Juros mais altos nos financiamentos e aumento da energia elétrica fizeram o custo de produção no oeste baiano ultrapassar 45 sacas por hectare
Fernanda Farias | Luís Eduardo Magalhães (BA)
No oeste da Bahia, a colheita já começou nas áreas irrigadas, e a expectativa é de uma produção acima de cinco milhões de toneladas de soja, a melhor safra dos últimos cinco anos. Apesar disso, as taxas de juros dos financiamentos e a energia elétrica contribuíram para tornar este ciclo um dos mais caros de todos os tempos.
Para o presidente da Associação dos Agricultores e Irrigantes da Bahia (Aiba), Julio Cezar Busato, a taxa de juros do Plano Safra 2015/2016 foi uma das principais responsáveis pelo aumento de custo de produção, que está em 45 sacas por hectare em área de sequeiro e 48 sacas para quem cultiva sob pivô.
– Nós tínhamos recursos com juros entre 5% a 7% ao ano. Hoje, esses recursos para o médio produtor estão custando mais de 18% (ao ano). Isso impactou diretamente no custo de produção – critica.
A área plantada no oeste baiano deve ser menor que a esperada, cerca de 1,52 milhão de hectares. A presidente do Sindicato Rural de Luís Eduardo Magalhães, Carminha Missio, explica que essa queda foi provocada pela dificuldade no acesso ao crédito. Segundo ela, a avaliação de risco feita pelas instituições financeiras estava muito alta.
– Nós, representando o sindicato, interviu solicitando que a avaliação fosse mais pacífica, que olhassem o cadastro de anos anteriores para liberar o crédito. Isso otimizou, mas alguns produtores deixaram de plantar por causa disso – afirma Carminha.
Busato lembra, ainda, que a energia elétrica foi outro item que pesou, principalmente para o agricultor que possui lavouras irrigadas.
– Este ano, com a bandeira vermelha [tarifária] que nos foi imposta, o custo de energia na irrigação dobrou. O que representava um acréscimo de três sacas por hectare agora são até sete sacas por hectare – reclama o dirigente.
Mesmo com a margem de lucro apertada, a irrigação ainda vale a pena para o produtor baiano. Há dois anos, o agricultor Jaime Capelesso investiu pesado em dois mil hectares de soja sob pivô, uma prática comum no estado, que possui 50 mil hectares com irrigação, com produtividade média acima de 70 sacas por hectare.
– No ano passado, nós colhemos ao redor [no sequeiro] 35 sacas por hectare, em média. Aqui [na área irrigada], nós colhemos 65 sacas. A única diferença foi a irrigação. Neste ano, melhoramos muito o solo e devemos fechar em 80 sacas, bem melhor – comemora Capelesso.
Replantios
Para quem não conta com irrigação, a situação foi pior. Sem água, parte da lavoura do produtor Volmir Martinazzo não se desenvolveu. Metade da área cultivada com semente convencional precisou de replantio. Com isso, ele precisou gastar R$ 400,00 a mais por hectare.
– Como no ano passado choveu muito na hora da colheita, a semente não saiu com boa qualidade e deu problema. Se tivesse chovido bem, tinha germinado, mas o clima está difícil e deu muito replantio – avalia.
– É um custo adicional, mas que pode ser absorvido se chover bem, isso acaba diluindo. Alguns produtores replantaram 20%, outros 26%… – explica o diretor da Associação dos Produtores de Soja da Bahia (Aprosoja-BA), Vanir Köln.
Cerca de 8% da área total de soja na região de Luís Eduardo Magalhães precisou de replantio. O motivo é que muitos agricultores arriscaram iniciar o plantio no pó, sem umidade no solo. Mesmo assim, a semeadura atrasou 20 dias. Apesar dos problemas iniciais, os agricultores estão otimistas, prevendo a melhor safra dos últimos cinco anos. A expectativa é de alcançar 5,5 milhões de toneladas de soja.
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