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Será que o plantio cruzado da soja vale mesmo a pena?

Pesquisa da Embrapa testou esse método por quatro anos,  em várias regiões e com cultivares diversas, para saber se a técnica realmente tem efeito sobre a produtividade

Os produtores certamente já ouviram alguém falar sobre mudanças no modo de plantar a soja – como diferentes espaçamentos, adensamento e por aí vai. Um desses métodos alternativos, o plantio cruzado, virou quase uma lenda no campos, com relatos de que o procedimento aumentava muito a produtividade e economizava fertilizantes e agroquímicos. Será que isso é verdade?

A distribuição espacial das plantas de soja na lavoura afeta a competição por água, nutrientes e luz, o que determina a produção por planta e, consequentemente, a produtividade por área. O plantio cruzado nada mais é que uma operação de semeadura, seguida de outra semeadura, perpendicular à primeira.

Este método surgiu no Brasil pela observação dos arremates dos talhões de soja, onde algumas linhas se cruzavam e formavam um “xadrez”. Alguns produtores começaram a observar essa situação e resolveram fazer testes nas propriedades. Essa técnica foi usada por alguns ganhadores do concurso de produtividade promovido pelo Comitê Estratégico Soja Brasil (Cesb). A hipótese de que o plantio cruzado aumentaria a produtividade se baseia na melhor distribuição espacial das plantas, o que reduziria a competição e, com isso, aumentaria a produção de grãos por planta.

A Embrapa, juntamente com instituições parceiras, realizou um projeto de pesquisa sobre plantio cruzado nos últimos quatro anos, testando regiões, cultivares (com diferentes arquiteturas de plantas), épocas de semeadura, população de plantas e níveis de fertilidade.

Em geral, não foram observados ganhos de produtividade de grãos com o uso da técnica. “Nesse contexto, o plantio cruzado na cultura da soja apresentou menor rentabilidade em relação à semeadura usual, não sendo uma técnica indicada pela pesquisa”, afirma o pesquisador da Embrapa Soja Alvadi Antonio Balbinot Júnior.

Além disso, é necessário considerar que essa técnica apresenta várias desvantagens, de acordo com a Embrapa:

– Maior dispêndio de horas-máquina para realização da semeadura;

– Maior gasto de combustível e, consequentemente, maior emissão de gases de efeito estufa;

– Para a semeadura de áreas grandes, dentro dos períodos indicados pelo zoneamento agrícola, o investimento em máquinas necessitaria ser intensificado, elevando expressivamente o capital imobilizado. Esse problema se intensifica em regiões onde é realizado o cultivo de milho segunda safra, em que o atraso na semeadura da soja pode inviabilizar ou elevar o risco do cereal em sucessão;

– O plantio cruzado praticamente não tem como ser realizado em áreas declivosas, em razão da presença de terraços;

– Há maior compactação do solo em função do aumento de tráfego de tratores e semeadoras, bem como maior mobilização do solo, aumentando a erosão e a emergência de plantas daninhas;

– A deposição de sementes da primeira operação de semeadura é prejudica pela segunda passagem da semeadora e, em alguns casos, a primeira semeadura forma ondulações no terreno, prejudicando a plantabilidade da segunda passagem da semeadora;

– Na presença de grande quantidade de palha, ocorre aumento do embuchamento na semeadora durante a segunda operação de semeadura.

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