Por outro lado, conheça a história do agricultor, da mesma região, que tomou uma atitude diferente e se deu mal
Bruna Essig
Parece até que o conselho de vender a soja aos poucos, ao invés de segurar para tentar negociar a maior parte com preços altos, é uma velha ladainha dos analistas. Entretanto, neste ano, os agricultores que apostaram nesta estratégia estão se dando bem.
O sojicultor Edemir Rosso, do Rio Grande do Sul, já vendeu quase toda sua safra de soja. Algo incomum para o estado neste período. O restante, cerca de 20% do colhido, ele está aguardando o momento certo para aproveitar. “Conseguimos vender lotes a R$ 80 por saca, ali no plantio. Depois, quando o preço da soja começou a cair, negociamos mais uns 20%, a R$ 70 por saca. Se fizermos a conta, consegui vender a uma média de R$ 76 a saca, que é muito bom”, diz ele. “A estratégia foi aproveitar vários períodos de altas ao longo do ano e negociar aos poucos.”
Edemir sempre faz isso. É uma estratégia para conseguir mais lucro e não correr o risco de prorrogar pagamentos de custeios. Mas, como comentado antes, essa não é uma prática comum por lá.
Fórum Soja Brasil 2017/2018
Na mesma região, Idalino Dal Bello, também viu os preços chegarem a R$ 80, mas vendeu só um pouco. Assim como muitos produtores do país, pois viu a perspectiva de a saca chegar a R$ 100 e resolveu esperar para negociar a maior parte nesta possível alta. O resultado todos já sabem. O problema é que agora ele está com dificuldades para conseguir pagar o financiamento do pré-custeio.
“Eu não vendi por duas razões: porque ia faltar chuva e fiquei com receio de colher menos. Outra que o mercado afirmava que o preço não baixaria muito. Hoje, me arrependo, porque poderia ter vendido mais. Entretanto teve gente que não vendeu nada e está pior”, comenta Dal Bello.
Um levantamento realizado pela consultoria Safras & Mercado confirma que apenas 48% da safra do Rio Grande do Sul foi comercializada até o começo de julho. Na média, no mesmo período, o estado negocia 65%. E a situação brasileira, de maneira geral, não é diferente. Até o inicio deste mês, 67% das 114 milhões de toneladas havia sido vendida, contra uma média de 80% de anos anteriores.
Segundo o analista de mercado, Luiz Fernando Gutierrez, este forte atraso no escoamento da soja, no momento que todo mundo começar a jogar a safra no mercado por necessidade, pode impedir uma melhora sustentável dos preços. Por isso, a orientação é que a cada subida dos preços, mesmo que não seja o melhor valor do mundo, o produtor aproveite e venda uma parte da produção. Repetindo isso sempre que possível.
“O pensamento, neste tipo de situação, é que se faça vendas que gerem um valor médio de lucro, como o Edemir. Até porque todos têm contas a pagar, tem que se preparar para a safra nova. Então é importante que o produtor aproveite qualquer alta, por mais que o preço possa ficar mais alto na frente, para vender e fazer esta média”, finaliza Gutierrez.