A Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul) prevê queda na produtividade das lavouras do estado na safra 2015/2016, influenciada principalmente pelo clima. O plantio de algumas culturas, como soja e arroz, atrasou por causa do excesso de chuvas, provocado pelo El Niño. De acordo com a entidade, a produção de grãos deve cair 6%, de 32,4 milhões de toneladas no ciclo anterior, para 30,6 milhões, apesar da alta de 1% na área plantada, de 8,5 milhões de hectares.
A Farsul também aposta em queda de 40% na rentabilidade do produtor, por causa dos custos de produção elevados. As previsões foram apresentadas nesta segunda-feira, dia 14, em Porto Alegre.
“A safra de 2016 começou errada por causa do clima. Será muito difícil recuperar as perdas que já estão dadas pela questão climática”, disse o economista-chefe da Farsul, Antônio da Luz.
O presidente da entidade, Carlos Sperotto, concorda: “Não temos a pretensão de repetir a colheita deste ano. Temos que ser corretos no sentido de entender que teremos dificuldades”, disse.
Soja
A expectativa de aumento de área plantada é puxada pela soja, que, na visão da Farsul, terá uma elevação de 5%, para 5,5 milhões de hectares. A safra da oleaginosa, no entanto, deve ser 2% menor, ficando em 15,4 milhões de toneladas. A entidade estima queda na área plantada com arroz (-8%) e com milho (11%). Se confirmada, a produção deve recuar 15% e 16%, respectivamente.
Trigo
No que se refere ao trigo a ser cultivado em 2016, a Farsul espera repetição da área plantada, de cerca de 880 mil hectares. Já a produção, após um ano de fortes perdas decorrentes da umidade e das geadas, deverá crescer 31%, para 2,4 milhões de toneladas.
“Tivemos um 2014 e um 2015 muito ruins para o trigo. É raro acontecerem dois anos seguidos ruins, e um terceiro é absolutamente improvável. Então consideramos que 2016 para esta cultura não será exatamente bom, mas será normal”, explicou Da Luz.
Rentabilidade
A Farsul também destaca a perspectiva de redução na rentabilidade do agricultor por causa da alta dos custos de produção. De acordo com a entidade, os gastos do produtor com a safra de 2015 subiram cerca de 8% em relação a 2014. Já em 2016 o salto será de 25%, por causa do dólar valorizado, dos juros altos e da inflação da energia elétrica e dos combustíveis.
“E não se sabe a que cotação estará o dólar quando vendermos esta safra, por isso muitos produtores já se anteciparam nesta comercialização e estão se cobrindo no sentido de atenuar o que será o resultado da safra 2016”, disse Sperotto. A percepção da entidade é de haja uma redução de 40% nas margens.
Valor bruto
A Farsul acredita que o Valor Bruto de Produção (VBP) da agropecuária gaúcha poderá crescer até 10% no próximo ano, caso os preços das commodities agrícolas se mantenham nos atuais patamares. No entanto, diz que este maior faturamento não será suficiente para compensar os aumentos do custo de produção.
Desempenho no ano
Para a entidade, a agropecuária é o único setor da economia do Rio Grande do Sul que fechará 2015 em alta. O crescimento de 9,4% foi impulsionado pela safra recorde de grãos, que chegou a 32,4 milhões de toneladas (os dados são compilados do IBGE), o que representa um crescimento de 13% em relação a 2014.
A entidade estima uma redução da atividade gaúcha de 2,75% este ano, enquanto o PIB brasileiro deve ter retração de 3,5%. “O crescimento do setor agropecuário é que vai fazer com que o PIB do Rio Grande do Sul caia menos que o do Brasil em 2015”, esclareceu Da Luz.
Isso, contudo, não deve se repetir em 2016. A Farsul estima que a queda do PIB gaúcho seja de 2,8% no ano que vem, enquanto a do Brasil deve ficar em 2,6%. “Neste caso, nem o agronegócio vai conseguir salvar”, resumiu o economista.