separou sobre a cultura:
1 – Tem origem chinesa:
O grão foi descoberto na China cerca de três mil anos antes de Cristo. As espécies primitivas da herbácea Glycine max eram rasteiras e viviam ao longo do Rio Azul (Yangtzé), o maior da Ásia. Eram consideradas sagradas, assim como o arroz, o trigo, a cevada e o milheto. Dois mil anos depois, duas variedades selvagens de soja foram domesticadas e melhoradas por cientistas, a partir de cruzamentos naturais, e essa oleaginosa passou a servir como moeda de troca, alternativa ao abate de animais e fonte de proteína vegetal, leite, queijo, pão e óleo. Da China, as linhagens mais adequadas ao consumo humano se espalharam pela Coreia, pelo Japão e Sudeste Asiático.
Fórum Soja Brasil 2017/2018
2 – Foi alvo das grandes navegações e adornava jardins:
A soja chegou ao Ocidente, pela primeira vez, no fim do século XV, por meio de navegadores europeus que faziam comércio com o Oriente. Por mais de 200 anos, porém, o grão permaneceu apenas como uma curiosidade botânica e ornamental, presente em jardins ingleses, franceses e alemães. Foi só no século XVIII que começou a produção de ração animal e óleo, e a partir de 1950 o óleo e a proteína de soja passaram a despertar interesse industrial. Várias tentativas de cultivo em países muito frios, como Rússia, Inglaterra e Alemanha, porém, fracassaram. A oleaginosa desembarcou nos Estados Unidos no fim do século XIX e era destinada à alimentação animal.
3 – Chegou ao Brasil via EUA e Japão:
As primeiras variedades de soja de que se tem notícia no Brasil vieram dos Estados Unidos com destino à Bahia, em 1882. A adaptação não foi boa, e uma nova tentativa ocorreu em Campinas (SP), uma década depois. Mas os grãos que melhor se desenvolveram no País foram trazidos por imigrantes japoneses, a partir de 1908. O primeiro cultivo oficial em solo brasileiro aconteceu, de fato, em 1914, na região de Santa Rosa (RS), e os plantios comerciais começaram dez anos depois. Em 1940, a soja chegou ao Paraguai e, na década seguinte, à Argentina e ao México.
4 – Brasil e EUA disputam a liderança mundial:
A soja encontrou clima e condições favoráveis para plantio em larga escala nos Estados Unidos e no Brasil, onde a expansão do cultivou ocorreu a partir da década de 1970. Atualmente, a produção mundial do grão passa de 350 milhões de toneladas, em uma área superior a 120 milhões de hectares, segundo o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA). Um terço desse volume é plantado em solo norte-americano; o outro terço vem do Brasil, e a terceira parte é cultivada em países como Argentina, China, Canadá, Índia, Paraguai, África do Sul e Uruguai.
Na safra 2016/2017, os EUA produziram três milhões de toneladas a mais de soja que o Brasil, com um total de 117,2 milhões de toneladas – contra quase 114 milhões do nosso País. Segundo estimativas da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), porém, o Brasil será o maior produtor dessa commodity até 2026. Em relação às exportações, Brasil e EUA vêm se revezando no primeiro e segundo lugares, com cerca de 60 milhões de toneladas de grão, farelo e óleo enviadas por cada um ao exterior – para países como a China – e bilhões de dólares gerados anualmente (em 2016, o Brasil arrecadou US$ 25,3 bilhões com a exportação de soja).
Caso as projeções da FAO se confirmem, em nove anos Brasil e EUA vão responder por 80% das exportações mundiais do grão. O que o País não alcançou ainda é a produtividade norte-americana: enquanto lá se produzem 58,3 sacas por hectare, aqui a média é de 56. Mas trabalhos de melhoramento genético vêm apresentando excelentes resultados em relação a ganho de produtividade em áreas tropicais.
5 –Maiores produtores do País:
O top 3 do ranking nacional em produção de soja é formado por Mato Grosso, Paraná e Rio Grande do Sul. O primeiro é líder isolado, com uma produção de 30,5 milhões de toneladas em uma área de 9,3 milhões de hectares, de acordo com dados da Conab referentes à safra 2016/2017. Já o vice-campeão produziu 19,5 milhões de toneladas em uma área de 5,2 milhões de hectares, enquanto o terceiro lugar alcançou 18,7 milhões de toneladas em 5,5 milhões de hectares. O Paraná também se destaca na produtividade, com uma média de 62 sacas por hectare.
Outros Estados brasileiros expressivos na produção de soja são Goiás, Mato Grosso do Sul, Bahia e Minas Gerais. Além disso, segundo a Conab, há um avanço acelerado no Pará e na região do Matopiba (que abrange Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia), com um potencial de expansão de 10 milhões de hectares.
