Para o pesquisador Áureo Lantmann, com atraso da semeadura da soja, sucessão com milho fica ameaçada e abre espaço para rotação de culturas
André Anelli, Jataí (GO)
O atraso no plantio da safra de soja em Goiás tem trazido muita preocupação para os produtores. Segundo a consultoria Safras & Mercado 15% foi semeado até o momento, contra 46% da média histórica. Mas nem tudo é ruim assim e este atraso pode trazer benefícios aos produtores.
A chuva até ameaça cair, mas em Jataí, no sul de Goiás, a seca ainda predomina. As áreas que deveriam estar plantadas, ainda permanecem com a palhada do milho. E enquanto o tempo não vira, o produtor espera que o atraso no plantio da soja pelo menos valorize o preço do grão.
“Esperamos um ganho maior de produtividade, por conta desse atraso. De repente plantamos em uma melhor condição para aquela variedade. E esperamos que o preço reaja. Para janeiro vai ter pouca soja colhida, então tem que valorizar, precisa valer mais”, diz o agricultor Eliézer Goulart.
Além do preço, outra preocupação por aqui é com a cobertura do solo nas próximas safras. Como a palha do milho deve ser rara no ano que vem, dada a redução de área plantada, o produtor vai ter que buscar outras alternativas para cobertura do solo.
“Quem não conseguir plantar o milho, terá outras alternativas. A braquiária, feijão caupi, sorgo, milheto. O produtor não vai deixar o solo descoberto, tem que buscar uma outra maneira de deixar o solo protegido”, conta Goulart.
Essa pequena mudança na dinâmica do plantio na região também é positiva. Segundo o consultor do Projeto Soja Brasil, Áureo Lantmann, a rotação de culturas beneficia o produtor porque evita o aparecimento de nematóides nas lavouras, por exemplo.
“Sabemos que a sucessão de culturas soja-milho favorece muito a incidência dos nematóides. Só há um jeito de quebrar essa população: semear uma leguminosa de inverno, que é a crotalária. Ela consegue baixar muito a população de nematóides. Então, de repente, essa situação é uma oportunidade para o agricultor tentar diminuir este problema na região”, afirma.