Nexta sexta, dia 8, a rodovia Cônego Domênico Rangoni, no município de Cubatão (SP), chegou a registrar um congestionamento de 21 quilômetros de extensão, composto por caminhões que se dirigem à margem esquerda do Porto de Santos. De acordo com a Ecovias, concessionária que administra não só as estradas do Sistema Anchieta/Imigrantes, mas todas as suas interligações, a situação vai continuar crítica, enquanto os caminhões carregados de milho e de soja estiveram trazendo grãos para exportação.
– A espera é mais cansativa que a viagem, você não dorme, não descansa, não tem banheiro, não tem água. É praticamente o fim do mundo – reclama o motorista Everton Pereira.
A fila de espera é longa, são inúmeros caminhões que chegam das principais regiões produtoras de grãos do país. Antes de descarregar os granéis, todos precisam passar pela triagem. Toda organização inicial é feita no ecopátio, local que já opera com capacidade máxima, o que gera uma demora acima do normal, além de prejuízo. As primeiras seis horas custam R$ 35,00. Depois, são cobrados R$ 2,50 por cada hora que o caminhão fique dentro do pátio.
O motorista Rodrigo Gonçalves afirma que a espera até o porto demora, em média, 14 horas. Alguns transportadores chegam a aguardar seis dias. É o caso de Cristiano Rosa, de Rondonópolis (MT):
– É muito tempo e, se a gente não produzir, é comissionado, aí pega essa fila ainda periga ser assaltado. Também não tem um banheiro daqui para lá – lamenta.
Já José Aparecido Lopes reclama da falta de informação dada aos motoristas, que não recebem nem previsão de quando poderão liberar a carga. Depois do processo de triagem dentro do pátio, os motoristas são liberados e iniciam a etapa mais complicada de todas, que é o trajeto até os terminais. Sem alternativa e transportando a produção, os motoristas andam muito pouco e esperam horas para chegar ao destino.
– O escoamento é feito pelos porto de Guarujá e Santos, em São Paulo, mas não há estrutura e condição para receber tanto movimento. Isso que o pico da safra nem começou ainda – diz o motorista Fabiano Guellin.
O caos logístico há muito é anunciado por analistas e representantes do setor agrícola. A supersafra de grãos combinada com a falta de infraestrutura nas estradas e a burocracia nos portos resulta em transtornos e prejudica o tráfego urbano das cidades vizinhas dos portos. O Polo Industrial de Cubatão acabou sofrendo sérios danos, com um acidente na madrugada de quinta, dia 7, e atraso na troca de turnos dos trabalhadores, que levaram quase duas horas para chegar aos seus postos de serviço, em diversas indústrias.
Para amenizar a situação, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), assinou decreto, declarando de utilidade pública, uma área de 1.030 metros quadrados para alargamento da rodovia, a curto prazo. A terceira faixa seria construída na área do polo de Cubatão, entre os quilômetros 262 e 269. Os serviços de sondagem de solo e limpeza do terreno já começaram na região para a instalação de 16 quilômetros de pista. A obra deverá ser concluída em meados do ano que vem.
Para o especialista em agronegócio e energia, Marcos Jank, ex-presidente da União da Indústria de Cana de Açúcar (Unica), o caos logístico no Brasil já vem se evidenciando desde o ano passado, com a safra recorde de grãos no país e a constatação de que os portos e seus acessos encontram-se despreparados para receber tal concentração de cargas. De acordo com Jank, os congestionamentos aumentam em direção ao Porto de Santos, porque 86% da safra proveniente do cerrado brasileiro vêm sendo escoados pelos portos das regiões Sul e Sudeste. Apenas 14% da safra são encaminhados para os portos da região norte.
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