6 – É uma commodity:
Todo produto que funciona como matéria-prima, é produzido em larga escala, pode ser estocado sem perder a qualidade e tem negociação em bolsa de valores (como a BM&FBOVESPA) é considerado uma commodity, ou seja, uma mercadoria. A soja se encaixa nesse perfil – assim como milho, algodão, café, açúcar, ouro, boi gordo, petróleo e suco de laranja (concentrado e congelado). O preço da soja no mercado mundial, portanto, é consequência da oferta e da demanda, não sendo determinado pela empresa que a produz. Na época da entressafra, por exemplo, há aumento de preços, o que afeta o valor final do produto.
7 – Quase 97% da soja cultivada no Brasil é transgênica:
A primeira soja geneticamente modificada (GM) – Roundup Ready (RR), resistente ao herbicida glifosato – foi introduzida no País em 1998. Atualmente, existem 13 variedades transgênicas disponíveis no mercado, sendo três delas Bt (resistentes a insetos como lagarta-da-soja, lagarta-das-maçãs, lagarta-elasmo, falsa-medideira, broca-das-axilas e mariposas do gênero Helicoverpa).
A soja Bt expressa uma proteína que é derivada da bactéria de solo Bacillus thuringiensis (Bt) e tem ação inseticida. Em 2002, a adoção da soja GM no Brasil era inferior a 20%, ao passo que hoje chega a 96,5%, segundo o Serviço Internacional para a Aquisição de Aplicações em Agrobiotecnologia (ISAAA). Em relação à produtividade da soja, entre 1998 e 2017 houve um incremento de 43% no País, passando de 2,3 toneladas por hectare para 3,3 toneladas por hectare, segundo dados da Conab. No período de 1999-2017, a produção do grão no Brasil também aumentou 271% e a área cultivada, 162%.
Nos anos 1990, por exemplo, era necessária uma área de 250 metros quadrados para produzir uma saca de soja. Em 2011, esse número baixou para 143 m² e, até 2030, deve chegar a 117 m², com novos melhoramentos genéticos, manejo adequado, mecanização, qualificação de pessoal e uso de defensivos agrícolas.
8 – Está presente em muitos alimentos industrializados:
Da soja, vêm subprodutos como o óleo utilizado na formulação de margarinas, maioneses e molhos (de tomate e para salada). “O shoyu com que se tempera o sushi, nada mais é do que um fermentado de soja”, afirma o biólogo e doutor em genética de microrganismos Airton Vialta, do Instituto de Tecnologia de Alimentos (ITAL), em Campinas (SP).
Essa oleaginosa também está presente em derivados como: leite de soja, farelo (para ração animal), farinha (pães, biscoitos, macarrão e produtos infantis), lecitina (que ajuda a misturar óleo e água em chocolates e no leite em pó) e isolados proteicos, usados em sopas, bebidas e subprodutos de carne. No Brasil, porém, o consumo direto de soja na alimentação (como fonte de proteína) ainda é restrito: apenas 3,5% da produção, em média, simplesmente por não fazer parte dos hábitos da população, ao contrário do que ocorre em países orientais. Vale destacar, porém, que a adição de 20% de farinha de soja a pães, bolachas e massas chega a dobrar o conteúdo proteico desses alimentos.
9 – Traz benefícios à saúde:
A soja é fonte de vitaminas do complexo B, como tiamina (B1), riboflavina (B2) e niacina (B3); de vitaminas C, E e K, fibras, ferro, ácido fólico, ômega 3, cobre, fósforo, potássio, zinco, magnésio e triptofano (aminoácido que, assim como a niacina e o magnésio, atua como precursor da serotonina, neurotransmissor responsável pela sensação de prazer e bem-estar).
Também tem alto teor de gorduras boas (mono e poli-insaturadas), baixo teor de gordura ruim (saturada) e é livre de colesterol. Além disso, contém isoflavona, um composto orgânico que atua na prevenção de cânceres de mama, colo do útero e próstata. Por ter uma estrutura química semelhante ao hormônio feminino estrógeno, a isoflavona, é capaz, ainda de aliviar os efeitos da tensão pré-menstrual (TPM) e da menopausa, além de atuar na prevenção de doenças cardiovasculares, diabetes e osteoporose.
10 – Tem vários primos e uma flor delicada:
A soja é uma leguminosa, como o feijão, a ervilha, a lentilha e o grão-de-bico, todos excelentes fontes de proteína vegetal, carboidratos, fibras, vitaminas e minerais. A vagem da soja verde lembra, inclusive, a da ervilha torta. Suas sementes são lisas, ovais (ou em forma de elipse) e de cor amarelada, preta ou verde. O cultivo leva entre dois e quatro meses, e a planta pode chegar a 1,5 metro de altura. As flores da soja são bem pequenas (até 8 mm de diâmetro), ficam localizadas na base dos ramos e têm coloração branca, púrpura ou roxa.
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