Um dos principais insumos para a safra de soja, foi tema principal do Fórum Soja Brasil, que aconteceu nesta sexta-feira, dia 5, na feira Exposoja, em Abelardo Luz (SC): as sementes. Durante a roda de conversa que contou com renomados especialistas, o debate tratou sobre a qualidade, a produtividade e o mal que a pirataria causa para a pesquisa de novas variedades.
Antes de mais nada, vale ressaltar que Abelardo Luz (SC) não foi escolhido à toa para tratar do tema, afinal o município é considerado a capital nacional da semente de soja. O mediador do debate foi o professor e comentarista do Canal Rural, Dejalma Zimmer, que abriu os trabalhos mostrando um estudo recente sobre a diferença entre o desenvolvimento normal de uma semente de qualidade e de insumos que sofreram algum problema em sua produção.
Estudo
O estudo realizado pelo professor Zimmer e uma equipe de alunos mostra sementes que tiveram problemas na mecanização, umidade, percevejo e cercospora (mancha foliar), comparando a uma de boa qualidade. A pesquisa revela que as raízes de plantas já estruturadas, “não recuperaram os problemas iniciais, como muitos produtores acreditam ser possível”, explica Zimmer.
A conta final mostrou que a semente de qualidade rendeu 237 vagens, a com cercospora rendeu 168 vagens, com percevejos 77 vagens, com umidade 67 e por fim, com problema de mecanização com 42 vagens. Isso significa que o pior dos casos rendeu 80% menos vagens que a semente de qualidade.
“Por isso não adianta não investir em uma semente ruim. É mito que a soja que consegue sair da terra, compensará a baixa capacidade fisiológica com o passar do tempo. E por isso aqueles problemas iniciais persistiram até o final”, comentou Zimmer. “Raízes exploram, folhas transformam e o conjunto produz.”
Qualidade
Um dos primeiros itens sobre as sementes que entrou na roda de conversa foi sobre a qualidade das sementes. Segundo o ex fiscal federal do Ministério da Agricultura, na área de sementes, Adi Mário Zanuzzo, já está provado que o uso de sementes sem qualidade não é vantajoso em nenhum aspecto, muito menos de qualidade.
“Trabalhei durante 36 anos com o setor sementeiro, e já foi mais do que provado que esse negócio de usar semente de baixa qualidade não é bom negócio. O agricultor pode optar pelo benefício da qualidade. Mas ainda hoje colhe menos de 50 sacas por hectare, mesmo com toda a tecnologia existente, é um absurdo”, comenta Zanuzzo.
O presidente do Núcleo de Sementeiros da Abelardo Luz (SC) e produtor rural, José Vogel, comenta que o produtor precisa parar de comprar sementes por preço. “Existe todo tipo de insumo no mercado e arriscar comprando algo ruim, afeta a rentabilidade. Tenho certeza que o produtor que colhe menos de 50 sacas por hectare está com os dias contados”, afirma.
O pesquisador Embrapa Soja Ademir Henning, presente na roda de conversa, não foi escolhido à toa, afinal ele foi um dos responsáveis pelas primeiras recomendações técnicas para o tratamento de sementes no país. Sem falar nos inúmeros estudos para criação de variedades adaptadas para cada região.
“O uso de sementes de qualidade permite que a lavoura tenha um ótimo desempenho e produtividade durante a safra. Não adianta ter uma semente ruim e achar que o tratamento com defensivos irá ajudar”, afirma Henning.
Produtividade e padrão
A produtividade está diretamente ligada à qualidade, comenta Vogel e com ela vem a rentabilidade. “Aqui no nosso município, todo ano elevamos a produtividade, pois apostamos em qualidade. Este ano elevamos a produtividade média em 5 sacas por hectare a média”, diz.
Um dos questionamentos que vieram da plateia indagava os participantes sobre o porque de o ministério ainda focar apenas na germinação e não no vigor das sementes.
“Para não rebaixar uma semente que sofreu com o clima em algum estado, até porque não teríamos sementes de alto vigor para abastecer todo o país. Ainda não existe uma metodologia que seja viável e homogênea para todo o país. O vigor varia muito conforme a armazenagem e o clima. Então foi decidido deixar o vigor de fora. Mas o produtor pode exigir para sua produção esse vigor, isso trará ótimos resultados”, explicou o ex fiscal federal do Ministério da Agricultura.
Pirataria
O tema também ganhou destaque por se tratar de algo problemático para garantir a qualidade das lavouras. Segundo o presidente da Abrasem, a pirataria desestrutura o trabalho de pesquisa. “A partir do momento que não se recolhe royalties, para reinvestir em pesquisas e descobertas de novas variedades, é tirado o poder de reação frente a novas doenças e dificuldades e isso trará um prejuízo grave. Sem falar na baixa qualidade e falta de garantias para o produtor”, diz Américo Rodrigues.
“Pirataria também gera sonegação de impostos. Há três anos discutimos a atualização de nossa lei de proteção de cultivares, que até agora não serviram de nada e que estão atrasando nosso desenvolvimento. Foram discussões sem mediação do Mapa e de órgão especializados”, comentou Rodrigues.
Uma pergunta da plateia, indagou o ex Fiscal Federal do Mapa, Adi Mário Zanuzzo, sobre o que limita a fiscalização dessas sementes piratas. “É um problema cultural. Não sabemos onde eles estão. Precisamos receber denúncias para encontrá-los, afinal o Ministério não tem capilaridade para fiscalizar o país todos. O produtor que compra sementes sem certificado está contribuindo pra isso”, afirma.