Na última semana, o preço médio da raiz, considerando-se oito regiões acompanhadas pelo Cepea nos estados de Santa Catarina, Paraná, São Paulo e Mato Grosso do Sul, foi de R$ 343,15 por tonelada, média 36% acima da registrada em igual período de 2011. Nas mesmas regiões, o preço médio da fécula de mandioca foi de R$ 1.956,95 por tonelada (a retirar na indústria), 45% superior ao de um ano atrás. A farinha de mandioca, considerando-se a média de cinco regiões nos estados de São Paulo, Paraná e Santa Catarina, foi comercializada a R$ 76,27 por saca de 50 quilos na última semana, avanço de 66% sobre igual semana de 2011.
Pesquisadores do Cepea destacam que o principal motivo dessas valorizações é a seca no Nordeste, maior região produtora da raiz. Conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a área cultivada teve ligeiro aumento na safra 2011/12, mas a produtividade das lavouras nordestinas está 14% menor que a da temporada anterior. Com isso, a oferta de raiz na região diminuiu 12,3%. No Paraná, segundo maior produtor, a safra também teve pequena queda; já São Paulo, teve expansão de área e de produtividade. No agregado, a oferta nacional deve totalizar 24,3 milhões de toneladas, 3,8% abaixo do obtido em 2011.
Diante da menor produção nordestina, agentes daquela região passaram a adquirir farinha de mandioca nos estados do Centro-Sul, aumentando significativamente a demanda pelo produto do Paraná e de São Paulo. Com isso, explicam pesquisadores do Cepea, foi acirrada a disputa pelo produto com a indústria de fécula que, até outubro, processou quantidade de mandioca 6,3% inferior à do mesmo período de 2011. Consequentemente, os preços da raiz subiram expressivamente em todas as regiões consultadas pelo Cepea.
Nos dois últimos anos, diferentemente do que se vê neste semestre, as cotações estiveram relativamente estáveis, comentam pesquisadores do Cepea, e isso atraiu novos consumidores para o mercado de fécula de mandioca. A atual escassez de oferta pegou de surpresa agentes do setor, principalmente consumidores de fécula, como frigoríficos, indústrias de papel e atacadistas que consideravam estáveis os estoques do derivado.
Na avaliação de pesquisadores do Cepea, esse quadro é bastante negativo para o setor. Desestimula consumidores atuais e também aqueles que poderiam vir a adaptar suas estruturas industriais à fécula. Por outro lado, o mercado de amido de milho, principal concorrente da fécula de mandioca, é diretamente beneficiado. E, segundo os pesquisadores, tem aumentado o número de empresas ofertantes de amido de milho no Brasil.
No próprio setor da mandioca, os atuais preços altos têm beneficiado basicamente as farinheiras. Mesmo pagando mais pela matéria-prima, essas empresas têm conseguido reajustar consideravelmente seus preços. O consumo no Nordeste, que é o grande consumidor de farinha de mandioca, segundo pesquisas do Cepea, não tem diminuído, indicando ser bastante baixa a elasticidade de preço deste produto.
Já o segmento industrial produtor de fécula de mandioca registra elevada ociosidade e dificuldade para reajustar os preços de venda dada a concorrência com amido de milho. Conforme levantamentos do Cepea, entre janeiro e outubro deste ano, a produção de fécula foi 9,2% menor que a do mesmo período de 2011.
Para produtores da raiz, os preços atuais são atraentes, mas são poucos os que têm roças em ponto ideal de colheita, mandiocal a partir de nove meses. Por esse motivo, em algumas regiões, produtores intensificaram a colheita de raízes com cerca de sete meses. Trata-se de produto com baixos rendimentos agrícola (toneladas por hectare) e industrial (pouco amido). Como consequência desta oferta antecipada, pode-se antever que a oferta no primeiro trimestre de 2013 deverá ser bem enxuta, alertam os pesquisadores.
No campo, é preciso considerar ainda a forte competitividade que grãos têm apresentado, superando a da mandioca mesmo com os preços atuais. Por esse motivo, pesquisadores do Cepea avaliam que, na maioria das regiões, produtores devem diminuir a área. No Nordeste, pesa ainda a escassez de material de plantio.
Apesar de ter chovido nas duas últimas semanas em algumas regiões do Nordeste, pesquisadores do Cepea avaliam ser preciso, pelo menos, mais um semestre para que as lavouras comecem a se recuperar. Como resultado, é de se esperar que os preços continuem em patamares elevados, mas possivelmente menores que os atuais, segundo o Cepea.