– Dificilmente, a Argentina poderá vender ao Brasil três milhões de toneladas, que representam apenas 40% das necessidades do sócio – afirmou o analista Gustavo López, diretor da consultoria.
A colheita argentina foi estimada em nove milhões de toneladas, 37,9% abaixo do produzido na safra anterior. As perspectivas de uma recuperação da produção de trigo em 2013, projetada pela Bolsa de Buenos Aires em seu relatório divulgado nesta semana, tampouco são positivas para o mercado brasileiro, principal consumidor do trigo argentino. Segundo a bolsa, a área cultivada com trigo deve aumentar 8,7%, dos atuais 3,6 mil hectares para 3,9 mil hectares.
– O aumento daria uma produção total de, no máximo, 12 milhões de toneladas, com um saldo para exportar de quatro a cinco milhões de toneladas. Ou seja, no final das contas, a situação não muda substancialmente – disse López.
Mesmo se a projeção for confirmada, a superfície plantada estaria bem longe da média de seis mil hectares verificada nas décadas anteriores, conforme observou o especialista. A política de intervenção oficial nos mercados de grãos na Argentina tem provocado impacto direto na produção de trigo do país. Para atender o que chama de “mesa dos argentinos”, o governo privilegia a destinação da produção agrícola para o consumo doméstico.
– Todo controle resulta em menor produção e, portanto, em redução do saldo para exportar – afirmou López.
O analista acredita que o governo ainda liberará um volume de trigo para exportação, mas lembra que a partir de agora o cereal do país acabará competindo com o norte-americano, já que o governo brasileiro liberou a importação de até dois milhões de toneladas de trigo de países que não integram o Mercosul, isentas da Tarifa Externa Comum (TEC) de 10%.
– Os produtores estão atentos a esse cenário, não têm incentivos para aumentar a produção e a Argentina perde oportunidade de se complementar nesse segmento no Mercosul – afirmou.
Segundo o levantamento realizado pelo consultor, nos últimos 35 anos a safra que deixou um volume tão baixo de exportação foi a de 1978, quando a Argentina embarcou somente 1,5 milhão de toneladas de trigo para outros países. O país, que vem sofrendo uma séria crise de fuga de divisas, já deixou de ganhar US$ 5,2 bilhões em exportação de trigo desde 2009, conforme cálculos da Agritrend.